ASSOJABA TUPINAMBÁ UMBEUMBESÀWA: o manto tupinambá conta e canta a história

09/04/2025

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Imagine um fio capaz de conectar o passado e o presente, com milhares de nós que entrelaçam memória e ancestralidade. É por meio desse único fio que se produz o manto tupinambá, vestimenta ritualística considerada pelos tupinambás um material vivo capaz de conectá-los a seus ancestrais e aos *Encantados. Esse mesmo manto é o fio condutor do conceito da exposição “Assojaba Tupinambá Umbeumbesàwa: o manto tupinambá conta e canta a história”, fruto da profunda pesquisa da artista indígena e uma das curadoras da mostra, Glicéria “Célia” Tupinambá, que agora está disponível para visitação no Sesc Rio Preto. (*Encantados” refere-se a seres espirituais presentes na cosmologia tupinambá)

Com destaque para o exemplar do manto tupinambá confeccionado por Célia junto à comunidade Tupinambá de Olivença (BA), a exposição conta com curadoria da própria artista indígena, em parceria com Augustin de Tugny, Benjamin Seroussi, Juliana Caffé e Juliana Gontijo. A mostra apresenta um conjunto de obras em diversos formatos e técnicas, assinadas por artistas como Edimilson de Almeida Pereira, Fernanda Liberti, Gustavo Caboco, Jardim Miriam Arte Clube (JAMAC), Lívia Melzi, Mariana Lacerda, Nathalie Pavelic, Patrícia Cornils, Povo Tupinambá da Serra do Padeiro, Rogério Sganzerla, Sophia Pinheiro, além da própria curadora-artista Glicéria “Célia” Tupinambá.

A abertura da exposição aconteceu na terça, 8 de abril de 2025, e foi marcada pela realização de um Toré — manifestação cultural ritualística que une religiosidade, tradição e música, presente em diversos rituais dos povos indígenas — conduzido pelo Grupo Jovem de Atã.

Apresentação de Toré na abertura da exposição (Fotos Luiz Áureo)

Após a apresentação, Célia ressaltou o valor do trabalho coletivo envolvido na realização da mostra, e celebrou a possibilidade de o público local vivenciar de perto essa experiência artística: “Não precisa atravessar o oceano pra que você possa estar na presença do manto, para aprender e entender essa tecnologia. Aqui está próximo e você pode observar de perto esse conhecimento que é uma assinatura Tupinambá”.

Glicéria "Célia"Tupinambá na abertura da exposição (Foto Luiz Áureo)
Glicéria “Célia”Tupinambá na abertura da exposição (Foto Luiz Áureo)

Thiago Freire, gerente do Sesc Rio Preto, também destacou a relevância da exposição na unidade: “Glicéria ‘Célia’ Tupinambá e essa reunião de curadores e artistas reanunciam saberes ancestrais do povo Tupinambá. Saberes e também fazeres intimamente ligados ao feminino e ao coletivo, à escuta dos sonhos, dos pássaros, dos encantados, dos antepassados, o tecer e o emaranhar a muitas mãos de um único fio que se transforma em trama, que conta e canta a história de algo que já foi demasiadamente calado e relegado ao esquecimento”.


Thiago Freire, gerente do Sesc Rio Preto, fazendo fala na abertura da exposição (Foto Luiz Áureo)

Por séculos, os mantos tupinambás estiveram distantes de seus verdadeiros donos, espalhados por acervos estrangeiros. A exposição tem como propósito renovar essa conexão e celebrar a força espiritual desses espíritos, promovendo seu retorno ao imaginário coletivo. Ao confeccionar o manto, o povo Tupinambá reata um fio que atravessa quatro séculos de história, entrelaçando memória, ancestralidade, arte, território, respeito e resistência — costurando relações comunitárias e abrindo diálogos urgentes em uma tecitura sagrada que convida à reflexão de que o único caminho possível é o retorno.

Abertura da exposição (Fotos Luiz Áureo)

O significado do manto
Os mantos tupinambá eram símbolos de poder e espiritualidade, usados por caciques, pajés e figuras de liderança. Feitos com penas de pássaros, especialmente do guará – de cor vermelho vibrante –, eram peças sagradas, carregadas de significado. A confecção do manto exigia técnicas e conhecimentos tradicionais, passados de geração em geração.

Para o povo Tupinambá, cada manto era único e representava uma conexão profunda com os espíritos, a natureza e os ancestrais. Quando os europeus chegaram, esses mantos foram levados e espalhados por museus na Europa. Mais do que um objeto, o manto retorna como símbolo vivo da luta dos povos indígenas pelo reconhecimento de sua cultura e território. A chegada da exposição ao Sesc Rio Preto reforça a importância de olhar para a história com outros olhos – não apenas como um passado distante, mas como uma memória viva, que pulsa no presente.

Programação paralela
Além de ver de perto as peças que exploram diferentes linguagens artísticas e ampliam o debate sobre descolonização, identidade e pertencimento, trazendo novas perspectivas sobre a cultura e o legado dos povos indígenas, a exposição “Assojaba Tupinambá Umbeumbesàwa” contará com uma programação paralela ao longo de todo o período de visitação, com rodas de conversa, oficinas e vivências, criando um espaço de troca e aprendizado sobre os saberes tupinambá.

Sobre Glicéria “Célia” Tupinambá
É artista e professora, originária da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul do estado da Bahia. Dirigiu o documentário Voz das Mulheres Indígenas (2015) e realizou a exposição Kwá Yepé Turusú Yuriri Assojaba Tupinambá/ Esta é a Grande Volta do Manto Tupinambá (2021), em Brasília. Em 2023, recebeu o Prêmio Pipa e integrou a Bienal de Veneza de 2024 com o Manto Tupinambá. Mestra e doutoranda em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Visitação
De 09/04/2025 a 26/10/2025
Terças a sextas, das 13h às 21h30
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Convivência. Grátis.
Acessibilidade: autodescrição, Braile, Libras e recursos táteis
Visitações em grupo mediante agendamento prévio do formulário disponível no link: https://forms.office.com/r/hB105GnJgT

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