
O espetáculo se inspira no boneco Mané Gostoso para explorar a simplicidade do brincar. Como foi o processo de criação?
Mané Boneco nasceu como um convite do Sesc Santo André para criar uma intervenção para a Semana Mundial do Brincar, ou seja, esse espetáculo seria encerrado após essa curta temporada. Porém, seu processo foi revelando alguns prazeres e surpresas. O brinquedo é um boneco trapezista e, com isso, fez muito sentido a ideia de virtuosismo estar presente. As movimentações de articulações foram uma base de estudo para o desenvolvimento das corporeidades, assim como a necessidade da interação para gerar movimento e a diversão que o brinquedo carrega. Todos foram elementos que alimentaram nossa criação. Tem que ser “gostoso”, prazeroso, assim como é quando se brinca.
Todo o trabalho está relacionado a esse ambiente do brincar. Tem que ser “gostoso”, prazeroso, assim como é quando se brinca

A obra faz uso de um elemento simples (bastões de madeira) para guiar os movimentos. Como foi concebida a coreografia e como ela se liga com a pesquisa do grupo sobre o breaking?
Todo o trabalho está relacionado a esse ambiente do brincar. Está carregado de subtextos que cada intérprete desenvolveu e foi lapidando durante a criação, um pensamento sobre as diferentes maneiras de se estabelecer proximidade. Para Mané, a necessidade do que é móvel, do que é vivo, e a possibilidade de acolher o tempo e os elementos de cada dia são essenciais. Para isso, a concepção é construída sobre o estudo que chamo de Composição em Tempo Real. Existem cenas preestabelecidas, porém não são rígidas – consigo compor, jogar e restabelecer uma nova dinâmica a cada apresentação. Os bastões são elementos utilizados em diversas culturas, e aqui tivemos como referência um tipo de treinamento da Capoeira Angola em que a proposta é esquivar, desviar-se da beriba [madeira que compõe o berimbau]. A capoeira e o breaking são danças irmãs. Escolhemos jogar com diferentes elementos, não apenas com a esquiva, mas também com o acolhimento, com os impulsos e com as traves. Essas explorações estão na ideia de jogo, de desdobramentos a partir de fundamentos, códigos e signos. Quando eu jogo, sei que sou parte de uma construção, que colaborar é o caminho. Marcar, definir e deixar rígido não fazem parte dos fundamentos desse procedimento. Nosso intuito não é revelar, e sim criar um espaço para reconhecimento e busca.
Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
Quando essa questão aparece, surgem outras perguntas. Que danças são essas? E quais territórios elas ocupam? A depender do recorte, a resposta também será plural e com muitas camadas. Nossa base de pesquisa [breaking] ocupa um papel fundamental culturalmente, de criar pertencimento e reconhecimento. Criar é gerar, é ampliar o olhar para as possibilidades de inventar, inclusive de colaborar para novos mundos. Acredito que nosso fazer vai ao encontro de movimentar o “ajuntamento” de pessoas. Todo dia temos que criar espaços para dar vida à experiência e à beleza vivida em arte.

O boneco Mané Gostoso, artefato de madeira popular, é a base do espetáculo do Zumb.boys, voltado a crianças. Essa espécie de marionete trapezista tem pernas e braços articulados, acionados por cordões. A brincadeira é tracionar as hastes que o sustentam, criando movimentos diversos, piruetas e malabarismos. Inspirados por esse mecanismo, os intérpretes em cena bebem em gestos do breaking – base da trajetória do grupo – e de linguagens como a da capoeira. Fazendo uso de bastões de madeira, apresentam acrobacias, movimentos de esquivo e improviso, buscando um corpo virtuoso, brincalhão e articulado. Numa dança em diálogo com o público, o trabalho se abre ao encontro e ao compartilhamento do presente. A ideia é que seja um momento prazeroso, “gostoso”, resgatando a simplicidade e a diversão do brincar.
The show is inspired by the puppet Mané Gostoso to explore the simplicity of play. How was your creative process?
Mané Boneco was born as an invitation from Sesc Santo André to create an intervention for International Week of Play, meaning that the show would end after this short season. However, the process revealed some pleasures and surprises. The toy is a trapeze puppet, so the idea of virtuosity made a lot of sense. Joint movements were the basis for studying the development of corporeality, as well as the need for interaction to generate movement and the fun that toys bring. These were all elements that fed into our creation. It has to be “delightful,” enjoyable, just like when we play.
All the work is connected to this environment of play. It has to be “delightful,” enjoyable, just like when we play

The piece uses a simple element (wooden sticks) to guide the movements. How was the choreography conceived and how does it connect with the group’s research on breakdancing?
All the work is connected to this environment of play. It is loaded with subtexts that each performer developed and refined during their creation process, a reflection on the different ways of establishing closeness. For Mané, the need for what is moving, what is alive, and the possibility of embracing time and the elements of each day are essential. The concept for this is built on a study I call Real-Time Composition. There are pre-established scenes, but they are not rigid — I can compose, play, and reestablish a new dynamic with each performance. Sticks are elements used in different cultures, and here we used a type of Capoeira Angola training as a reference in which the goal is to dodge and avoid the beriba [the wood that makes up the berimbau]. Capoeira and breakdancing are sibling dances. We chose to play with different elements, not just dodging, but also welcoming impulses and beams. These explorations are part of the idea of play, of unfolding from fundamentals, codes, and signs. When I play, I know that I am part of a construction, that collaboration is the way forward. Marking, defining, and rigidly setting things in stone are not part of the fundamentals of this process. Our intention is not to reveal, but rather to create a space for recognition and exploration.
How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
When this question comes up, other questions arise. What dances are these? And what territories do they occupy? Depending on the perspective, the answer will also be plural and multi-layered. The foundations of our research [breakdancing] play a fundamental cultural role in creating a sense of belonging and recognition. To create is to generate, to broaden one’s view of the possibilities of invention, including collaborating to create new worlds. I believe that what we do is in line with bringing people together. Every day we have to create spaces to give life to the experience and beauty experienced in art.
Mané Gostoso is a popular wooden puppet that provides the basis for this show aimed at children by Zumb.boys. This kind of trapeze puppet has articulated legs and arms, operated by strings. The game is about pulling the rods that support it, creating a variety of movements, tricks, and twirls. Inspired by this mechanism, the performers on stage draw on gestures from breakdancing — the basis of the group’s background — and languages such as capoeira. Using wooden sticks, they perform acrobatics, dodging, and improvising numbers, pursuing a virtuous, playful, articulate body. In a dance that engages in a conversation with the audience, this piece opens itself up to encounters and sharing in the present moment. The idea is that it should be an enjoyable, “delightful” moment, reclaiming the simplicity and fun of play.
Confira a entrevista com com DJ Michell.
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.