Dandyism [Dandismo] | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

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Foto: Adam Goodwin

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Entrevista com Ziza Patrick | Criação, Coreografia e direção de movimento

Dandyism é inspirado na cultura La Sape. Como você vê esses movimentos de resistência?
No contexto de La Sape, a apropriação do terno ocidental está diretamente vinculada ao legado do colonialismo europeu. Há pesquisas que mostram como esse modo de se vestir se tornou, para muitos africanos, uma forma de empoderamento e resistência. Eles pegaram os estilos de seus senhores, inverteram o código e os transformaram em algo exclusivamente seu. Dizem que os senhores brancos preferiam que seus “empregados domésticos” fossem bem vestidos. Isso mostra como o estilo se tornou profundamente político. Os símbolos culturais ocidentais foram remodelados e entrelaçados na cultura africana. Quando se trata de moda, vejo isso como um exemplo mais amplo de como os africanos sempre foram criativos e transgressores. Encontramos maneiras de criar algo novo e empolgante a partir do que está disponível. Os sapeurs continuam a inovar, independentemente das tendências.

Ao combinar celebração e crítica, a obra cria um espaço onde alegria e resistência coexistem, onde masculinidade e feminilidade não são fixas, mas fluidas

Dandyism. Foto: Adam Goodwin
Foto: Adam Goodwin

O tom energético marca o espetáculo, como uma celebração às expressões individuais, mas a obra também fala de temas como identidade de gênero. Como esses elementos convergem?
Dandyism não é apenas um espetáculo sobre expressões de moda, a moda é uma declaração visual de presença, empoderamento e individualidade. O trabalho desafia as ideias convencionais de masculinidade ao abraçar a elegância, a vulnerabilidade e a teatralidade. Os artistas escolhem roupas que borram as normas de gênero. Ao combinar celebração com crítica, a obra cria um espaço onde a alegria e a resistência coexistem, onde a masculinidade e a feminilidade não são fixas, mas fluidas, expressivas e autodefinidas. A coreografia nasceu de uma fusão entre memórias pessoais, observação cultural e pesquisa crítica. Eu cresci em Ruanda e fui muito influenciado pelos homens de roupas lindas que via passear por um bairro de população congolesa em Kigali. Suas cores ousadas, seu andar confiante e sua presença performática formaram minhas primeiras impressões e se tornaram a base do vocabulário visual e de movimentos da peça. A maneira como eles se apresentam é inerentemente performática e coreográfica. E os performers são fundamentais no espetáculo. Eu quis trabalhar com as histórias individuais deles para convergir nossas experiências como artistas e seres humanos.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
Eu diria que a dança traz o espírito e a memória para o primeiro plano. Nosso corpo tem a capacidade de ir além das palavras e, através do ritmo, pode expressar o espírito e trazê-lo para um espaço compartilhado, tornando-o quase tangível. Para mim, isso é o que significa estar no presente. Por causa da dança, sou capaz de explorar temas complexos como inconformismo, identidade, gênero e representação. Ela transforma a vulnerabilidade em poder. A dança não é apenas uma forma de arte. É um ato pessoal e político de visibilidade, resiliência e transformação.

Sinopse

Dandyism [Dandismo]

Inspirado num movimento de resistência surgido no período colonial congolês, o espetáculo de Ziza Patrick, em parceria com Ricardo Januário, apresenta um manifesto sobre identidade, ancestralidade e empoderamento. O ponto de partida é La Sape (acrônimo para Sociedade dos Ambientadores e de Pessoas Elegantes), que transformou a moda em afirmação pela liberdade. A cultura desses sapeurs e sapeuses, como são chamados seus membros, apropriou-se do vestuário de dândis europeus para criar um estilo próprio e extravagante, que incentiva as expressões individuais. Em cena, um grupo de performers-sapeurs se alterna em coreografias, falas e interações com a plateia, realçando suas singularidades – as apresentações daqui contarão com intérpretes locais, selecionados para uma residência com os artistas ruandense e brasileiro. Nesse cortejo, desafiam normas de gênero e abrem espaço para a alegria e a resistência.


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Interview with Ziza Patrick | Original concept, Choreography and movement direction

Dandyism is inspired by La Sape culture. How do you view these movements of resistance?
In the context of La Sape, the appropriation of the Western suit is directly tied to the legacy of European colonialism. Research shows how this style of dress became, for many Africans, a form of empowerment and resistance. They took the styles of their masters, inverted the code, and turned them into something entirely their own. It is said that white masters preferred their “domestic servants” to be well dressed. This reveals how style became deeply political. Western cultural symbols were reshaped and woven into African culture. When it comes to fashion, I see this as part of a broader pattern of how Africans have always been creative and transgressive. We find ways to create something new and exciting from what is available. The sapeurs continue to innovate, regardless of trends.

By combining celebration with critique, the work creates a space where joy and resistance coexist, where masculinity and femininity are fluid

The show’s energetic tone feels like a celebration of individual expression, yet it also speaks to themes such as gender identity. How do these elements converge?
Dandyism is not just a piece about fashion statements, fashion is a visual declaration of presence, empowerment, and individuality. The work challenges conventional ideas of masculinity by embracing elegance, vulnerability, and theatricality. The performers choose outfits that blur gender norms. By combining celebration with critique, the work creates a space where joy and resistance coexist, where masculinity and femininity are not fixed, but fluid, expressive, and self-defined. The choreography grew out of a fusion of personal memories, cultural observation, and critical research. I grew up in Rwanda and was deeply influenced by the sharply dressed men I would see strolling through a Congolese neighborhood in Kigali. Their bold colors, confident walk, and performative presence formed my earliest impressions and became the foundation for the piece’s visual and movement vocabulary. The way they present themselves is inherently performative and choreographic. The performers are essential to the work. I wanted to collaborate with their personal stories, bringing our experiences together as artists and as human beings.

How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
I would say that dance brings spirit and memory to the forefront. Our bodies have the ability to go beyond words and, through rhythm, can express spirit and carry it into a shared space, making it almost tangible. For me, this is what it means to be in the present. Through dance, I can explore complex themes such as nonconformity, identity, gender, and representation. It transforms vulnerability into power. Dance is not just an art form — it is a personal and political act of visibility, resilience, and transformation.

Synopsis

Dandyism

Inspired by a movement of resistance born during Congo’s colonial period, the performance by Ziza Patrick, in collaboration with Ricardo Januário, is a manifesto on identity, ancestry, and empowerment. Its starting point is La Sape (an acronym for Society of Ambiance-Makers and Elegant People ), which transformed fashion into an assertion of freedom. The culture of sapeurs and sapeuses, as its members are called, appropriated European dandy attire to create a unique, extravagant style that fosters individual expression. On stage, a group of performer-sapeurs alternates between choreography, lines, and audience interaction, highlighting their singularities. Here, the performances will feature local interpreters selected for a residency with the Rwandan artist and the Brazilian choreographer. In this procession, they challenge gender norms and open space for joy and resistance.

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