A beleza do encontro

16/08/2017

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Foto: Thais Borges

30 anos. 10.950 dias. 262.800 horas. Uma quantidade incomensurável de sorrisos levados a crianças com idades entre sete e doze anos. Completando três décadas de existência neste mês, o Curumim é um programa de educação não formal do Sesc, realizado no estado de São Paulo. Por meio de encontros semanais repletos de brincadeiras, passeios, atividades culturais e esportivas, o projeto tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da autonomia, afetividade, cooperação, senso crítico, cidadania e respeito pelo próximo – além de promover o bem estar das crianças participantes.

Em funcionamento no Sesc Belenzinho desde a inauguração (que aconteceu em 2010), o Curumim é visto com unanimidade pelos educadores da unidade como um espaço de exercício da alteridade. Formado por uma equipe heterogênea e capacitada, o programa é uma maneira de respeitar “a beleza do encontro”, como declara Regina Marques, supervisora de programação. “Os povos árabes celebram o encontro dizendo que ‘seus olhos sejam atendidos’. Isso é um bom jeito de pensar o que é o Curumim para nós do Belenzinho”, arremata a programadora.

Assim como Regina, o programador Edison Eugênio — que é apenas dois meses mais novo que o Curumim — revela que para ele uma das características mais marcantes do programa é a capacidade de promover encontros entre as pessoas. “Meu primeiro contato mais direto com o Sesc se deu por meio do Curumim, quando fui estagiário  de exposições no Sesc Pompeia”, ele diz. “Depois eu entrei efetivamente no Sesc como instrutor do Curumim, lá em Interlagos. Já aqui [no Belenzinho], meu papel é trazer sempre um olhar de fora, que provoca e que tenta colocar alguma coisa de novo que possa contribuir com o projeto. É um lado muito bacana de aprendizagem e isso me coloca sempre em movimento.”

Para Ana Lúcia Garbin, da programação do Núcleo Socioeducativo, o Curumim é um dos programas mais significativos do Sesc. “Ele traz o frescor da relação dos educadores e dos adultos com as crianças e com as família”, diz. Para ela, que já participou do programa anteriormente na unidade Pompeia, é importante que tais vínculos sejam construídos e exercitados diariamente. Dessa forma, o programa assume a responsabilidade de exercer uma mediação dos possíveis conflitos existentes na formação educativa das crianças. “Eu me lembro de experiências incríveis com a equipe trabalhando junto à família por causa de conflitos e dificuldades que às vezes as crianças trazem.”

O Curumim é uma via de duas mãos: ao mesmo tempo em que transforma as crianças que participam dele, o programa também afeta os educadores. O instrutor de atividades infantojuvenis Felipe Silva é um deles. Há três anos e meio no Sesc, ele revela nunca ter se imaginado trabalhando com crianças em algum momento da vida dele. “Quando cheguei [no Sesc], eu fui muito chacoalhado e entendi que educação poderia ser algo diferente”, declara. “O Curumim é isso: respeitar os tempos das crianças, do brincar. É também o espaço em que pude exercer a minha alteridade e meu autoconhecimento.”

A instrutora Denise Oliveira, que está no Sesc Belenzinho desde abril de 2011, também ressalta na fala dela o aspecto transformador do Curumim. Ela afirma que trabalhar com educação é uma maneira de “se colocar em diversos lugares ao mesmo tempo” e de “se rever o tempo inteiro”. “Uma experiência que me marcou muito foi quando fomos com as crianças visitar uma aldeia indígena, lá em Parelheiros”, ela recorda. “Eu estava preocupada em relação a como iríamos mediar o encontro, porque são crianças que vêm de realidades muito diferentes. Lá, as crianças têm muita dificuldade financeira, são vulneráveis socialmente, ao contrário das crianças do Curumim. Mas no fim das contas não precisou de mediação nenhuma, porque a troca entre eles foi muito marcante.”

Há 30 anos, o programa Curumim aflora as inúmeras potencialidades dos “curumins”, além de funcionar como ferramenta que exercita a alteridade dos educadores envolvidos no projeto. Por meio de uma troca mútua de experiências, que se dá na espontaneidade do brincar, é possível entender a vida como um processo contínuo de transformações. É possível, dessa forma, compreender que a criança traz dentro dela uma adultidade latente, enquanto o adulto guarda em si a lembrança da infância. 

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