Expressões plurais

09/09/2025

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¡SÚBETE! Foto: Pedro Ivo

A edição 2025 da Bienal reafirma a dança como elemento fundante na criação de comunidades e na valorização social, envolvendo públicos de diferentes contextos e apresentando modos plurais de fazer e pensar a criação em dança. 

É o caso de ¡La Asimetría Es Más Rica! [A Assimetria É Mais Gostosa!], da artista paulistana Estela Lapponi, que coloca em evidência corpos “fora da norma”. Na obra, ela repete como um mantra a frase-título enquanto corta frutas de diferentes formas com apenas uma das mãos, transformando o gesto em ritual coletivo que afirma a beleza do assimétrico. 

Em Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome, o Coletivo CIDA, do Rio Grande do Norte, parte da obra de Stella do Patrocínio, para discutir estigmas, desumanização e invisibilidades históricas reunindo artistas com e sem deficiência. A Cia Sansacroma (SP), sob a direção de Gal Martins, traz para a cena Sociedade dos Improdutivos, uma instalação coreográfica que imerge o público e busca desorganizar seu olhar e seus sentidos a partir de investigações em torno da loucura, numa abordagem decolonial e de perspectiva africana. 

No solo UMA, a Cia Sacana, de São Paulo, apresenta Ymoirá Micall em um mergulho no conceito de corpo-palavra. A artista atravessa texto, dança e música para investigar o que significa “ser”, elaborando sua experiência como pessoa preta e travesti diante de silenciamentos e resistências. No espetáculo Vogue Funk, dirigido por Patfudyda, poses e passos se entrelaçam para desafiar convenções e criar novas conexões históricas e culturais a partir do encontro entre o baile funk e o vogue ball. Vindo do Rio de Janeiro, o trabalho reúne performers de ambas as linguagens, unidas pela mesma raiz periférica e majoritariamente preta, que se afirma como símbolo de resistência cultural, política e social. 

Espetáculo Le Bizu, com a Clarin Cia. de Dança
Le Bizu, da Clarin Cia. de Dança Foto: Brum Caterine

Inspirado na boate criada pelos avós do diretor Kelson Barros no interior do Maranhão, nos anos 1970, a obra Le Bizu, da Clarin Cia. de Dança, de São Paulo, transforma o palco em pista de dança e costura música ao vivo, memórias familiares e coreografias que transitam entre o balé, a dança contemporânea e os bailes populares. Em Serenatas, a coreógrafa Soraya Portela (PI) convoca mulheres com mais de 60 anos a suspenderem suas rotinas para experimentar a dança como prática de vida. Ao habitar um ateliê de criação conjunta, elas exploram memórias, erotismo e pertencimento, expandindo imagens sobre o envelhecer e reivindicando o direito de criar em qualquer idade. 

Já em E nunca as minhas mãos estão vazias, de Cristian Duarte em companhia, nove artistas criam uma convivência radical em cena. Na obra dirigida pelo coreógrafo paulistano, sons, gestos e palavras surgem e se desfazem ao vivo, entre estrutura e improviso, como presenças em permanente estado de invenção.

Instalação e mais

Entre as ações que expandem o olhar da Bienal para além dos palcos, a instalação Cosmologias Ballroom ocupa o espaço expositivo do Sesc Campinas entre 26 de setembro e 5 de outubro. A exposição apresenta o universo da cultura ballroom por meio de fotografias, obras instalativas, performances, oficina e roda de conversa. Criada inicialmente no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro, a exposição chega à Bienal em um novo recorte, propondo um mergulho nesse ecossistema vibrante que articula arte, identidade e sociabilidade em torno dos bailes e das famílias escolhidas. 

Com curadoria de Diego Pereira (RJ) e Flip Couto (SP), a instalação reúne trabalhos de Cintia Rizoli (SP), Fênix Zion (AL/SP), Retinto Fêrcar (RJ), Puri Yaguarete (RJ) e Idra Maria (RJ), reafirmando a potência estética e política da cena ballroom. A visitação é gratuita e livre para todas as idades. 

This Is Ballroom Foto: Bruna Trindade

Além da programação de espetáculos e performances, a Bienal aposta em um conjunto robusto de ações formativas, abrindo espaço para o encontro entre artistas, público e saberes. Nas Conferências Dançadas, os temas de pesquisa ganham corpo em palavras e gestos, reunindo nomes como Holly Cavrell, bailarina e professora da Unicamp; o artista e pesquisador, Bruno Levorin; a coreógrafa caribenha LēnaBlou, de Guadalupe; a norte-americana Jonovia Chase, figura central das comunidades ballroom e trans, e Carmen Luz, referência da cena negra no Brasil. 

Já nos encontros intitulados Passe de Mestre, artistas compartilham suas técnicas em experiências práticas que atravessam tradições e linguagens. Do Balé Folclórico da Bahia à potência do krump da francesa Nach, passando pela pesquisa de Cherish Menzo (Holanda e Bélgica) e pelas práticas ligadas ao universo do ballroom, conduzidas por Félix Pimenta e pela própria Jonovia Chase, os participantes encontram oportunidades de aprendizado e troca direta com quem faz a cena contemporânea pulsar. 

Oficinas para grupos dos programas desenvolvidos pelo Sesc São Paulo também ocupam lugar de destaque, como a participação de Flip Couto e João Carlos Couto (Janjão) no curso de Produção Cultural para Jovens dentro do Programa Juventudes, e atividades voltadas às crianças do Programa Curumim, como BrinKderiaZ, de Natália Mendonça e Maurício Alves, e Mané Boneco, com o grupo Zumb.boys. 

Uma novidade desta edição é o projeto Coreografias em Papel, idealizado pela equipe de curadoria da Bienal e organizado pela Banca Tatuí, que chega pela primeira vez à Bienal trazendo uma banca de impressos sobre dança. Disponível todos os dias do festival no Sesc Campinas, a ação amplia a experiência do público, oferecendo um espaço de leitura, descoberta e circulação de publicações que se movem entre a crítica, a pesquisa e a experimentação gráfica. 

No decorrer da Bienal Sesc de Dança, a área de convivência do Sesc Campinas ganha nova vida com o Ponto de Encontro, momento em que o espaço se transforma em pista aberta para shows, performances e discotecagens. Mais do que reunir pessoas, a atividade propõe um ambiente de troca e liberdade, onde cada corpo é convidado a experimentar o movimento, interagir e viver a dança em sintonia com a energia coletiva do festival. 
 
Com tanto para vivenciar, a Bienal é um convite à conexão pelo movimento. Então, acompanhe a programação em sescsp.org.br/bienaldedanca e participe! 

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