
Com início marcado no Sesc Pinheiros, o projeto Escreveres propõe uma rara experiência: pensar a escrita literária como um processo autoral de longo curso, coletivo e provocativo. Sob a condução dos escritores Tarso de Melo e Lilian Sais, o curso busca dar tempo e espaço para que os participantes mergulhem no desenvolvimento de seus próprios projetos de escrita — sejam eles poesia, prosa ou uma forma ainda em busca de nome.
O projeto Escreveres propõe dois cursos simultâneos de longa duração voltados à criação literária, com turmas distintas dedicadas à prosa e à poesia. A oficina de prosa será realizada no Sesc Pinheiros, sob coordenação da escritora e mediadora Lilian Sais; já a oficina de poesia ocorrerá no Sesc Santo André, sob coordenação do poeta e professor Tarso de Melo.
Cada oficina terá um total de dezesseis encontros presenciais e quatro encontros online. Os encontros online serão compartilhados pelas duas turmas, com o objetivo de promover trocas sobre processos criativos, leitura e escrita. Ao longo do semestre, cada grupo contará também com a participação de autores convidados, que compartilharão experiências sobre a prática literária.
Na turma de prosa, estão previstas conversas com os escritores Ricardo Terto, Veronica Stigger, Micheliny Verunschke Silvana Tavano. Já a turma de poesia receberá os poetas Angélica Freitas, Dalila Teles Veras, Mariana Godoy e Leonardo Gandolfi.
A proposta surge da constatação, por parte dos idealizadores, de que os formatos mais curtos e tradicionais de oficinas nem sempre permitem o aprofundamento necessário para a escrita autoral. “Veio daí a vontade de realizar algo como o Escreveres, uma formação mais longa, com vinte encontros em quatro meses”, explica Tarso de Melo. O objetivo, segundo ele, é equilibrar o coletivo — o estudo, a reflexão, a troca — com a escuta das demandas singulares de cada projeto.
Mais do que incentivar a escrita espontânea, o Escreveres defende a ideia de que o desenvolvimento de um projeto literário pessoal é central para a criação. “É fundamental ter um projeto que unifique os esforços de leitura e escrita que fazemos. Esse projeto é único e pessoal, mas grande parte do que se faz para realizá-lo pode ser compartilhada – é nisso que acreditamos”, afirma Tarso.
Contra a ideia romantizada de que a literatura nasce apenas de inspiração ou improviso, os escritores defendem o planejamento como motor da criação — mesmo que esse plano mude no caminho. “Nenhum projeto precisa ser uma ‘amarra’, um esquema rigoroso, mas deixar-se provocar por um ‘plano’ é o que está na raiz de algumas das obras mais admiráveis já escritas”, conclui ele.
Para Lilian Sais, a força do projeto está na construção coletiva do conhecimento. “A troca de experiências é o centro do Escreveres”, resume. Essa troca se dá de diversas formas: leituras coletivas de autores clássicos e contemporâneos, identificação de procedimentos de escrita, compartilhamento de referências e análise dos próprios processos criativos. Os textos produzidos pelos participantes são lidos e comentados em grupo, criando uma comunidade de escuta crítica e sensível.
Outro diferencial do curso é a presença de escritores convidados, que compartilham suas trajetórias de criação com os grupos. Além disso, encontros online promovem o cruzamento entre turmas de poesia e prosa, ampliando as possibilidades de diálogo. “São oportunidades incríveis de aprendizado”, pontua Tarso. “O trabalho de escrita é solitário, então poder se reunir com seus pares e conversar sobre impasses e descobertas transforma completamente a jornada criativa.”

A leitura, é claro, ocupa lugar central no processo. Lilian destaca que “a escrita costuma ser uma mistura um pouco caótica dos desdobramentos de nós mesmos e do que lemos”. Para ela, cultivar o hábito da leitura amplia nossa compreensão sobre temas, técnicas, estilos e, com sorte, sobre o que é literatura — e também sobre o que é viver.
Nesse sentido, o curso incentiva tanto a releitura de clássicos quanto o contato com produções contemporâneas. “Temos muito a aprender com os nossos colegas que estão escrevendo hoje e com os que escreveram uma (ou algumas) décadas antes de nós”, afirma Lilian.
A metodologia do Escreveres valoriza a pluralidade dos processos criativos. Não há um único caminho. “Acreditamos que o mais importante é a pessoa que tem o desejo de escrita se observar e entender os seus processos, porque (ainda bem!) não há regras que sirvam para todo mundo”, defende Lilian. Ela compartilha, por exemplo, seu hábito de manter um diário de criação onde reúne fragmentos, referências e ideias que alimentam o tom do projeto em andamento.
Para quem sente dificuldade em organizar ideias ou em encontrar tempo para escrever, cursos como o Escreveres podem funcionar como um ponto de virada. “Oficinas de longa duração são um ótimo modo de começar ou retomar projetos, porque você assume um compromisso: tem interlocução, leitura, prática de escrita e ganha ritmo”, completa Lilian.
Mais do que textos prontos, o que os mediadores esperam é o fortalecimento de uma consciência autoral. “O objetivo do Escreveres é o compartilhamento de experiências e o estímulo para que cada um alcance seus próprios objetivos”, ressalta Tarso. O resultado, segundo ele, será surpreendente inclusive para os organizadores: “Quando se dá um ‘empurrãozinho’ para alguém criar, respeitando as diferenças entre as pessoas que participam do coletivo, nunca se sabe muito bem o que vamos colher, mas é possível afirmar, de antemão, que virá o melhor que cada um e cada uma são capazes de fazer.”
Serviço [Inscrições esgostadas]
Escreveres – Curso de escrita autoral
Local (encontros presenciais): Sala de Múltiplo Uso – 3º andar, Sesc Pinheiros
Local (encontros presenciais de poesia): Sesc Santo André
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