It is like a finger pointing a way to the moon [É como um dedo apontando um caminho para a lua] | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

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Foto: Danny Willems

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Entrevista com Moya Michael | Criação

Seus trabalhos tocam questões de identidade e, para este, você se conectou com povos san da Namíbia, buscando um “falar próximo”, longe da objetificação. Como foi o processo?
A identidade é um fio condutor de grande parte do meu trabalho. Para mim, a pesquisa é um processo profundamente relacional. A ideia de “dançar próximo” foi inspirada em Trinh T. Minh-Ha [cineasta, escritora e professora vietnamita], que propõe “falar próximo” em vez de “falar sobre”. Trata-se de reconhecer a lacuna entre você e uma cultura alheia à sua experiência. Estar com os san foi importante para mim, especialmente porque eles estão profundamente presentes na minha linhagem. Eu não estava lá para aprender uma dança ou uma língua. Queria escutar, através do corpo, de forma física e silenciosa. Uma escuta incorporada. E, claro, havia a câmera. A presença dela levantou questões importantes, por isso, buscamos gravar de modo menos intrusivo: através da distância, do desfoque, de gestos fugazes. Talvez a intenção fosse manter a atmosfera e o momento, deixando as coisas em aberto.

Considero esta performance uma forma de transmitir presença. Busco abrir espaço para o público se conectar com tradições que ainda estão vivas.

It is like a finger pointing a way to the moon. Foto: Danny Willems
Foto: Danny Willems

Como essa escuta é transposta para a cena e de que maneira as linguagens da obra – dança, música, vídeo e poesia – se conectam?
Considero esta performance uma forma de sustentar e transmitir presença. Uma memória vivida. Não pretendo representar um grupo ou cultura específicos. Em vez disso, busco abrir um espaço onde o público possa se conectar com tradições que ainda estão vivas. Essas tradições frequentemente existem às margens e, ainda assim, persistem – adaptando-se, resistindo, afirmando-se. Isso é político. Também é profundamente físico: a transformação acontece através do corpo, pelo movimento, pelo ritual, pela repetição. Para o povo san, a transformação não é simbólica – ela é vital. É assim que sobrevivem, permanecem conectados ao conhecimento ancestral enquanto respondem ao seu ambiente. Nesse sentido, a transformação não é sobre preservar algo inalterado, é sobre permitir que algo viva, mude e continue. Para o espetáculo, tive a sorte de viajar com o compositor, o dramaturgo e a cineasta, e cada um trouxe suas perspectivas. A dança, a música, o vídeo e a cenografia foram desenvolvidos juntos. Cada elemento traz sua própria textura, e eles se conectam mais pela atmosfera e pela relação entre eles do que por algo fixo ou coreografado. São linguagens diferentes, mas fazem parte da mesma voz. A narrativa não é linear; eu diria que é mais uma jornada sensorial e emocional.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
A dança é uma das formas mais antigas de comunicação. Ela precede a linguagem e permanece universal entre as culturas. Hoje, continua sendo uma força profundamente conectiva e expressiva. A dança é uma representação de liberdade e libertação. Está em toda parte, sempre esteve. Em rituais, celebrações, manifestações ou luto, a dança tem sido usada para expressar o que as palavras não conseguem.

It is like a finger pointing a way to the moon. Foto: Danny Willems
Foto: Danny Willems

Sinopse

It is like a finger pointing a way to the moon [É como um dedo apontando um caminho para a lua]

A performer Moya Michael se propõe a dançar próximo às guardiãs das palavras, dos movimentos e dos ritmos que encontrou na África do Sul e na Namíbia. Realizado em colaboração com Joachim Bem Yakoub, Victoire Karera K. e Simon Thierrée, o espetáculo foi concebido a partir de sua vivência com comunidades desses países – como os povos san. O que se vê em cena é uma colagem sensorial, composta de dança, vídeos, música e contação de histórias, borrando as fronteiras entre linguagens e universos. Guiada pelas palavras de Bruce Lee no filme Operação Dragão (“É como um dedo apontando para a Lua. Não se concentre no dedo ou você perderá toda a glória celestial”), a artista se dispõe a olhar para o todo e mover-se com aquilo que não conseguimos compreender. Busca diluir sua imagem, desaparecer, como forma de seguir com as palavras que nos precedem, mas que nunca nos deixaram.


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Interview with Moya Michael | Creation

Your work touches on many issues of identity. For this show, you connected with the San people of Namibia, looking into “a nearby speaking” far from objectification. What was this process like?
Identity is a thread that runs through much of my work. For me research is a deeply relational process. “Dancing nearby” was inspired by Trinh T Minh-Ha (a Vietnamese filmmaker, writer, and professor), who suggests that we “speak nearby” rather than “speak about.” It is about acknowledging the gap between yourself and a culture outside of your experience. Being with the San was important to me especially because they are deep in my lineage. I wasn’t there to learn a dance or a language. I wanted to listen, through the body in a physical, quiet way. A kind of embodied listening. Then of course there was the camera. Its presence raised important questions, so we worked on ways to film that felt less intrusive: through distance, blur, fleeting gestures. Maybe the intention was to stay with the atmosphere and in the moment, and to leave things open.

I see this performance as a way to transmit presence. I aim to open a space where audiences can connect with traditions that are still alive.

It is like a finger pointing a way to the moon. Foto: Danny Willems
Foto: Danny Willems

How is this listening transposed to the stage and how do the piece’s different languages — dance, music, video, and poetry — come together?
I see this performance as a way to hold and transmit presence. A lived memory. I’m not trying to represent a particular group or culture. Instead, I aim to open a space where audiences can connect with traditions that are still alive. These traditions often exist at the margins, and yet, they continue — adapting, resisting, asserting themselves. That’s political. It’s also deeply physical: transformation happens through the body, through movement, ritual, and repetition. For the San people, transformation is not symbolic — it is vital. It’s how they survive, how they remain connected to ancestral knowledge while constantly responding to their environment. So in a sense, transformation is not about preserving something unchanged — it’s about allowing it to live, shift, and continue. For the show, I was fortunate to travel with the composer, the dramaturg, and the filmmaker, and they each brought their own perspectives. The dance, music, video, and scenography were developed together. Each element brings its own texture and they come together through atmosphere and connection rather than something fixed or choreographed. They are different languages, but of the same voice. The narrative isn’t linear. I would say it’s more of a sensory and emotional journey.

How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
Dance is one of the most ancient forms of communication. It predates language and remains universal across cultures. Today, it continues to serve as a deeply connective and expressive force. Dance is a representation of freedom and liberation. It is everywhere, it always has been. In ritual, celebration, protest, or mourning, dance has been used to express what words cannot.

Synopsis

It is like a finger pointing a way to the moon

Performer Moya Michael proposes to dance nearby the guardians of words, movements, and rhythms she encountered in South Africa and Namibia. In collaboration with Joachim Bem Yakoub, Victoire Karera K., and Simon Thierrée, this show was conceived from her experiences with communities in these countries, like the San people. What we see on stage is a sensory collage made up of dance, video, music, and storytelling, blurring the boundaries between languages and universes. Guided by the words of Bruce Lee in the film Enter the Dragon (“It is like a finger pointing a way to the moon. Don’t concentrate on the finger or you’ll miss all that heavenly glory”), the artist proposes a comprehensive outlook to move with what we cannot fathom. She aims to dilute her image, disappear as a way of following the words that precede us yet never left us.

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