Cidade em movimento: Vem aí a 14ª edição da Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

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Cordeiros (Foto: Renato Mangolin)

Com cerca de 80 atrações, evento transforma a ruas, teatros e o próprio
Sesc Campinas em palco da diversidade e da criação

De 25 de setembro a 5 de outubro 2025, a dança toma conta de Campinas. Como um grande palco, que se descortina em diferentes pontos, a cidade irá se encher com o movimento dos corpos durante a 14ª Bienal Sesc de Dança.

Ao todo, são cerca de 80 atividades – entre espetáculos, performances, instalações e ações formativas – apresentados por companhias, grupos e artistas de 18 países e 10 estados brasileiros, que expandem os limites da cena contemporânea e convidam o público explorar novas percepções e reflexões.

Realizada pelo Sesc São Paulo, com apoio da Prefeitura Municipal de Campinas e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Bienal estabelece a dança como espaço de encontro, diversidade e invenção, misturando tradição e vanguarda, em uma programação que une danças cênicas, urbanas, populares, experimentais e comunitárias, além de aproximar diferentes gerações de artistas.

Além dos espetáculos em vários pontos da cidade, a Bienal se espalha por Campinas com performances de rua, intervenções em espaços públicos e atividades voltadas ao público infantil e familiar, como apresentações e jams dedicadas às crianças. A programação inclui ainda ações formativas, que vão de oficinas a encontros teórico-práticos com artistas nacionais e internacionais e um inédito projeto educativo de mediação em dança. Assim, o festival cria uma rede de experiências, contextos e linguagens, convidando o público a habitar a dança em suas múltiplas formas de expressão, reflexão e convivência.

“Mais do que um evento, ela reafirma o compromisso do Sesc em criar espaços de escuta, reflexão e transformação, investindo na potência do corpo como ferramenta de conhecimento e convivência coletiva”, destaca Luiz Galina, diretor do Sesc São Paulo.

Dança como identidade

O Balé que Você Não Vê (Foto: Célia Santo)

Para a abertura da Bienal 2025, no dia 25 de setembro (quinta) às 19h, o palco do Sesc Campinas recebe o Balé Folclórico da Bahia com O Balé que Você Não Vê, montagem que leva o público aos bastidores da companhia, revelando a força e os desafios de quem mantém viva a dança afrobaiana profissional no Brasil. E se a abertura da Bienal evoca raízes e memórias com o Balé Folclórico da Bahia, a curadoria de 2025 amplia esse gesto inaugural para uma constelação de diálogos que conecta a criação em dança ao redor do mundo. Ao lado das apresentações internacionais, a produção brasileira de dança contemporânea ganha destaque ao revelar a potência de seus corpos, memórias e territórios, em sintonia com a cena global.

Dança sem fronteiras

A seleção de espetáculos, assinada por um grupo  de programadores do Sesc São Paulo – Ana Carolina Massagardi, Ana Dias de Andrade, Augusto Braz, Cléber Tasquin, Maitê Lacerda, Marcos Takeda, Marcos Villas Boas, Mateus Menezes, Paula Souza, Sara Regina Centofante, Simone Aranha, Talita Rebizzi e Vinicius Souza – em parceria com o artista convidado Flip Couto, cuja trajetória valoriza as estéticas negras, o hip-hop e o universo ballroom, reafirma a dança como força de comunidade e de valorização social, ampliando sua conexão com uma rede internacional de criação.

Com esse olhar, em 2025, a Bienal une artistas da África do Sul, Angola, Áustria, Bélgica, Brasil, Chile, Colômbia, Estados Unidos, França, Guadalupe, Holanda, Inglaterra, Japão, Líbano, México, Portugal, Ruanda e Suíça – além de representantes de dez estados brasileiros: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.

E dentro de um mapa tão diverso, ganha relevância a participação da Temporada França-Brasil 2025, realizada em comemoração aos 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Como parte da celebração e com o apoio do Institut Français, a Bienal recebe cinco espetáculos da França continental, de Guadalupe e de ex-colônias francesas.

Le sacre du sucre. Foto: Ernest S Mandap
Le sacre du sucre (Foto: Ernest S Mandap)

A bailarina e coreógrafa Lēnablou é um dos destaques. Nascida em Guadalupe, território ultramarino francês, a artista apresenta Le Sacre du Sucre [O Rito do Açúcar], uma criação coreográfica em que o açúcar – elemento central da colonização e da exploração nas Antilhas – torna-se metáfora e matéria para um rito que une crítica e dança. Além do espetáculo, Lēnablou faz dois encontros teórico-práticos com o público sobre seus temas de pesquisa e suas técnicas de dança.

A participação francesa na Bienal também inclui as obras A mon seul désir [Ao meu único desejo], de Gaëlle Bourges, que parte de tapeçarias medievais para discutir erotismo, poder e imagem com a participação de 30 performers brasileiros; Cellule [Cela], da Nach Van Van Dance Company, com foco na força do krump, estilo nascido nas periferias de Los Angeles e ressignificado pela coreógrafa francesa Nach; Mascarades, de Betty Tchomanga com interpretação de Ndoho Ange, que investiga a figura mítica de Mami Wata em um solo marcado pelo gesto do salto como metáfora do desejo, da transgressão e da existência; e Autophagies [Autofagias], com direção de Eva Doumbia, uma experiência sensorial e política que mistura culinária, performance e memórias ancestrais em um gesto de evocação e resistência.

Diálogo com o mundo

Abrindo outros eixos de trocas artísticas, grupos, coletivos, companhias e artistas da África, América Latina, Europa e Ásia somam perspectivas diversas, trazendo ao palco investigações que atravessam corpo, memória, política e identidade.

Entre eles está a bailarina, performer e coreógrafa da África do Sul, Moya Michael, que em It is like a finger pointing a way to the moon [É como um dedo apontando um caminho para a lua] cria uma colagem sensorial de dança, música, vídeo e narrativas, a partir de sua vivência com comunidades do seu país natal e da Namíbia. Já a coreógrafa chilena-mexicana-austríaca Amanda Piña, em EXÓTICA – On the Brown History of European Dance [EXÓTICA — Sobre a História Racializada da Dança Europeia], resgata artistas racializados apagados da história da dança europeia, instaurando um ritual de memória e transformação.

Direto da Colômbia, a companhia Sankofa Danzafro presta homenagem ao escritor Manuel Zapata Olivella em Detrás del Sur: Danzas para Manuel [Por Trás do Sul: Danças para Manuel], costurando dança e música em um épico sobre diáspora africana e resistência. Em DARKMATTER [MATÉRIAESCURA], a artista Cherish Menzo (Holanda/Bélgica) articula hip-hop, luz e temporalidades desconexas para questionar imagens preconcebidas sobre corpos negros. Com inspiração no movimento congolês La Sape, o espetáculo Dandyism [Dandismo],realizado em parceria com o Cultura Inglesa Festival, reúne Ziza Patrick (Ruanda/Inglaterra) e Ricardo Januário (Brasil), junto a performers locais, para transformar a moda em resistência e identidade.

Do Japão, o duo Nanako Matsumoto e Kengo Nishimoto / team chiipro apresenta Kyoto Imaginary Waltz [Valsa Imaginária de Kyoto], inspirado na chegada da valsa ao país no século 19, refletindo sobre intimidade, toque e contato. O libanês Bassam Abou Diab, em Under the Flesh [Sob a Pele], dialoga diretamente com o público ao transformar experiências de guerra em coreografias de sobrevivência. Já ZONA DE DERRAMA – first chapter [ZONA DE DERRAMA – primeiro capítulo], de Catol Teixeira, artista do Brasil residente na Suíça, inaugura uma pesquisa coreográfica concebida para espaços abertos ao entardecer, onde harmonia e dissonância moldam a dança. Por fim, o grupo chileno La Huella Teatro apresenta TE MANA HAKAÂRA: El Poder que Permanece [TE MANA HAKAÂRA: O Poder que Permanece], criado a partir de pesquisas e oficinas conduzidas com o povo rapanui, habitante da Ilha de Páscoa, e que costura a herança dessa população por meio das vozes e da corporalidade de mulheres da comunidade.

Zona de Derrama. Foto: Pietro Bertora
Zona de Derrama (Foto: Pietro Bertora)

Identidade e memórias

A Bienal abre espaço para danças que carregam memórias ancestrais, insurgências e modos de imaginar futuros não coloniais. São corpos que evocam cosmologias, desafiam estigmas, resgatam histórias silenciadas e, ao mesmo tempo, inventam outras linguagens de presença.

A travessia entre Angola e Brasil pulsa em Ekesa – Sanko, onde a identidade se manifesta como corpo vivo em movimento. Afrocontemporaneidade, danças tradicionais angolanas, improvisação somática e danças urbanas se entrelaçam na criação da Companhia de Dança Corpus Entre Mundos. A figura de Anastácia, marcada historicamente pela mordaça, ganha sorriso e liberdade em Negrociação: Minha Língua Está em Sua Boca e Eu a Quero de Volta. Do Rio de Janeiro, o artista Yhuri Cruz convoca o público a partilhar vozes e línguas em um ato de troca que dramatiza memórias afrodiaspóricas e reinscreve a potência de existir e falar.

A Bailarina Fantasma (Foto: Noelia Najera)

A Bailarina Fantasma nasce do encontro entre a icônica escultura de Degas e os relatos da bailarina negra Verônica Santos. A instalação cênica – indicada ao Prêmio APCA de Dança 2024 nas categorias Espetáculo e Intérprete, além de ser indicada ao Prêmio Shell de Teatro 2024 na categoria Cenografia – revela um corpo que insiste em dançar apesar de apagamentos e violências.

Uma corda que separa foliões no Carnaval da Bahia se transforma em metáfora de fronteira, exclusão e invenção em Cordeiros. Nas mãos e corpos dos artistas fluminenses Alan Ferreira e Tony Hewerton, ela deixa de ser barreira e passa a girar como motor de novas imagens para corpos dissidentes, conectando festa popular, resistência e afeto. Em Descaminhos, o coletivo Afrobunker (RJ/BA) responde à questão: De onde vem o desejo que move um corpo preto em meio a apagamentos?, mergulhando nos desvios e nos contrabandos da história. Cada dançarino aciona memórias interditadas que se cruzam em cena, revelando a potência de reexistir e renomear o mundo pela dança.

Entre cores, imagens e sons, Brinquedo: De Onde Surgem os Sonhos?, do maranhense Tiyê Macau, propõe estratégias para adiar os fins do mundo com paraquedas multicoloridos, danças e palavras. Em Dança Monstro, último capítulo da trilogia da Companhia dos Pés, de Alagoas, a nudez é tomada como chave para reconectar o humano à natureza atravessada pelo tambor de crioula, pelo toré indígena e pelos princípios do tai chi chuan.

O tempo em espiral guia Ntanga, criação de Inaê Moreira, Júlia Lima e Danielli Mendes (BA/SP). Inspirada na cosmopercepção bakongo, a obra recusa a linha reta do progresso e faz da dança, da palavra e do canto feitiços para interligar passado, presente e futuro, abrindo clareiras de mundos não coloniais.

Acompanhe a programação em sescsp.org.br/bienaldedanca e participe!

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