Ekesa – Sanko | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

Compartilhe:
Foto: Kevin David

🇧🇷 🇺🇸

Entrevista com Lenna Siqueira | Direção artística

O espetáculo narra a história de um herói, estabelecendo, principalmente pela via do corpo, conexões que borram o passado e o presente. O que essa jornada simboliza para você?
Essa jornada é, ao mesmo tempo, íntima e coletiva. Durante a pandemia, eu e Dilo estávamos distantes de nossas famílias e da nossa terra. Foi um momento em que o futuro parecia suspenso, e o presente, imerso em incertezas. A única saída possível para nós foi voltar: não fisicamente, mas espiritualmente. Voltar para dentro, para as nossas memórias, para a ancestralidade. O herói de Ekesa – Sanko é também esse corpo nosso, em exílio, que precisa lembrar quem é para continuar existindo. O espetáculo é inspirado no símbolo Sankofa, o pássaro africano que olha para trás carregando um ovo – uma metáfora lindíssima sobre a importância de voltar ao passado para ressignificar o presente. É isso que essa jornada representa: um voo profundo de retorno e reconexão.

O herói de Ekesa – Sanko é também esse corpo nosso, em exílio, que precisa lembrar quem é para continuar existindo

Foto: Kevin David
Foto: Kevin David

O solo também propõe um resgate ancestral. Nesse sentido, qual a importância do vestuário, da pintura corporal e da sonoridade?
Esses elementos são extensões do corpo e da narrativa. A pintura corporal, por exemplo, remete aos rituais de passagem e é também uma referência direta ao símbolo do Sankofa. Cada traço pintado carrega um significado, uma memória. O figurino é simples, quase nu, como um corpo em transição, que se despe para poder se transformar. A trilha sonora mistura sons ancestrais, ritmos pulsantes e silêncios – tudo pensado para abrir portais sensoriais e espirituais. São camadas que se somam ao corpo, ativando não apenas o olhar, mas também a escuta e a presença de quem está na plateia. É um corpo que fala sem falar.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
A dança, hoje mais do que nunca, tem o papel de reativar a escuta do corpo e da memória. Vivemos em uma sociedade que nos desconecta de nós mesmos, do outro e da nossa história. A dança nos obriga a parar, a sentir, a olhar para dentro. Ela tem o poder de revelar o que está invisível, de curar o que está ferido, de lembrar o que foi esquecido. É um gesto político, poético e espiritual. Nos tempos de silêncio e isolamento que vivemos durante a pandemia, percebi com mais força que a dança pode ser um canal de sobrevivência e de transformação – uma forma de continuar existindo mesmo quando tudo parece paralisado.

Foto: Patrice de Lemos
Foto: Patrice de Lemos

Sinopse

Ekesa – Sanko

Inspirada pelo símbolo africano Sankofa, que resgata a importância de retornar à origem para ressignificar o presente, a obra narra a trajetória de um herói que esquece o próprio passado e inicia uma jornada para não se perder de si mesmo. Criado e dançado pelo coreógrafo angolano Dilo Paulo e dirigido pela artista da dança brasileira Lenna Siqueira, fundadores da Companhia de Dança Corpus Entre Mundos, o trabalho aborda identidade, pertencimento e ancestralidade como elementos vivos que dançam no corpo contemporâneo. Linguagens da dança afrocontemporânea, das danças tradicionais angolanas, da dança urbana e de técnicas de improvisação somática guiam o espetáculo, construído a partir de memória, corpo e escuta. Atravessado por camadas de tempo, de geografia e de história, o corpo em cena se torna ritualístico e dança não apenas o presente, mas o que veio antes e o que ainda virá.


🇧🇷 🇺🇸

Interview with Lenna Siqueira | Artistic director

The show tells the story of a hero, establishing, mainly through the body, connections that blur the line between past and present. What does this journey symbolize for you?
This journey is both intimate and collective. During the pandemic, Dilo and I were far away from our families and our land. It was a time when the future seemed suspended and the present seemed immersed in uncertainty. The only way out for us was to go back — not physically, but spiritually. To go back inside, to our memories, to our ancestry. The hero in Ekesa Sanko is also this body of ours, in exile, which needs to remember who they are in order to continue to exist. The show is inspired by the Sankofa symbol, the African bird that looks back carrying an egg — a beautiful metaphor for the importance of returning to the past to give new meaning to the present. That’s what this journey represents: a deep flight of return and reconnection.

The hero in Ekesa — Sanko is also this body of ours, in exile, which needs to remember who they are in order to continue to exist

Foto: Kevin David

The solo also proposes a reclaiming of ancestry. In this sense, what is the importance of costumes, body painting, and sound?
These elements are extensions of the body and the narrative. Body painting, for example, refers to rites of passage and is also a direct reference to the Sankofa symbol. Each painted line carries a meaning, a memory. The costumes are simple, almost bare, like a body in transition, undressing to be able to transform. The soundtrack combines ancestral sounds, pulsating rhythms, and silences — all designed to open sensory and spiritual portals. These are layers that are added to the body, activating not only the gaze, but also the listening and presence of those in the audience. It is a body that speaks without speaking.

How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
Today more than ever, dance plays a role of reactivating the act of listening to the body and memory. We live in a society that disconnects us from ourselves, from others, and from our history. Dance forces us to stop, to feel, to look inwards. It has the power to reveal what is invisible, to heal what is wounded, to remember what has been forgotten. It is a political, poetic, and spiritual gesture. In the times of silence and isolation that we have experienced during the pandemic, I have realized more strongly that dance can be a channel for survival and transformation — a way of continuing to exist even when everything seems paralyzed.

Synopsis

Ekesa – Sanko

Inspired by the African symbol Sankofa, which recalls the importance of returning to one’s origins to give new meaning to the present, this piece tells the story of a hero who forgets his own past and sets out on a journey in order not to lose himself. Created and performed by Angolan choreographer Dilo Paulo and directed by Brazilian dance artist Lenna Siqueira, the co-founders of Companhia de Dança Corpus Entre Mundos, it addresses identity, belonging, and ancestry as living elements that dance in the contemporary body. Languages from Afro-contemporary dance, traditional Angolan dances, urban dance, and somatic improvisation techniques guide the show, which was built through memory, body, and listening. Pervaded by layers of time, geography, and history, the body on stage becomes ritualistic and dances not only to the present, but also to what came before and what is yet to come.

Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.