
No dia 22 de novembro de 2025, às 17h30, o Sesc Pompeia apresenta, em coprodução com o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, a performance inédita A Paixão Segundo Pasolini, concebida e dirigida por Antonio Miano e com coreografia de Beth Bastos. O evento gratuito ocupará a área externa da unidade — cruzando a rua projetada por Lina Bo Bardi e o centro de convivência — num percurso que transforma corpo, arquitetura e memória em uma só experiência sensorial.
O elenco reúne intérpretes de múltiplas gerações e origens, entre eles nomes reconhecidos das artes cênicas e da música brasileira. A encenação propõe uma travessia coletiva — uma procissão pública que transforma o espaço urbano em rito, convidando o público a se juntar, evocando a figura de Pasolini como símbolo da tensão entre o sagrado e o profano, o político e o erótico, o humano e o divino.

Nascido em Bolonha, em 1922, e criado no interior do Friuli, Pasolini cresceu entre o campo e a cidade, entre o rigor militar do pai e a delicadeza da mãe professora. Estudou literatura na Universidade de Bolonha e cedo começou a escrever poemas, romances e ensaios. Comunista, cristão e homossexual — três dimensões que jamais conseguiu reconciliar, mas também jamais negou —, Pasolini fez de sua vida uma permanente contradição criadora.
Nos anos 1950, iniciou sua carreira como roteirista, colaborando com Roberto Rossellini e Federico Fellini. Logo passaria à direção, filmando a miséria e a espiritualidade das periferias italianas com uma câmera impregnada de compaixão e fúria. Filmes como Accattone (1961), Mamma Roma (1962) e O Evangelho Segundo São Mateus (1964) revelaram um autor de estética austera e ética incômoda.
Sua obra literária e cinematográfica denunciou o avanço da cultura de consumo, a hipocrisia burguesa e a perda das tradições populares italianas. Em meio à radicalidade de suas ideias e à coragem de sua vida pessoal, Pasolini foi assassinado brutalmente em 2 de novembro de 1975, em Ostia, nos arredores de Roma. Seu corpo — espancado e atropelado pelo próprio carro — foi encontrado ao amanhecer, num descampado à beira-mar.
O crime foi inicialmente atribuído a um garoto de programa de 17 anos, sugerindo uma motivação homofóbica; mas logo surgiram indícios de uma emboscada articulada por grupos neofascistas, possivelmente ligados ao roubo dos rolos de Salò, ou os 120 Dias de Sodoma — seu filme mais polêmico, cuja estreia ocorreria apenas três semanas depois.
A brutalidade do assassinato e o mistério que o envolve permanecem como uma ferida aberta na história cultural europeia. O mundo inteiro ficou perplexo diante da tentativa de apagar, com tamanha violência, o corpo e o pensamento de um dos artistas mais livres e inconformados do século XX.

Cinco décadas depois, A Paixão Segundo Pasolini revisita essa vida e morte como um ato de resistência e amor. Mais do que relembrar o artista, a performance propõe encarnar seu olhar — aquele que via beleza nas ruínas, fé no escândalo e humanidade nas margens.
A ação dá continuidade à parceria entre o Sesc São Paulo e o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, iniciada em 2022 com a mostra Os 100 anos de Pasolini. Desta vez, o tributo ganha corpo, movimento e presença — uma celebração trágica e luminosa dedicada a um dos artistas mais visionários do século XX.
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