Existências Negras

11/01/2023

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As culturas negras nos indicam que o cuidado é uma arte, enquanto preocupação com a vida e um valor fundamental para todos os seres humanos. A atividade de cuidar é entendida por muitos povos africanos como uma das mais importantes responsabilidades divididas pela comunidade.

Kindezi, para o povo Bântu, trata-se da habilidade africana de zelar pela vida de bebês e crianças, assim como de seu ambiente. Esta cultura valoriza o cuidar e o entende no seu caráter processual, no qual se descobre sua complexidade, onde enfatiza a continuidade intergeracional, envolvendo jovens, pessoas adultas e anciãs, cuidadoras de crianças, na formação de valores e transmissão de responsabilidade mútua.

No entanto, diferentemente de toda essa beleza trazida pela palavra kindezi, atualmente em nosso país, onde a maior parte da população é negra, muitas mães, pais, profissionais e pessoas responsáveis pelos cuidados de crianças da primeira infância não conseguem dispor de tempo e de cuidados mais específicos, nem para os seus, nem para si. Para proteger a primeiríssima e primeira infância, enquanto prioridade absoluta, de acordo com o artigo 227 da Constituição Brasileira, é necessário o olhar atento e acolhedor da pessoa cuidadora.

As situações de julgamento, preconceitos, limitação de direitos, exposição às dificuldades e sobrecargas de diferentes ordens, além de experiências de solidão e desamparo, acabam impactando a qualidade de vida dessas pessoas, que inclusive, veem suas vidas e vivências atreladas a dependência de suas crianças, de uma forma geral. O trabalho de cuidado ainda é muito invisibilizado para a efetivação de direitos e de políticas públicas intersetoriais.

Além disso, segundo pesquisas, essas são as pessoas mais afetadas pela pandemia no que se refere à mortalidade, ao desemprego e à saúde mental, principalmente as mulheres negras, por conta das desigualdades raciais e de gênero.

Assim, a 5ª edição da ação Cuidar de Quem Cuida traz como tema as Existências Negras, tendo como cerne ações, programas, atores sociais e instituições que favoreçam a expressão de potencialidades dessas existências, no sentido de buscar equidade na atenção de cuidadoras e cuidadores da primeira infância, assim como promover condições de vida saudável e bem-estar que possam ser refletidos no ato de cuidar, tais como: alívio de sobrecargas, saúde integral, aprendizagens da pandemia e qualidade de vida. 

Nessa edição, o foco é no racismo estrutural e nas interseccionalidades que são os marcadores como a cor da pele, a condição social e a identidade de gênero que afetam material e simbolicamente pessoas cuidadoras de bebês e crianças na primeira infância, refletindo-se em uma série de exclusões e privações, assim como na convivência com uma experiência de estresse crônico e traumas entre gerações que podem impactar seus modos de cuidar e sua qualidade de vida.

A ação acontece de setembro de 2022 a março de 2023, de forma presencial e online, nas unidades do Sesc São Paulo.

Com a preocupação de manter assuntos atuais e contemporâneos que dialogam com as necessidades de pessoas cuidadoras de crianças da primeira infância, nas edições anteriores a Ação Cuidar de Quem Cuida trouxe os seguintes temas, respectivamente: Paternidades, Maternidades, Redes de Apoio e Cuidados e Políticas Públicas. Veja mais aqui ou acesse: sescsp.org.br/cuidardequemcuida.

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Para saber mais sobre o assunto

Dossiê infâncias e Covid-19: os impactos da gestão da pandemia sobre crianças e adolescentes

Por uma educação antirracista – minissérie

Núcleo Ciência Pela Infância – Racismo, Educação Infantil e Desenvolvimento na Primeira Infância

A arte Kôngo de cuidar de crianças – por K. Kia Bunseki Fu Kiau e A.M. Lukondo-Wamba, Kindezi

O bem viver e a radicalidade do sonhar – por Juliana Gonçalves

Constituição Federal de 1988 – Artigo 227


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