À sombra do flamboyant  

01/03/2022

Compartilhe:

*Na infindável viagem/ floresce vermelho/ o flamboyant.

Infindável viagem que começa em 10 de julho de 1917 – um dia quente de verão, com muitos insetos barulhentos, conforme relato da tia do menino que, nesse dia, nasce em Yuki-shi, cidade próxima a Tóquio. Menino que, aos dez anos, perde a mãe e encontra conforto no futon feito com o quimono dela pela avó e no estojo de pintura, dado pelo pai.  

O menino já não é mais criança e, aos 17 anos, desgostoso com o segundo matrimônio do genitor, segue sua viagem. Sob o lamento das cigarras e o grasnar das gaivotas, embarca em Kobe no “África Maru”, partindo para uma terra de sonho, o Brasil, onde aporta cinquenta e sete dias depois.  

Cartografia do deslocamento de Takeo Sawada do Japão até o Brasil. Foto: acervo da família / reprodução: Paulo Miguel.

Do navio para o trem, de Santos a Rancharia: é lá, na cidade em que residem os familiares que haviam imigrado anteriormente, que Takeo avista pela primeira vez a rubra flor do flamboyant. Em terra firme, a terra de sonho é solo a ser cultivado, yama. Takeo trabalha na lavoura do café e do algodão, torna-se arrendatário e, depois, proprietário rural. Nesse ínterim, do Japão, chega a jovem Tiyo com uma carta: seu irmão pede ao amigo Takeo que cuide dela. O amigo morre na guerra; Takeo, aos 22 anos, atende ao pedido e casa-se com Tiyo, com quem tem seis filhos.  

Para as crianças, as suas e as de outras famílias, Takeo constrói uma escola, leciona japonês e pintura – atividade que volta a exercer em meados da década de 1950. Se outrora Takeo era o discípulo do Mestre Kenji Tamura, o menino que recebeu o Prêmio Imperial na Exposição Nacional de Pintura Infantil, agora é um artista de inspiração impressionista; é o Sensei que, ao longo de três décadas, ensina a mais de quatro mil crianças o valor de se expressar livremente por meio da arte.  

“Minha vida, as montanhas e os rios que atravessei, foram sempre inusitados”, declarou Sawada. Mesmo posta a travessia da existência física, em 18 de maio de 2004 – quando morre em um acidente de automóvel, a caminho de um concurso de desenhos em que seria jurado – Sawada recebe láureas, como a Honra ao Mérito Kasato Maru, conferida a apenas 130 japoneses, já falecidos, quando do centenário da Imigração ao Brasil (2008).     

Infindável viagem. O flamboyant, que empresta seu nome a um livro de poemas da autoria de Sawada, publicado no ano de 1990, continua a florescer. À sombra do flamboyant nos reunimos nesse momento para aprender com Takeo Sawada – artista, educador – a olhar de forma sensível para a beleza que há no outro e no mundo.   

Takeo Sawada em sua casa no bairro do Guarujá, em Presidente Prudente. Foto: acervo da família / reprodução: Paulo Miguel.

_____________________________________________________________

*O hai kai que abre o texto é da autoria de Takeo Sawada.  

Texto escrito a partir da pesquisa realizada por Carmo Malacrida e Adriana Pedrassa Prates sob encomenda do Sesc Thermas de Presidente Prudente. 

Serviço

Exposição: À sombra do flamboyant – Takeo Sawada 

Curadoria: Carmo Malacrida, Valquíria Prates e Valéria Prates Gobato  

Realização: Sesc Thermas de Presidente Prudente 

Apoio: Secretaria Municipal de Cultura de Presidente Prudente, Secretaria Municipal de Educação de Presidente Prudente, Fundação Japão e TV Fronteira.    

No Centro Cultural Matarazzo, R. Quintino Bocaiúva, nº 749, Vila Marcondes, Presidente Prudente, SP. Terça a sexta, 9h às 20h; e sábados, 9h às 18h. Grátis. Livre.  

Agora, experimente visitar a exposição no vídeo.

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.