¡La Asimetría Es Más Rica! | A Assimetria É Mais Gostosa! | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

Compartilhe:
Foto: Sheila Signário

🇧🇷 🇺🇸

Entrevista com Estela Lapponi | Concepção e performance

A obra se apoia na antropofagia para trazer à tona o pensamento DEF. Como foi o processo de criação?
A ideia nasceu quando eu estudava em Madri, entre 2010 e 2011. Eu estava pensando sobre a opressão de perfeição dos corpos, e a frase era “¡La simetría es más rica!” [a simetria é mais gostosa]. Tenho como prática gravar vídeos sobre o que estou pensando em criar, e fiz um na cozinha, em que Zuleika Brit [performatividade de Corpo Intruso] corta tomates-cereja ao meio e seleciona os que cortou com mais simetria. Fiz o vídeo, olhei e não gostei. Tinha alguma coisa “errada” ali. Anos depois, lembrei dele e entendi – por conta da contínua pesquisa de Corpo Intruso, conceito que criei em 2009 e que me guia como pensamento descolonizador, e do maior entendimento da identidade DEF – o erro crasso da frase. Em “La simetría”, eu afirmava o discurso hegemônico de corpo. A partir da antropofagia modernista, canibalizei as “orôpa” e entendi que a afirmação do corpo assimétrico é que é disruptiva e atua em minha defesa, como corpo abjeto socialmente. Então mudei pra “asimetría”. Além da antropofagia, a performance tem como referência trabalhos de La Ribot e de Almodóvar, em diálogo com o pensamento crítico e criativo do Corpo Intruso.  Trata-se de um corpo lido como feio, mas que se afirma como bonito e gostoso, tensionando os desejos da corponormatividade.

A partir da antropofagia modernista, entendi que a afirmação do corpo assimétrico é disruptiva e atua em minha defesa, como corpo abjeto socialmente.

Foto: Sheila Signário
Foto: Sheila Signário

Você trabalha a repetição da frase-título, um ritual de cortar frutas e de compartilhá-las com a plateia. Como esses elementos agem em cena?
A afirmação é propagada pela insistência em repeti-la, é como se eu enfiasse goela abaixo, literal e simbolicamente, a ideia no espectador. Vou brincando com as intenções e entonações de acordo com a relação com o público, como se a frase fosse uma microdramaturgia. Além disso, eu crio um nó cognitivo no espectador pela experiência de ouvir a frase muitas vezes, repeti-la em voz alta, pegar a fruta na ponta da faca, colocá-la na boca, mastigar e engolir para, quem sabe, digerir “¡La asimetría…” e incorporá-la. A ação de cortar é uma representação do corpo hemi, metade DEF, metade bípede, como a concretude dessa “asimetría”.  Corto as frutas usando diferentes tipos de facas, brinco com o risco de realizar a ação “perigosa”, sem segurar o objeto, mostrando outra perspectiva de virtuose, a virtuose DEF.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
A dança é parte da vida humana desde os primórdios – queiram ou não queiram, está em nós através das paradas, carnavais, festas de rua. O que ela mobiliza? Depende do recorte, porque dança é muita coisa, então eu faria aqui o recorte da dança contemporânea.  Para mim, ela nos possibilita criar metodologias, expande nossos conhecimentos, porque se alia a outros campos. Instiga e tem potência subversiva, em relação aos padrões corporais e à própria linguagem, como se continuamente nos perguntássemos: o que é dança? 

Foto: Paris
Foto: Paris

Sinopse

A Assimetria É Mais Gostosa!

A performance de Estela Lapponi se apoia na ideia da antropofagia modernista para colocar em evidência corpos “fora da norma”. Tendo como base suas investigações sobre o Corpo Intruso – pesquisa em torno do pensamento performativo de corpos lidos como dissidentes, como o seu, com deficiência –, ela propõe engolir e digerir uma única frase: “¡La asimetría es más rica!” (a assimetria é mais gostosa). Ela repete os dizeres ao longo de toda a apresentação, como um mantra, enquanto se dispõe a cortar uma série de frutas. Faz uso de facas diversas e formas variadas de ceifar os alimentos, mostrando virtuosismo DEF em realizar a tarefa com apenas uma das mãos. Convoca o público a compartilhar das frutas e também da repetição da frase, como um ritual. Por fim, a artista afirma a beleza do assimétrico e nos convida a experimentar novos sabores e narrativas.


🇧🇷 🇺🇸

Interview with Estela Lapponi | Concept and performance

Your work draws on anthropophagy to bring PwD thinking to the surface. How did the creation process unfold?
The idea was born when I was studying in Madrid, between 2010 and 2011. I was reflecting on the oppression of bodily perfection, and the phrase was “¡La simetría es más rica!” [symmetry is yummier!]. I have a practice of recording videos about ideas I’m developing, and I made one in the kitchen where Zuleika Brit [performing Corpo Intruso] cuts cherry tomatoes in half, picking out the ones cut most symmetrically. I recorded the video, watched it, and didn’t like it. Something felt “wrong.” Years later, I revisited it and understood — thanks to my ongoing research on Corpo Intruso, a concept I created in 2009 as a decolonial framework, and my deeper understanding of PwD identity — the fundamental flaw in that phrase. In “La simetría,” I was reinforcing a hegemonic discourse about the body. Through modernist anthropophagy, I “cannibalized” European references and realized that affirming the asymmetrical body is what is truly disruptive and acts in my defense as a socially abject body. So I changed it to “asimetría.” Beyond anthropophagy, the performance draws inspiration from the works of La Ribot and Almodóvar, in dialogue with the critical and creative thinking of Corpo Intruso. It is about a body perceived as ugly, yet one that asserts itself as beautiful and desirable, challenges the norms and desires upheld by normative body standards.

Drawing from modernist anthropophagy, I realized that affirming the asymmetrical body is disruptive and acts in my defense as a socially abject body

Foto: Sheila Signário
Foto: Sheila Signário

You work with the repetition of the title phrase, a ritual of cutting fruit, and sharing it with the audience. How do these elements operate on stage?
The affirmation is amplified by the insistence on repeating it — as if I were forcing the idea down the audience’s throat, both literally and symbolically. I play with intonations and intentions based on my interaction with the audience, as if the phrase itself were a microdramaturgy. I also create a cognitive knot for the audience by having them hear the phrase many times, repeat it aloud, take fruit from the tip of the knife, place it in their mouths, chew, and swallow — perhaps even digesting “¡La asimetría…” and embodying it. The act of cutting is a representation of the hemibody — half PwD, half biped — the concrete reality of this “asimetría.” I cut fruit using different kinds of knives, playing with the risk of performing a “dangerous” action without holding the object, presenting another perspective on virtuosity — PwD virtuosity.

How do you see the role of dance in today’s society, and what can it mobilize or reveal about our times?
Dance has been part of human life since its beginnings — whether people like it or not, it exists in parades, carnivals, and street festivals. What does it mobilize? It depends on the lens, because dance encompasses so much. Here, I’d focus on contemporary dance. To me, it allows us to create methodologies and expand knowledge because it intersects with other fields. It provokes, it carries subversive potential in relation to bodily norms and to language itself, as if we were constantly asking: what is dance?

Synopsis

Asymmetry Is Yummier!

Estela Lapponi’s performance draws on the idea of modernist anthropophagy to highlight “non-normative” bodies. Based on her research on the Corpo Intruso  — a performative investigation of dissident bodies like her own, with a disability — she proposes to swallow and digest a single phrase: “¡La asimetría es más rica!” (Asymmetry Is Yummier!). Throughout the piece, she repeats the phrase as a mantra while cutting different fruits. Using several knives and various slicing methods, she showcasesPwD virtuosity by performing the task with only one hand. She invites the audience to both share the fruit and join in repeating the phrase, as part of a communal ritual. In the end, the artist celebrates the beauty of asymmetry and invites us to experience new flavors and narratives.

Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.