
Como foi a escolha dos instrumentos usados em Jam Infantil e no que eles corroboram para o improviso?
A escolha considerou a possibilidade de explorar diferentes texturas e timbres. Optamos por compor um conjunto com sonoridades contrastantes, evitando a presença de muitos instrumentos semelhantes, como cordas que soem de forma parecida. Essa diversidade amplia a escuta das crianças e potencializa o jogo de improviso, permitindo que a dança e a música se influenciem mutuamente por caminhos variados e imprevisíveis. O improviso se dá, principalmente, por meio de uma prática muito utilizada pelo grupo, que chamamos de sombra. Nela, buscamos imitar a música através do corpo, compreendendo sua duração, textura rítmica e interpretação sonora. Ao mesmo tempo, a música também passa a imitar a dança, a partir da observação do corpo em movimento. Essa via de mão dupla é adaptada para as crianças de forma lúdica, despertando a atenção, o jogo e a escuta ativa.
A proposta é criar um espaço de escuta e troca, onde todas as pessoas presentes possam se envolver com o jogo cênico

Como são trabalhados os movimentos com o público?
Os movimentos partem de princípios de coordenação motora, como pisadas, palmas, pulos, jogos de níveis e direções – apontar, girar ou levantar os braços. Essas ações, quando conectadas à música, despertam o interesse e ampliam as possibilidades de movimentação. A condução parte do grupo, que é formado por profissionais da dança, e garante que a experiência tenha direção e fluidez. No entanto, há momentos em que as crianças são convidadas a propor movimentos, possibilitando o inverso: a música acompanhando a dança. Assim, elas experimentam como é “tocar” música com o próprio corpo. O disparador da coreografia é a estrutura dramatúrgica da jam, pensada como um percurso com início, meio e fim. Essa construção é elaborada pelo grupo, em diálogo com os elementos de cenografia e com as propostas lúdicas, criando uma narrativa corporal que se transforma a partir do improviso. A proposta é criar um espaço de escuta e troca, onde todas as pessoas presentes – independentemente da idade, crianças ou adultos – possam se envolver com o jogo cênico.
Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
Acredito que o papel da dança é imprescindível. Vivemos em um tempo no qual crianças, adolescentes e adultos são pressionados a se adequar a um ritmo que muitas vezes não condiz com suas realidades. É uma sociedade com excesso de tarefas, trabalho e cobranças – mas com pouco espaço para a expressão, para a escuta do corpo e para momentos de presença. A dança oferece justamente essa pausa. Um tempo de reorganização interna. Quando dançamos, somos convidados a estar inteiros no aqui e agora. E, nesse processo, ela desestabiliza padrões, mas também reorganiza, realinha, reintegra. Por isso, vejo a dança como uma prática que conecta as pessoas com sua essência, com os outros e com a sociedade. Dançar, hoje, é um gesto político e poético de resistência aos ritmos desumanos do mundo.

Guiado pelos intérpretes do Coletivo Artístico SalaMUDA, que tocam ao vivo instrumentos diversos, o público deste jogo de improviso é convidado a deixar o corpo se mover em estilos que vão do hip-hop à dança contemporânea. A jam é orientada principalmente por uma prática que o grupo chama de sombra: busca-se imitar a música através do corpo, compreendendo sua duração, textura rítmica e interpretação sonora. Mas trata-se de uma via de mão dupla: abre-se espaço para que crianças também proponham movimentos que ditem o ritmo, experimentando “tocar” a música com o próprio corpo. Assim, a dança e o som se influenciam mutuamente por caminhos variados e imprevisíveis, estabelecendo um espaço de escuta e troca, no qual todas as pessoas presentes – adultos ou pequenos – possam se envolver com a brincadeira.
What was the process like to choose what instruments you would use in Jam Infantil [Children’s Jam Session] and how do they contribute to the jam session?
Our process took into account the possibility of exploring different textures and timbres. We chose to build a set with contrasting sounds, avoiding the presence of too many similar instruments, such as strings that sound alike. This diversity broadens the way children listen and enhances the improvisational play, allowing dance and music to influence each other in different and unpredictable ways. Jamming happens here primarily through a practice widely used by the group, which we call shadowing. We aim to mimic the music through our bodies, understanding its duration, rhythmic texture, and sound interpretation. At the same time, the music also begins to mimic the dance, based on observation of the bodies in motion. This two-way process is adapted for children in a playful way, stimulating their attention, playfulness, and active listening.
The idea is to create a space for listening and exchange, where everyone who is there can engage with the theatrical performance.

How do you work on the movements with the audience?
The movements are based on principles of motor coordination, such as footwork, clapping, jumping, playing with levels and directions — pointing, turning, or raising your arms. When these actions are connected to music, they spark interest and expand the possibilities for movement. The group, which is made up of dance professionals, leads the way, ensuring that the experience has direction and fluidity. However, there are moments when the children are invited to propose movements, allowing the other way around to happen: the music following the dance. This way, they experience what it is like to “play” music with their own bodies. What prompts the choreography is the dramaturgical structure of the jam session, conceived as a journey with a beginning, middle, and end. This construction is formulated by the group, in a conversation with elements of the set and playful proposals, creating a bodily narrative that is transformed through improvisation. The idea is to create a space for listening and exchange, where everyone who is there — regardless of age, whether they are children or adults — can engage with the theatrical performance.
How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
I believe that dance plays an essential role. We live in a time when children, teenagers, and grown-ups are pressured to adapt to a pace that often does not match their realities. It is a society overwhelmed by tasks, work, and burdens, with little space for expression, for listening to the body, and for moments of presence. Dance offers precisely this pause. A time for internal reorganization. When we dance, we are invited to be fully present in the here and now. And in this process, it destabilizes patterns, but also reorganizes, realigns, and reintegrates. That is why I see dance as a practice that connects people with their essence, with others, and with society. Dancing today is a political and poetic gesture of resistance to the inhuman paces of the world.
Conducted by the performers of the SalaMUDA Art Collective, who play different instruments live, the audience of this improvisational play is invited to let their bodies move to the beat of genres ranging from hip-hop to contemporary dance. The jam session is primarily guided by a practice that the group calls shadowing: the aim is to mimic the music through their bodies, understanding its duration, rhythmic texture, and sound interpretation. But this is a two-way street: space is opened up for children to also propose movements that dictate the rhythm, experimenting with “playing” the music with their own bodies. This way, dance and sound influence each other in different and unpredictable ways, establishing a space for listening and exchange, in which everyone who is there — adults and children alike — can engage in the play.
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