Roberto Bolaño foi daqueles escritores que fez da literatura um campo de combate. O poeta chileno construiu uma obra atravessada pela inquietação, pela busca incessante de sentido, mesmo que no vazio.

A partir de fragmentos de sua vida e de sua obra, o espetáculo Deserto, com dramaturgia e direção de Luiz Felipe Reis e atuação de Renato Livera, estreia sua temporada paulistana no Sesc Santana, de 18 de julho a 17 de agosto, com sessões às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 18h.

Primeira criação teatral brasileira inspirada na escrita e nas memórias de Bolaño, Deserto não é uma biografia no sentido tradicional. É antes um mergulho, por vezes febril, por vezes silencioso, na mente e no corpo de um artista diante do mundo. Um mundo em colapso, onde a violência, o lucro e o desamparo ditam as regras do jogo. A cena, aqui, se faz ponto de resistência.

Reconhecido por obras como Os detetives selvagens e 2666, Bolaño passou seus últimos anos convivendo com uma grave doença hepática, ao mesmo tempo em que escrevia com urgência e lucidez impressionantes. Essa tensão entre fim e criação é o ponto de partida para o espetáculo, que não apenas revisita sua trajetória, mas propõe uma pergunta que também nos atravessa: qual o papel do artista e da criação poética em meio à violência do mundo contemporâneo?

A peça constrói um território cênico em que literatura, poesia, música e vídeo se entrelaçam. Com indicações aos prêmios Shell e APTR nas categorias de melhor ator, direção e dramaturgia, o monólogo que desafia a forma e a linguagem encontrou no corpo e na voz de Renato Livera uma presença potente, inquieta e generosa. Livera, ator com passagens marcantes pelo teatro, cinema e televisão, se coloca em diálogo íntimo com o universo de Bolaño, abrindo espaço para que o público também se reconheça nessa travessia.

Ao mesmo tempo pessoal e político, o texto costura poemas, crônicas, entrevistas e trechos de romances, e nos apresenta um Bolaño atravessado por questões como a desigualdade, o autoritarismo, o machismo, o capitalismo tardio e a condição do artista no mundo contemporâneo. É, também, um reencontro com a América Latina, sua história, seus traumas e sua resistência.

Serviço

Espetáculo: Deserto
Local: Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo.  
Temporada: de 18 de julho a 17 de agosto. Sextas e sábados às 20h. Domingos às 18h.  Sessão extra no dia 15/8, sexta-feira, às 15h, com entrada gratuita exclusivamente para pessoas a partir de sessenta anos. Todas as sessões, exceto dia 18, 19 e 20/7, com Libras e Audiodescrição.
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 90 minutos
Ingressos: nas bilheterias da Rede Sesc SP, aplicativo Credencial Sesc SP e no site do Sesc Santana