Uma curadoria literária que amplia horizontes, conectando leitores a novas perspectivas sobre o mundo, a natureza e a imaginação. créd. Miguel Nassif
Na Estante está presente na Biblioteca do Sesc Campinas desde março de 2023, com o propósito de ampliar o repertório de leitura do público frequentador. A iniciativa busca destacar obras e temas que, muitas vezes, passam despercebidos no dia a dia, promovendo novas perspectivas sobre o mundo, o passado e o futuro.
A cada dois meses, uma curadoria — realizada por uma personalidade ou instituição — seleciona 15 livros, que ficam expostos em uma estante de destaque. Escritores, atrizes, pesquisadores e outros convidados trazem sua visão singular, proporcionando uma experiência de leitura diversificada e instigante.
Nos meses de março e abril, as curadoras convidadas são Leda Cartum e Sofia Nestrovski. A seleção deste período conduz os leitores por uma jornada que atravessa viagens submarinas, invasões alienígenas, imersões na floresta, gabinetes de curiosidades e até descrições minuciosas de pombos e líquens. Cada obra, seja clássica ou contemporânea, reflete sobre a natureza e sobre nós mesmos — e serviu de inspiração para Vinte Mil Léguas.
Frankenstein, Mary Shelley. Editora Antofágica, trad. Fabio Bonillo.
O que forma o ser humano? O ambicioso sonho de um cientista está fadado a levá-lo a uma jornada de provações. Trata-se de Victor Frankenstein, um jovem deslumbrado com a ciência e que deseja deixar sua marca nos avanços do conhecimento fazendo um experimento inédito: a criação de um ser humano em laboratório.
Origem das espécies, Charles Darwin. Editora Ubu, trad. Pedro Paulo Pimenta.
Publicada em 1859, A origem das espécies, do naturalista inglês Charles Darwin, mudou para sempre a maneira como os seres humanos compreendem a si mesmos e o mundo à sua volta. Baseada no texto original, com tradução e apresentação do professor de filosofia da USP, Pedro Paulo Pimenta, esta edição traz ainda os artigos que anunciaram a teoria da seleção natural, os acréscimos mais importantes às edições posteriores e as primeiras reações do mundo científico à obra – fazendo desta a edição mais completa já publicada em língua portuguesa. Com impressão em duas cores, o volume possui mais de trinta aquarelas de plantas e animais ilustrados por Alex Cerveny.
Sob os tempos do equinócio, Eduardo Neves. Editora Ubu.
Nesta síntese de oito mil anos de história da Amazônia central, baseada em décadas de pesquisa arqueológica na região, Eduardo Góes Neves contraria o senso comum e revela a riqueza do processo de ocupação humana na região. O autor apresenta uma reconstituição da história da ocupação humana da Amazônia central no longo período transcorrido desde o início do Holoceno, cerca de 10 mil anos atrás, até os primeiros momentos da colonização europeia, no século XVI. É contribuição importante ao debate teórico e metodológico da arqueologia brasileira, escrito de forma acessível a todos os interessados na história dos povos indígenas das terras baixas e na Amazônia.
Guerra dos mundos, H. G. Wells. Editora Suma, trad. Thelma Médici Nóbrega.
Eles vieram do espaço. Eles vieram de Marte. Com tripés biomecânicos gigantes, querem conquistar a Terra e manter os humanos como escravos. Nenhuma tecnologia terrestre parece ser capaz de conter a expansão do terror pelo planeta. É o começo da guerra mais importante da história. Como a humanidade poderá resistir à investida de um potencial bélico tão superior? Publicado pela primeira vez em 1898, A guerra dos mundos aterrorizou e divertiu muitas gerações de leitores.
Vinte mil léguas submarinas, Júlio Verne. Companhia das Letras. trad. Júlia da Rosa Simões.
A aventura começa quando Dr. Pierre Arronax é convidado pelo Secretário da Marinha dos Estados Unidos a participar de uma expedição de pesquisa naval a bordo do Abraham Lincoln. O objetivo é encontrar um monstro marinho, avistado no Oceano Pacífico. Durante o confronto, Arronax, seu criado Conseil e o arpoador canadense Ned Land são lançados ao mar, para serem subsequentemente resgatados pelo submarino do capitão Nemo, o Nautilus. Narrado por Arronax, o livro é um vasto passeio pelos oceanos do mundo e suas maravilhas submarinas, descritas em detalhes por Verne.
A trama do mundo, Merlin Sheldrake. Editoras Fósforo/Ubu, trad. Gilberto Stam.
O biólogo e escritor inglês Merlin Sheldrake é apaixonado pelo mundo dos seres invisíveis desde criança. Com o tempo, os fungos dominaram sua curiosidade e ele mergulhou de cabeça neste universo singular: ainda na faculdade, fez bebidas alcoólicas a partir de receitas medievais e, depois, se arrastou pelo solo de florestas tropicais coletando espécimes, passou incontáveis horas no laboratório, provou a psilocibina dos cogumelos mágicos, visitou e entrevistou outros pesquisadores e aficionados. A trama da vida, o resultado desse mergulho, contempla ainda uma desconcertante reflexão sobre o fazer científico.
O mundo perdido, Arthur Conan Doyle. Editora Todavia, trad. Samir Machado de Machado.
Liderada pelo professor Challenger, um paleontólogo excêntrico e carismático, uma expedição científica parte de Londres para explorar um território longínquo da Selva Amazônica, congelado desde o tempo em que os dinossauros vagavam sobre a Terra. Aparentemente impossível de penetrar, esse mundo perdido apresenta diversos perigos para os quatro membros do grupo, de homens-macaco selvagens a terríveis criaturas pré-históricas. Obra precursora de todos os livros e filmes sobre os dinossauros, o romance de Arthur Conan Doyle – o criador do célebre detetive Sherlock Holmes – foi lançado em 1912, mas permanece um irresistível clássico para todas as idades.
Catorze camelos para o Ceará, Delmo Moreira. Editora Todavia.
Em 1859, catorze camelos desembarcaram em Fortaleza para serem usados como transporte de carga. Foram recebidos pelo engenheiro e mineralogista barão de Capanema, o botânico Freire Alemão e o poeta e etnólogo Gonçalves Dias, responsáveis pela primeira expedição científica brasileira, que partiu do Rio de Janeiro e foi até o Norte do país. O jornalista Delmo Moreira recria aqui a aventura dessa expedição, uma tragicomédia que misturou pioneirismo, vocação científica, burocracia e alguma cachaça. Em meio a desvios de rota, férias prolongadas e conflitos com os locais, a história da expedição é também a de um país que começava a se descobrir e um retrato do Brasil no auge do Império.
Planeta simbiótico, Lynn Margulis. Editora Dantes, trad. não encontrado.
Nesta obra insurgente, Lynn Margulis faz um balanço dos resultados de seus estudos e desdobra as implicações da simbiose para além da célula, indo até os ecossistemas. Lynn nos lembra que ainda na pré-história, quando as bactérias primitivas começaram a liberar oxigênio na atmosfera terrestre, houve uma hecatombe maior do que qualquer guerra nuclear ou efeito estufa. No entanto, a vida continuou. Para a professora Margulis, Gaia não está ameaçada pela nossa estupidez pois a humanidade é apenas mais uma entre as muitas espécies existentes, e só pode fazer mal a si mesma.
O turista aprendiz, Mario de Andrade. Editora Tinta da China Brasil, trad. Flora Thomson-Deveaux.
Um ano depois de escrever Macunaíma, Mário de Andrade, que vinha pesquisando trabalhos de antropólogos e exploradores sobre as cosmologias de povos indígenas no Brasil, ansiava pelo contato direto com a Amazônia e suas fascinantes culturas. Entre maio e agosto de 1927, o autor integra então a comitiva da mecenas Olívia Guedes Penteado, que o leva até o Peru e a Bolívia e tem como resultado essa obra incontornável de sua produção. Registro da expedição à Amazônia, mistura relatos, descrições arrebatadas de um escritor paulista na floresta, comentários mordazes e passeios pela ficção.
O Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli, João Brigola, Lorelai Kury; Domenico Vandelli, Fabio Scarano, entre outros (org.). Editora Dantes.
Cinco capítulos sobre história natural através do tempo. Do século XVII aos nossos dias. O fio condutor é Domenico Vandelli. O livro apresenta a transformação do universo científico europeu do iluminismo ao contato com a diversa natureza brasileira.
Banzeiro òkòtó, Eliane Brum. Companhia das Letras.
Em 2017, adotou a floresta como casa ao se mudar de São Paulo para Altamira, epicentro de destruição e uma das mais violentas cidades do Brasil desde que a hidrelétrica de Belo Monte foi implantada. A partir de rigorosa pesquisa, Brum denuncia a escalada de devastação que leva a floresta aceleradamente ao ponto de não retorno. E vai mais além ao refletir sobre o impacto das ações da minoria dominante que levaram o mundo ao colapso climático e à sexta extinção em massa de espécies. Neste percurso às vezes fascinante, às vezes aterrador, a autora cruza com vários seres da floresta e mostra como raça, classe e gênero estão implicados no destino da Amazônia e da Terra.
Terra Papagalorum, Paulo Vanzolini e Gerda Brentani. Imprensa Oficial.
Uma compilação de textos leves e divertidos de Paulo Emílio Vanzolini e desenhos detalhados da fauna brasileira assinados por Gerda Brentani. Outra faceta de Vanzolini, que acumula, entre outros, títulos de cientista, músico, zoólogo e médico, é reforçada na obra que demonstra sua paixão pelos animais. São mais de 80 verbetes que abordam aves, insetos, quadrúpedes, anfíbios e répteis de maneira peculiar, acompanhados de ilustrações expressivas. Muito além de uma edição científica, Terra Papagalorum é um livro de arte que traduz uma extensa lista de bichos brasileiros em interpretações muito próprias.
A planta do mundo, Stefano Mancuso. Editora Ubu, trad. Regina Silva.
A planta do mundo, novo livro do botânico e fundador da neurobiologia vegetal Stefano Mancuso, dá destaque à inclinação literária desse cientista apaixonado pelas plantas. O livro trata das árvores da liberdade plantadas na Revolução Francesa, das cidades sem plantas, dos troncos de árvore especiais para fazer violinos Stradivarius, de sementes enviadas à Lua e até mesmo do caso em que um perito botânico ofereceu provas para desvendar um crime. As plantas estão em toda parte para quem está aberto a percebê-las. Mancuso é um grande educador dessa sensibilidade para novos leitores.
A sexta extinção, Elizabeth Kolbert. Editora Intrínseca, trad. Mauro Pinheiro.
Ao longo dos últimos quinhentos milhões de anos, o mundo passou por cinco brutais extinções em massa, nas quais sua biodiversidade caiu de maneira abrupta. Dessas, a mais conhecida foi a que eliminou, entre outros seres vivos, os dinossauros, quando um asteroide colidiu com o planeta há 65 milhões de anos. Atualmente, vem sendo monitorada a sexta extinção, que tem potencial para ser a mais devastadora da história da Terra. Mas, dessa vez, a causa não é um asteroide ou algo semelhante. Nós somos a causa.
Leda Cartum e Sofia Nestrovski são os nomes por trás do Vinte mil léguas: o podcast de ciências e livros, cuja primeira temporada foi publicada em livro, As vinte mil léguas de Charles Darwin: o caminho até a ‘Origem das espécies’ (2022, Fósforo/ Edições Sesc). A dupla também fez a curadoria do módulo brasileiro da exposição Darwin: o original (Sesc/Universcience – Paris), que esteve em cartaz no Sesc Campinas em 2023.
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