Na Plateia #1 — Lee Ranaldo

15/12/2017

Compartilhe:

Para um artista, às vezes, colocar-se na posição do público pode parecer complicado, mas para Lee Ranaldo, guitarrista e membro fundador do Sonic Youth, é conversa pra mais de uma hora. Lee, além de ter ajudado a moldar a cultuada estética do som experimental que subverteu a linguagem do rock americano nos anos 80, também conseguiu, ao lado do Kim Gordon e Thurston Moore, traduzir o espírito jovem de uma época.

Ali sentado “Na Plateia” durante uma passagem de som no Sesc Bom Retiro, pedimos ao guitarrista que listasse pelo menos três shows que fizeram a sua cabeça. Resultado: ganhamos uma aula. No vídeo, Lee esmiuça a cena no wave da Nova York do final dos anos 70 com boas doses de ruídos, drogas e acidentes nucleares. O relato na íntegra vem na sequência.



Turnê do Talking Heads na revista Rolling Stone de 1977

01 — Cabeças falantes

“Eu estava terminando meus estudos na universidade e começando a minha primeira banda, o que fez com que eu me mudasse para Nova York e começasse a ouvir falar da música new wave, que estava ficando popular em Nova York e ouvíamos sobre o Television, Ramones, Richard Hell and the Voidoids, Talking Heads, e a Blondie…

E eu não conhecia muito sobre aquela música, porque era muito nova. O Talking Heads veio à minha cidade, Binghamton, pra fazer um show. E acho que foi logo após Jerry Harrison ter se juntado à banda. Eles ainda faziam suas turnês em peruas, então eles não eram muito conhecidos, era uma turnê muito pequena.

Eles tocaram num pequeno bar que ficava próximo ao campus da faculdade. Nós fomos porque ficamos curiosos quanto à música deles. Acho que ainda não tínhamos ouvido o disco deles, talvez apenas o primeiro single. Nós não sabíamos o que esperar. E foi bem quando os caras com quem eu estava tocando na época tínhamos uma banda e estávamos escolhendo músicas covers bem legais para tocar e compondo algumas músicas próprias, mas estávamos escolhendo músicas covers.

O engraçado foi que mais tarde, muitas das músicas que escolhemos se tornaram sucessos para algumas dessas bandas new wave. Então, estávamos escolhendo as músicas certas. Mas, assistir ao show deles aquela noite causou uma impressão muito forte em mim. Não tinha a menor ideia do que eles iam fazer, mas eles tinham um visual realmente estranho e todos tinham cabelos curtos e pareciam ser universitários ao invés de parecerem hippies. E todos eles usavam relógios de pulso, o que achei muito estranho, porque quando você pensa em rock’n’roll, não imagina músicos tocando e usando relógios e coisa assim. Mas, mais do que qualquer outra coisa, a música era surpreendente, incrível. E eu me senti totalmente convertido e eu os assisti muitas vezes depois disso.

Capa do debut do Talking Heads lançado em 1977

E era sempre incrível. Mas esse foi um pouco antes de o primeiro disco deles sair. Então foi em 77 ou 78, porque o disco chama-se “Talking Heads 77 ”. Não consigo me lembrar exatamente quando foi esse show. Eu deveria checar isso. Pois fiquei muito impressionado com eles. E eles também tocaram alguns covers significativos no final da noite, que ajudaram a definir o que era a música deles e de onde ela vinha e coisa assim. Mas achei eles totalmente incríveis e o som era algo que eu jamais tinha ouvido antes. Eles não tocavam com guitarra distorcida ou amplificadores no talo. Era um som muito bem comportado e refinado. Foi simplesmente lindo, um show incrível. E, praticamente, da noite para o dia, cortei meu cabelo e mudei meu vestuário, e realmente entendi o que esse novo movimento significava, depois de tê-los visto. Eu meio que tive uma experiência parecida alguns meses depois ouvindo o primeiro disco do Television, pela primeira vez, e senti tipo, “Uau!” eu realmente descobri algo totalmente novo na música que estava acontecendo e isso pareceu ser muito importante.

Então, ver o show deles naquela noite foi um momento extremamente significativo em quase tudo que aconteceu depois disso para mim. Logo depois eu me mudei para Nova York, fundamos a Sonic Youth e fomos em frente, mas foi muito da música e do movimento que aquelas bandas de NY daquele período estavam oferecendo que realmente me impressionaram.”

02 — “Um show apenas… Meltdown”

“Por acaso aconteceu no mesmo ano. Foi um ano muito importante. Havia muitas coisas incríveis acontecendo em Nova York, mas, por volta da mesma época, antes de eu me mudar para Nova York, íamos muito para lá, são umas três horas de carro de Binghamton para lá, então íamos assistir aos shows em Nova York, para vermos o que estava rolando lá. Íamos ao CBGB’s e ao Max’s Kansas City, víamos o Television, os Ramones e tudo o mais…

E naquele ano houve um acidente nuclear em Harrisburg, na Pensilvânia, na Three Mile Island, onde um reator nuclear quase derreteu e foi muito assustador. Quase ocorreu uma explosão nuclear ou algo assim. Foi algo bem assustador e uma manchete relevante naquela época, mas conseguiram controlar a situação. Mas por uma ou duas semanas, todo mundo estava usando uma nova palavra “meltdown”, derretimento, pois era isso que eles diziam que poderia acontecer com o reator. Algumas semanas mais tarde, estávamos lendo o Village Voice pra ver o que podíamos fazer já que íamos para Nova York, e estávamos olhando o anúncio do Max’s Kansas City, de uma sexta à noite, e o anúncio dizia “Um show apenas ‘Meltdown’”. E começamos a rir porque era tão engraçado perceber que uma banda já havia escolhido o nome Meltdown.

Então decidimos ir ver a banda. E foi um desses shows que definiu um novo modo de entender música para mim, e também me apresentou a muitas pessoas diferentes que se tornaram parte do meu mundo nos anos que se seguiram depois que me mudei pra NY. Eu escrevi sobre esse show, pois foi muito significativo.

Rhys Chatham no Max’s Kansas City em 1977

Acontece que o show era de uma banda liderada pelo compositor Rhys Chatham. Foi logo no começo, quando ele apresentou essa peça que ele compôs, e ficou como a marca registrada dele, chamada Guitar Trio, escrita para três guitarras e um cara tocando chimbal hi-hat. É superminimalista. É, basicamente, três guitarras tocando cordas soltas, acho que ninguém toca as cordas, apenas tocam as cordas soltas, primeiro a corda um, depois a segunda, depois a quarta e a sexta e cada vez mais alto. E aí a segunda guitarra começa, depois a terceira e o cara no hi-hat toca… A música dura cerca de meia hora.

E isso foi no começo e eu não sabia quem esses caras eram, mas o Rhys estava liderando a banda e ele era um compositor sério e instruído, ele afinava pianos para La Monte Young e criava essas peças para gongo, e era diretor musical de um centro de arte experimental em Nova York, chamado “The Kitchen”, que ainda existe.

Então, ele vinha desse mundo da música erudita, mas tinha visto os Ramones, e queria usar aquela energia. Muitos compositores da parte baixa de NY faziam isso na época. Eles viram que a música do rock tinha essa energia. E eles estavam realmente empolgados em usá-la. O Rhys estava preso nessa coisa de educação na música erudita, e tinha acabado de descobrir o rock, então ele estava se envolvendo em todas as armadilhas do rock como o aspecto das drogas e da guitarra barulhenta. Lembro-me dele usando uma camisa branca, um colete de couro e óculos de vovó, como o Roger McGuinn, da The Byrds, costumava usar, óculos da vovó, coloridos. Havia dois outros guitarristas no palco. No Max’s Kansas City, se este é o palco, e a plateia está aqui, a plateia se sentava em longas filas de mesas longas fileiras a partir do palco e as pessoas se sentavam em ambos lados delas.

Bem, havia dois outros guitarristas no palco e um era, eu não sabia na época, Glenn Branca, com quem eu tive um longo relacionamento, tocando com ele. Ele é, possivelmente, o melhor compositor dos dois, e o outro cara, chamado David Rosenbloom, que estava na banda do Glenn, era outro cara tocando na cena da parte baixa de NY. Mas o Glenn e o Rhys eram dois pólos, ambos estavam tentando fazer composições que fundiam música minimalista, como as coisas que Steve Reich, Philip Glass, La Monte Young e Terry Riley faziam, e combinando isso com a energia dos Ramones e todas as bandas incríveis que estavam surgindo na época.

Alguém disse que uma das peças de meia hora de Glenn lembrava os três últimos acordes de uma música do The Who, prolongados por meia hora. É uma descrição muito boa. E o baterista, que tocava o hi-hat, era o Wharton Tiers, que também fazia parte daquela cena e com quem o Sonic Youth trabalhou muito.

Ele gravou nosso primeiro disco e muitos outros projetos na década de conosco, e na década de 80, também. Ele nos ajudou a montar o nosso primeiro estúdio de verdade, em meados dos anos 90, e ele foi o nosso engenheiro de som por um bom tempo nos anos 80 e 90. Então, havia esses caras com os quais eu mantive longos relacionamentos e ainda conheço até hoje.

Eles estavam curtindo algo chamado nitrato de amônia (poppers). Vinha num pequeno frasco, que você abria, cheirava e isso te deixava alucinado por uns segundos aí você voltava ao seu estado normal. Eles faziam isso durante o show. E a música tinha, basicamente, uma nota, um acorde. O Rhys começava com isso e os outros o acompanhavam e, aos poucos, ficava cada vez mais alto, até ficar superalto e ficava assim por cerca de meia hora.

O minúsculo Max’s Kansas City em 1976

O Rhys começava a vagar entre as mesas. O clube Max’s era legendário por sua plateia ser confrontada pelos músicos do palco. Quando Suicide tocava lá, Alan Vega andava no meio da plateia e aterrorizava as pessoas, dava murros no rosto dos caras, ou jogava drinques neles… Ele era realmente agressivo e… dramático, sabe? E o Rhys não chegava a esse ponto, mas ele ficava bem chapado. Usava o colete de couro, os óculos da vovó, e tinha um corte de cabelo estranho, como o do Peter Frampton. Ele ficava andando pela plateia, meio perdido, e derrubando a bebida das pessoas, mas a música era incrível. Era simplesmente fascinante.

Eles estavam trabalhando com um fenômeno acústico estranho: simplesmente tocavam, usando apenas as cordas soltas da guitarra e caminhavam com a palheta pelo braço da guitarra, mas tudo aquilo que chamam de “fenômenos acústicos” estavam acontecendo na sala. A sala era pequena e o som era alto, e esses sons aconteciam, mas ninguém os estava executando, na verdade. Todos esses sons agudos, que soavam meio como gamelões.

Todos esses ritmos diferentes e estranhos por cima dos acordes pesados da guitarra, era muito estranho e às vezes soava como um coral de vozes. Todas essas coisas estranhas. E isso foi documentado sobre as propriedades acústicas que aconteciam em salas diferentes. Eu sentia como se estivesse ouvindo uma música que sempre ouvi na minha cabeça, mas nunca havia visto ou ouvido ao vivo. Era realmente muito intenso.

Como eu disse, isso durava de minutos a meia hora, e era surpreendente. Essa peça se tornou a marca registrada do Rhys e ele ficou conhecido com ela, e é uma peça tão incrível que você não precisa de mais nada. Foi tipo ficar famoso com um sucesso, mas isso não desmerece a grandeza da peça.

E aí quando eles terminavam, todo mundo estava um tanto atordoado e a plateia aplaudia depois de um ou dois minutos, porque ninguém conhecia este tipo de música naquele momento, mesmo naquela cena underground. O Rhys voltava para o palco e eles ficavam de costas para a plateia, e acho que ficavam usando um pouco mais da droga, aí ele se virava pra plateia e dizia que eles iam fazer outra peça.

Eles faziam exatamente a mesma peça, por mais meia hora, e era tão incrível quanto da primeira vez, e era um pouco engraçado, também. Mas, da segunda vez, eles projetavam alguns slides, uns cinco ou seis. Cada um deles era projetado e ficava ali por uns cinco minutos, aí desaparecer e aparecia um novo slide. E eles eram bem parecidos com fotografias de filmes, eram em preto e branco e noir, meio como um film noir. Eram fotos de prédios altos na cidade, com as nuvens ao fundo. Todas imagens icônicas muito interessantes. Eram cinco ou seis fotos. Mas eram slides de fotos de um cara chamado Robert Longo, que na época tocava na cena da parte baixa de NY, mas ele era artista visual.

E esses slides foram baseados em alguns dos trabalhos dele da época e ele se tornou um tremendo artista, ele é um artista incrível. Naquela época, todos esses caras estavam tocando em bandas e coisa assim. Ele não estava tocando nessa noite, mas ele era muito próximo do Rhys, e eram os slides dele. E ele também se tornou uma figura muito significativa em minha vida, porque eu também estava fazendo arte visual na época. E Robert fez umas peças chamadas “Men in the City”, que eram homens contorcidos usando ternos. E, na verdade, a capa do disco do Glenn, The Ascension, o primeiro que gravei com o Glenn, a capa é uma foto Robert Longo com Glenn segurando o Richard Prince, outro artista, que também estava numa banda e que fez a capa do meu novo disco, e fez a capa do Sonic Nurse, do Sonic Youth. E essa foto dos dois parece muito com a pose de Cristo, com um segurando o outro que está com os braços abertos, assim, mas vestidos com ternos. Era isso que o Robert estava fazendo na época.

Capa de The Ascencion de Glenn Branca (1981)

Foi uma dessas noites que nunca abandonaram o meu consciente. Então, foi um evento musical muito importante pra mim naquela noite.”

03 — “Teenage Jesus and The Jerks. Eles só queriam fazer música.”

“Sabe, quando eu comecei a estudar a música não estava num período muito interessante. Os shows aconteciam em estádios, não era muito íntimo e nem pessoal. E havia muita música progressiva e coisas que não me interessavam. Eu passei a me aprofundar no meu trabalho de arte visual e não estava fazendo música ao vivo naquela época. Mas aí em 78, quando essas coisas todas começaram a fermentar, isso realmente revigorou o meu interesse em tocar música. Talvez, bem próximo daquele período, provavelmente no final de 79, eu tinha acabado de me mudar para NY, por algum estranho acaso feliz, eu e o baterista que estava tocando comigo fomos parar num loft enorme na parte baixa de Manhattan, em Tribeca, que ainda é o meu bairro em Manhattan, então, estou por lá desde 1979… Mas nos mudamos para lá pelo que seria um período de um ano e acabamos ficando um tempão.

E a alguns quarteirões desse loft para o qual nos mudamos, havia um clube que ficou por lá por um ano e meio ou dois, chamado Tier . Era um clube bem pequenininho, mas era muito significativo, especialmente para… bem, nós falamos sobre o Talking Heads e eles eram parte da new wave, mas esse clube era importante para as bandas no wave. Então, lá eu vi Lounge Lizards, e muitas outras bandas associadas àquela cena, e uma que eu gostaria de falar a respeito é ter visto Teenage Jesus and the Jerks lá. E acho que isso foi no final de 79 ou coisa assim. Então, foi mais ou menos no mesmo período, todas essas coisas aparecendo.

Era a Lydia Lunch, Bradley Field na bateria e não me lembro quem tocava o baixo. Pode ter sido Georges Scott ou Jim Sclavunos. De qualquer maneira, ouvi falar da banda, mas nunca os tinha visto. A Lydia era bem jovem, com uns 17 ou 18 anos, ela era muito bonita, feroz, tinha um visual bem maluco, com um cabelo bem negro.

Capa da coletânea lançada em 1979 pela Migraine Records

Nenhum deles sabia tocar os instrumentos. Eles não sabiam tocar e não estavam nem aí com isso. Eles só queriam fazer música. Então, ela tocava guitarra slide. Esse era um lugar onde DNA tocava, com Arto Lindsay, The Contortions, com James White ou James Chance. Tudo isso estava acontecendo neste clube, e alguns shows eram fantásticos.

Esse show com a Lydia foi um dos que viraram a minha cabeça. Era óbvio que nenhum deles sabia tocar, no entanto, estavam fazendo as músicas mais incríveis de todos os tempos! O baterista tinha um tambor, e talvez uma baqueta apenas. Nem consigo me lembrar. O baixo tinha uma ou duas cordas, e ela tocava a guitarra com um slide, numa guitarra desafinada, tipo fazendo um monte de barulho. Ela escrevia letras ótimas e tinha uma voz fantástica, e ficava gritando ou cantando as letras das músicas, e todas as canções duravam em média segundos ou um minuto e meio. E elas eram superpoderosas, cheias de emoção e ótimas.

O que eu adorava naquele período, especialmente das chamadas no wave, onde às vezes as pessoas não sabiam tocar bem seus instrumentos – às vezes elas tocavam muito bem – é que nada disso importava. Elas estavam tentando reduzir o rock ’n’ roll à coisa que todos nós adorávamos enquanto estávamos crescendo, quando ele era primitivo, antes de a música se tornar progressiva e sofisticada e passar a ter esses equipamentos malucos e se tornar uma coisa chata, sabe?

A música tinha a ver com a propulsão do ritmo e o barulho que escapava da música. Não importava. Tinha aquele barulho que significava o rock’n’roll. E ter alguém cantando ou gritando por cima disso tudo, com uma voz emotiva, dizendo alguma coisa, e as palavras eram poéticas de alguma maneira, e bem agressivas também. Mais do que qualquer coisa, eles eram muito bons.

Então, eram três pessoas que mal sabiam tocar, fazendo o mais incrível e revigorante rock ’n’ roll que eu tinha ouvido. E foi também uma lição do tipo ‘O que você precisa para ser músico ou artista trabalhando com música?’ Era isso. Você precisa ter ritmo, precisa de barulho e de uma voz.

E é isso que o rock ’n’ roll tem sido. E não importa o quão sofisticada seja, pois ela se resume a isso. É isso que todo mundo adora na música do rock desde sempre. Quando você ouvia Chuck Berry ou Buddy Holly, tinha tudo a ver com o ritmo que você queria dançar, e isso está no blues, no R&B, e na cultura negra e tudo mais. Era algo que fazia com que seu corpo se movesse, palavras que mexiam com a sua cabeça, e algum tipo de conjunto de sons, digamos. Então, era muito significativo ver todos esses músicos. Ninguém sabia tocar um acorde de sol ou de dó, mas, isso não importava.

Muitas dessas bandas duraram um ano ou um ano e meio, o mesmo tempo que aquele clube. Foi também uma lição o fato de que não importava se você durasse 30 anos como o Sonic Youth, ou durasse 2 meses. Isso não tinha nada a ver com a grandeza da sua conquista. E foi uma grande conquista daquela banda. O Teenage Jesus não durou por muito tempo, eles gravaram alguns discos incríveis e eles eram incríveis. A Lydia ainda está atuando e fazendo muita coisa, mas… Foi um daqueles shows inacreditáveis que você vai embora pensando “Vi algo inacreditável!”. E, naquela época, Nova York era uma vila pequena, de certo modo. Era uma ilha, não havia a internet, nem jornais de música. Eu não vi Talking Heads em Nova York, mas todas essas bandas, como o que Rhys e Glenn estavam fazendo, que a Lydia estavam fazendo, e até no começo, o que o Talking Heads estava fazendo um pouquinho antes, se você não vivia ou não estivesse em Nova York, você não ficaria sabendo, porque não havia divulgação. Até a Blondie, Talking Heads e The Ramones começarem a ter sucesso, e começarem a viajar mundo afora e pelo país e coisa e tal, antes disso, ninguém ligava para essa música, ela só acontecia em Nova York, então, se você estava por lá, esse foi o período mais explosivo.

Existem essas cidades que têm períodos nos quais todas essas coisas acontecem: Paris, nos anos 20, ou Athens, na Geórgia, quando R.E.M. surgiu, ou Seattle com Mudhoney e Nirvana, e todas essas bandas surgiram. Era isso que estava acontecendo. E Nova York sempre teve isso. Mas naquele período foi realmente incrível com tudo que estava acontecendo e, como eu disse, no começo era só isso: ninguém além das pessoas em Nova York sabiam a respeito, pois não havia imprensa musical, a Rolling Stone não escrevia sobre essas bandas. Na Inglaterra eles tinham a Sounds, Enemy e Melody Maker que estavam sempre colocando novas bandas em suas capas, então estavam cobrindo cada grupo pequeno, mas nos EUA era completamente diferente. Se você morava em Nova York, você só tocava para as pessoas que moravam lá. Você nunca imaginaria que alguém na Califórnia, ou Ohio, ou Londres, ou Paris ia ouvir o que você estava fazendo. E não importava, na verdade, pois tudo estava acontecendo em NY na época.”


Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.