
Estação São Bento: Marcos Telesforo, Fernando, DJ Hum, Thaíde, Who e Marcelo (1987 ou 1988)
Foto: Sérgio Amaral/Estadão Conteúdo
Acervo com mais de 3 mil peças resgata memórias do Hip-Hop paulista em instalações que convertem história em dança, som e movimentos e traduzem a linguagem da rua para uma geração pós-digital.
Quarenta anos após o início pulsante do Hip-Hop nas ruas de São Paulo, sua batida original ressurge no Sesc 24 de Maio como memória viva e afirmação cultural. A exposição HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break, aberta para visitação de 24 de julho de 2025 a 29 de março de 2026, convida o público para uma jornada que devolve à cidade gestos, sons e imagens de uma geração que criou com poucos recursos e máxima potência. Sob curadoria coletiva e com mais de 3 mil peças reunidas de forma inédita, a mostra reconstrói a revolução urbana que transformou inúmeros pontos da cidade em palcos de resistência – entre eles a estação São Bento, a Praça Roosevelt, o Parque Ibirapuera e a famosa esquina da 24 de Maio com a Dom José de Barros, onde está localizado o Sesc 24 de Maio, que sedia a exposição.

Grupo Feminino: Buffalo Girls e Funk Cia, Rua 24 de Maio (1984)
Foto: Orlando Brito/Abril Comunicações S.A
HIP-HOP 80’sp tem idealização e curadoria compartilhada por vozes e testemunhas da cena, como OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay (DJ histórico dos Racionais MC’s), Thaíde, as pioneiras Sharylaine e Rose MC e o b-boy ALAM Beat. “Fizemos um recorte específico, um resgate histórico em prol da preservação da memória”, defende os curadores. “A ênfase está na importância de mostrar às novas gerações como a cultura do Hip-Hop surgiu e se enraizou em São Paulo”, completam.
As mais de 3 mil peças apresentadas são oriundas de coleções pessoais, como a do Nelson Triunfo, Billy, Pierre, Ricardinho e Renilson do grupo Electric Boogies, além de acervos históricos nacionais e internacionais, incluindo registros inéditos da fotógrafa Martha Cooper – que documentou o nascimento do Hip-Hop em Nova York –, o documentário Style Wars (1983) de Henry Chalfant, obra fundamental sobre a cultura Hip-Hop, e gravações exclusivas do artista visual Michael Holman, que imortalizou as primeiras batalhas de break. Somam-se a essas relíquias equipamentos de som originais, flyers de bailes black, roupas de época, colaborações do Museum of Graffiti (Miami) e outros objetos que testemunham uma era em que o improviso se reafirmou como linguagem criativa.
Apesar de reconhecer a dimensão política da cultura Hip-Hop, a exposição enfatiza seu aspecto lúdico e coletivo, como ferramenta de expressão nos últimos anos de ditadura militar. “Fizemos Hip-Hop sem saber que fazíamos Hip-Hop. Era expressão de liberdade, resistência, diversão e sobrevivência”, lembra Gustavo Pandolfo, d’OSGEMEOS. Rooneyoyo O Guardião completa: “Essa cultura nos salvou. Criou um lugar para a gente sonhar”. Gustavo destaca ainda o caráter singular do Hip-Hop brasileiro, que nasceu da escassez e se moldou com criatividade, a arte que o brasileiro tem do improviso: roupas que simulavam grifes, sons que misturavam múltiplas camadas, repente, capoeira e soul. “Foi uma resposta estética inventiva e inconfundível”, reforça o artista.
Figura marcante do Hip-Hop paulistano dos anos 1980, Rooneyoyo O Guardião reúne memória viva, pesquisa de campo e articulação comunitária. Ao lado de amigos, ele percorreu arquivos pessoais, reconectou trajetórias e garantiu a presença de vozes e objetos essenciais para a reconstrução da narrativa na mostra, ajudando a transformá-la em uma homenagem legítima e pulsante à cultura que emergiu das ruas.

Sharylaine e DJ Quetry (1989) Foto: acervo pessoal Sharylaine
A presença das mulheres na cena do Hip-Hop nem sempre foi como hoje. Muitas barreiras foram rompidas por artistas que ajudaram a construir essa cultura desde suas raízes — como Sharylaine e Rose MC, nomes presentes na equipe curatorial de HIP-HOP 80’sp. Reconhecida como uma das primeiras-damas do rap nacional, Sharylaine fundou o grupo RAP Girls e segue ativa com uma trajetória marcada por lirismo e militância: “O Hip-Hop é a minha religião. A rima é minha oração.” Já Rose MC se define como “uma das pioneiras no Hip-Hop, B.Girl, rapper e mulher da cultura de rua”, expressando em sua própria trajetória o enraizamento e a longevidade dessa presença feminina na cultura urbana.
Origem da origem
O termo “Hip-Hop” tem raízes linguísticas antigas, derivadas de onomatopeias que remetem a movimento e dança. A expressão foi cunhada no final dos anos 1970 por artistas que incorporaram a cadência do “Hip Hop/Hip Hop” nas performances de palco, como os rappers Cowboy e Lovebug Starski.
Nos Estados Unidos a cultura se espalhou organicamente a partir do sul do Bronx, transbordando para o Brooklyn, Queens e Manhattan. Impulsionado pela televisão e pela cultura pop, o Hip-Hop chegou ao Brasil de forma pulverizada e fascinante – em videoclipes, novelas, videocassetes e imagens que pareciam vir de outro mundo. Apesar da gênese paulistana enfatizada na exposição, a cultura alcançou também outros estados.
HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break valoriza os pilares da cultura – DJ, MC, Graffiti, Breaking, além de todo o conhecimento – em diálogo com pontos de efervescência cultural da cidade, onde jovens encontraram formas de reivindicar sua presença por meio da arte.
A exposição simula uma linha de metrô, com percurso sugerido ao visitante, passando pelo Bronx e as gangues nos EUA (anos 70), a fotografia de Martha Cooper, o cinema de Michael Holman e Henry Chalfant, a cultura dos DJ’s, a chegada do break ao Brasil, a influência dos filmes (Beat Street, Breakin’ etc) e, finalmente, a Estação São Bento: o epicentro do Hip-Hop paulistano. O visitante também recebe informações sobre Graffiti, antes e depois do Hip-Hop, percorre instalações tecnológicas e poderá conhecer peças nunca exibidas em uma exposição. Há ainda um vagão educativo, que funciona como sala de mediação e imersão.
SERVIÇO:
Exposição: HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break
Curadoria: OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay, Thaíde, Sharylaine, ALAM Beat e Rose MC
Período expositivo: 24 de julho de 2025 a 29 de março de 2026
Horário de funcionamento: terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h
Local: Sesc 24 de Maio – Rua 24 de Maio, 109 – República, São Paulo (SP)
Classificação Livre | Entrada gratuita
Confira a programação aqui: HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break
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