A singularidade de uma arte popular e genuína

27/10/2023

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Atravessada por festas, sincretismo religioso e heranças afro-diaspóricas, produção artística brasileira reflete a singularidade de uma arte popular genuína e diversa 

POR MARIA JÚLIA LLEDÓ

COLABOROU MANUELA FERREIRA

Leia a edição de NOVEMBRO/23 da Revista E na íntegra

A diversidade de traços, cores e formas é um marco da produção artística, de modo particular quando se trata da chamada arte popular. Num território tão vasto como o Brasil, essas expressões culturais ganham contornos de autenticidade a partir do território e das diferentes criações presentes em cada contexto. Assim, pinturas, esculturas, fotografias e outras linguagens artísticas carregam uma singularidade muitas vezes atravessada pelas manifestações originadas no sincretismo religioso, nos rituais, na herança afro-diaspórica e na própria ocupação de diferentes povos no decorrer da história. Conhecer e apreciar essa produção artística é mergulhar, portanto, nessa relação da identidade de um povo pela ótica de seu tempo e espaço. 

Caso do bairro Casa Verde, na Zona Norte da cidade de São Paulo, onde a pluralidade de manifestações culturais e festas religiosas abraça a região. Essa diversidade é celebrada na exposição Festas, Sambas e outros Carnavais [leia mais em Arte em festa], que marca o início das atividades do Sesc Casa Verde. “A proposta é valorizar as múltiplas identidades que tornam esse bairro referência de culturas tradicionais que resistiram ao longo do tempo, marcando o poder de agência [capacidade de agir] e de resistência de indivíduos e comunidades, com particular relevo à presença negra, não apenas na Casa Verde, mas, também, nas grandes festas que se fazem presentes em muitas partes do Brasil”, descrevem os curadores Angela Mascelani e Lucas Beuque, que também compartilham a direção do Museu do Pontal, um dos maiores acervos de arte popular brasileira, que cede parte de suas obras para essa mostra.  

A exposição reúne 200 criações de 70 artistas e grandes mestres de dez estados brasileiros – Goiás, Santa Catarina, São Paulo, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Como ponto de partida, a relação da Casa Verde com o samba e o Carnaval. Para isso, os curadores explicam que partiram da compreensão de que as escolas de samba não só favorecem relações sociais, como também são responsáveis pela emergência de práticas artísticas. “E assim o fazendo, [as escolas de samba] aprofundam nas comunidades onde estão inseridas os sentidos de identidade e de pertencimento. Além dos aspectos festivos e lúdicos propriamente ditos – da dança, cantos, instrumentos musicais, rituais que se repetem, roupas que se usam –, o Carnaval envolve trabalho, arte e colaboração intensa”, destacam Mascelani e Beuque.  

Curador convidado, o sambista e sociólogo Tadeu Kaçula, residente da Casa Verde, destaca que “a curadoria ainda fez um mergulho na ‘pequena África paulistana’ para conectar as personalidades vivas e ancestrais do bairro à exposição”. Kaçula acrescenta que, juntos, os curadores fizeram “uma homenagem aos sambistas Carlão do Peruche, Dona Guga, Iya Wanda D´Oxum, além dos ancestrais Dionisio Barbosa, Hélio Bagunça, Dona Lucinda, entre outras figuras representativas do bairro”.  

Estão expostas na nova unidade do Sesc obras de artistas locais, como o pintor João Cândido, que segue em atividade, e peças do acervo do Museu do Pontal – a exemplo da instalação sonora Carnaval no Sambódromo, de Adalton Fernandes Lopes (1938-2006). “Artistas que encontraram na arte popular uma possibilidade de acolhimento, e de fazer com que suas histórias de vida e obras chegassem a públicos mais amplos e ganhassem visibilidade”, explicam os curadores Mascelani e Beuque.  

ARTE EM FESTA 

Expressões culturais formadoras da identidade do bairro da Casa Verde, na Zona Norte paulistana, compõem mostra em cartaz no Sesc 

A exposição Festas, Sambas e outros Carnavais marca o início das atividades da nova unidade do Sesc, no bairro Casa Verde. Com curadoria geral de Angela Mascelani e Lucas Beuque, do Museu do Pontal (RJ), e do curador convidado, Tadeu Kaçula, sambista e sociólogo residente do território. A mostra celebra as mais diversas festividades brasileiras e busca, na história da Casa Verde, enaltecer também o samba e o Carnaval como elementos fundantes da identidade local. “Tivemos especial atenção para aquelas festas nas quais a presença afro-diaspórica é vigorosa”, explicam os curadores Mascelani e Beuque. 

Entre as festas representadas por esculturas,  pinturas, vídeos e fotografias, estarão presentes “Bumba Meu Boi, Cavalhada, Folia de Reis, Reisado, Maracatu, Cavalo Marinho, Carnaval, além de algumas festas religiosas, como São Jorge, São Benedito, Divino, São Gonçalo, Iemanjá, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora Aparecida, muitas delas originárias de manifestações de populações negras e indígenas do país”, elenca Juliana Okuda, gerente adjunta da Gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc São Paulo. A mostra conta também “com um abre-alas formado por retratos, obras e textos sobre pessoas importantes para as festas e a cena artístico-cultural da Casa Verde”, complementa Okuda.  

CASA VERDE 

Festas, Sambas e outros Carnavais  

Exposição coletiva com curadoria de Angela Mascelani e Lucas Beuque, do Museu do Pontal (RJ), e Tadeu Kaçula.  

Até 18 de fevereiro de 2024. 

Terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. GRÁTIS. 

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