A memória do patrimônio cultural Brasil-África

08/09/2022

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por Taís Ribeiro

Nos dias 14, 15 e 16 de setembro acontece o Ciclo de Conversas Lugares de Memória Negro-Indígena, idealizado pelo Instituto Tebas e realizado pelo Sesc São Paulo, Instituto CPBrazil e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, com apoio do Centro Universitário Maria Antônia. O evento tem como objetivo produzir subsídios teóricos, práticos e debater a importância da construção de um inventário de memória negro-indígena.

Com intuito de apresentar e catalogar Sítios de Memória da Diáspora, por meio de pesquisa das Comunidades Negras Tradicionais e Indígenas, busca-se demonstrar como esses povos e seus descendentes se fazem presentes na construção da cultura e sociedade brasileira, explorando temas como arte, gastronomia, religiosidade, economia, entre outras informações.

Serão três dias que reunirão profissionais do mundo acadêmico, artistas, estudantes, ativistas e público em geral interessado em refletir sobre o patrimônio cultural dos povos originários do Brasil e da África.

O Ciclo de Conversas terá seis mesas e cada uma delas será antecedida por uma intervenção que contribuirá para a discussão. Nos dias 14 e 15, as mesas ocorrem no Teatro Anchieta (Sesc Consolação) e no dia 16, será no Salão Nobre do Centro Universitário Maria Antônia. As inscrições podem ser realizadas aqui .

Memória Negro-Indígena

Essa retomada é necessária para ampliar os resultados produzidos pelo Inventário dos Lugares de Memória do tráfico atlântico de escravos e da história dos africanos escravizados no Brasil. 

O inventário foi organizado pelo Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI), da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade, da UNESCO. Como resultado dessa primeira construção de memórias outros sinais foram observados, como a necessidade de realização de algo maior e aprofundado. 

Com o Ciclo de Conversas Lugares de Memória Negro-Indígena, desde o início procurou-se elaborar um evento que enfrentasse o desafio de diversificar os olhares para o tema, trazendo não só profissionais desse campo de pesquisa, mas também as pessoas que detém as memórias em questão e intervenções que discutem a temática por meio da linguagem artística.

Na cidade de São Paulo

Com 466 lugares de memória inventariados pela prefeitura de São Paulo, por meio do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), da Secretaria da Cultura, no âmbito do programa Inventário Memória Paulistana, 60 lugares estão ligados à memória negra e indígena na cidade de São Paulo.


PROGRAMAÇÃO

Intervenções

Dia 14/09

Intervenção Performática: “Demarcação dos Territórios Ancestrais”

Em 2011, no Congresso Universal das Raças, realizado em Londres, o estado brasileiro decretou que em 100 anos os indígenas e os negros seriam extintos da população brasileira; e apenas através do atavismo seria possível reconhecer essas origens longínquas já apagadas.

“Demarcação dos Territórios ancestrais” é uma intervenção cênica que reflete sobre como essa política de Estado, ainda hoje, age sobre nossos corpos. Que todo e qualquer ato de racismo praticado em nossos tempos é reflexo de um programa deliberadamente genocida financiado pela União e validado pelas mais diversas instituições.

Arte de divulgação

Intervenção Cênica: Abertura de Processo “Casa de Fayola

A dramaturgia do espetáculo “Casa de Fayola” é baseada no conto homônimo de Abílio Ferreira, publicado originalmente no 8º Caderno Negro1 (1985). O conto narra a história conflituosa de Fayola e Alexandre, um casal negro que vive na Vila Itororó.

A Vila Itororó é um conjunto de casas no bairro do Bixiga, histórico bairro negro na região central de São Paulo. O Impulso Coletivo atua na Vila desde 2008, tendo criado “Cidade Submersa” (2010), sua primeira peça no mesmo local junto aos moradores da Vila Itororó, que lutavam para permanecer lá.

Imagem de divulgação “Casa de Fayola” (Foto: Natália Pilati)

Dia 15/09

Intervenção Musical: Aloysio Letra e Oderiê

Levante sensível das musicalidades, memórias e ancestralidades de pessoas origináries e negras. Oderiê, cantore, artista multimídia, não-binárie funde sua new soul e música indígena contemporânea às interpretações sensíveis e ancestralidades afro-brasileiras de Aloysio Letra, que acalanta com sua MPB sambada e temperada.

Um encontro sonoro e de oralidades contra hegemônicas de Rio Grande do Sul e São Paulo, territórios que quiseram apagar pessoas não-brancas e falharam, assim como falhou todo projeto da branquitude colonial “brasileira”.

Dois artistes que cantam e performam denúncias anticoloniais, anti-transfóbicas e antirracistas, que afirmam as poéticas presenças e as potências de povos origináries e negres, rumo a novas manhãs possíveis e potentes para todes.

Imagem de divulgação Aloysio Letra e Oderiê (Foto: Joyce Prado/Oxalá Produções)

Intervenção Cênica: “Luiz Gama: Uma Voz pela Liberdade

O espetáculo “Uma Voz pela Liberdade” é uma biografia dramatizada sobre vida e obra de Luiz Gama, um homem brasileiro, negro, do século XIX, filho de Luiza Mahin (figura feminina histórica da luta abolicionista no Brasil).

Na função de rábula, ele conquista sua carta de alforria e liberta gratuitamente mais de 500 escravizados, baseado na Lei de 1831, que proibia o tráfico de escravos para o Brasil. É considerado também a primeira voz negra da literatura brasileira.

Gama, em homenagens póstumas, foi oficialmente reconhecido como advogado pela OAB em 2015, e, em 2018, foi nomeado por leis federais como o Patrono do Abolicionismo Brasileiro e inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.

O espetáculo, além de contar a vida desse brasileiro que foi intencionalmente apagado de nossa história, compara a situação dos negros na época a de hoje, demonstrando que a verdadeira Abolição da Escravidão ainda não foi totalmente implementada.

Cristina Granato Fotografia

Dia 16/09

Intervenção Audiovisual: “Brasil Precisa ser Exorcizado”

O “Brasil Precisa ser Exorcizado” é um vídeo-manifesto indígena que discute a necessidade de ações contra coloniais para valorizar a memória dos povos originários, desmistificando a história contada pelos colonizadores, bandeirantes, missionários e historiadores.

A poesia é de autoria da anciã Yakuy Tupinambá, idealizadora da Primeira Escola Filosófica Originária, Útero Amotara Zabelê, instituição responsável pela produção do manifesto. Com participação da multiartista Katu, as imagens foram gravadas no Território Tupinamba de Olivença na Bahia e no Centro de São Paulo, sob a direção de Mirrah e RafaEu DumDum.

Imagem de divulgação “O Brasil Precisa ser Exorcizado”

Criando Passados Presentes: Memória da Escravidão no Brasil

O mini doc de 22 minutos apresenta um projeto de turismo de memória sobre o tráfico negreiro e a escravidão no Brasil, que teve como base o Inventário de Lugares de Memória do Tráfico Atlântico.

Os pontos de visitação foram indicados pelas próprias pessoas moradoras dos locais. Acessado por meio de um aplicativo para celular, o conteúdo do projeto abrange os quilombos do Bracuí, em Angra dos Reis, e de São José, em Valença, além do jongo da cidade de Pinheiral e o Cais do Valongo.

Imagem de acervo LABHOIUFF

Mestres de Cerimônias: Rita Teles e Abílio Ferreira

Rita Teles (Foto: Osmar Moura) Abílio Ferreira (Foto: Gabriel Vituri Fotografia)

Mediadores: Jaíra Poti, Heloisa Pires de Lima, Casé Angatu, Cínthia Gomes, Patrícia de Oliveira e Solange Barbosa

Jaíra Poti (Foto: Fran Rodrigues), Heloisa Pires de Lima, Casé Angatu (Foto: Mirrah), Cínthia Gomes, Patrícia de Oliveira e Solange Barbosa

Mesas e Debatedores:
Corpo: primeiro lugar de memória (Mesa 1) – Kota Mulanji e Olinda Yawar Muniz Wanderley

Lugares de Memória Negro-Indígena: um conceito em construção (Mesa 2) – Mário Medeiros e Eliane Potiguara

Os lugares de memória dos povos de cultura oral (Mesa 3) – Aline Kayapó e Mestre Lumumba dos Tambores

A liberdade como lugar de memória (Mesa 4) – Erika Malunguinho (a confirmar) e Fernanda Kaingang

A trajetória brasileira do conceito Lugar de Memória (Mesa 5) – Renato Cymbalista e Matheus Cruz

Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico (Mesa 6) – Mônica Lima e Milton Guran

Kota Mulanji, Mário Medeiros, Eliane Potiguara, Aline Kayapó, Mestre Lumumba dos Tambores e Erika Malunguinho
Fernanda Kaingang, Renato Cymbalista, Matheus Cruz, Mônica Lima e Milton Guran

Onde e Quando  

Dias 14 e 15, das 14h às 20h – Sesc Consolação : Rua Dr. Vila Nova 245, Vila Buarque, São Paulo

Dia 16, das 14h às 20h – Centro Universitário Maria Antônia (Salão Nobre) : Rua Maria Antônia, 258, Vila Buarque, São Paulo

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