O Anel – Alaíde Costa Canta José Miguel Wisnik

06/12/2020

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O novo álbum O Anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik é o destaque do Selo Sesc em dezembro, celebrando mais de 50 anos de parceria entre a renomada cantora e o talentoso compositor. O disco será lançado nesta terça-feira, 8 de dezembro, coincidentemente no dia em que Alaíde Costa completa 85 anos, e estará disponível nas plataformas de streaming e no Sesc Digital.

Ouça o single “Saudade da Saudade”

Para quem não quer esperar, já é possível ouvir o single “Saudade da Saudade”, uma colaboração entre José Miguel Wisnik e Paulo Neves. Esta faixa, verdadeira obra-prima, destaca o canto envolvente de Alaíde, acompanhado pelo piano de Zé Miguel, o contrabaixo de Zeca Assumpção e a bateria de Sérgio Reze. Juntos, eles transformam a expressão “ser/saudade de você” em uma experiência de presença e ausência única.

Amizade musical

Além da música, você pode explorar a origem dessa amizade musical lendo o texto do próprio compositor. Ele rememora essa parceria límpida e ainda intacta, que resistiu ao tempo, com uma das maiores cantoras brasileiras. Não perca a oportunidade de celebrar essa união musical e a trajetória de Alaíde Costa, grande ícone da música brasileira!


O Anel

por José Miguel Wisnik

para Hermínio Bello de Carvalho

Em outubro de 1968, Alaíde Costa cantou “Outra viagem” no Festival Universitário da TV Tupi. Eu tinha arriscado a sorte inscrevendo a canção com a qual saía de anos de estudo de piano clássico na adolescência para uma primeira aventura na música popular. De presente, a organização do festival me oferecia uma lista de intérpretes na qual brilhava, quase inacreditável, o nome da intérprete de “Onde está você” (de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini), sucesso nacional em 1965. Que cantara baladas medievais e renascentistas no Teatro Municipal, num concerto de Alaíde com alaúde, e que também transitava, assim, entre o popular e o erudito. Essa experiência foi meu batismo na canção. Venho aprendendo desde então o quanto, em Alaíde, a pessoa e o canto têm a mesma limpidez de cristal, uma integridade igual à sua memória incorruptível, e um coração pulsando na voz.

Até hoje ela não tinha gravado “Outra viagem”. Mas o elo entre nós ficou vivo, silencioso e intacto por mais de 50 anos. É ele que retorna na canção “O anel”, que dá nome ao disco. Depois que a produção escolheu o estúdio Space Blues, por um conjunto de critérios técnicos e musicais, me dei conta de que ele fica a poucos passos do lugar onde era o antigo auditório da TV Tupi, e colado muro a muro com a casa em que ficava a produção do Festival Universitário, onde eu e Alaíde nos conhecemos. Por uma misteriosa “volta e meia” da vida, retornávamos ao começo.

“Aparecida”, composta há muitos anos, nunca tinha sido gravada e agora, cantada por ela, parece feita para abrir o disco. “Saudade da saudade” (com Paulo Neves) evoca a bossa nova e as “canções só feitas de canções”. “Ilusão real” é uma parceria com Guinga que, como eu, teve em Alaíde a sua primeira intérprete. O arranjo para sopros é de Nailor Proveta. “Estranho jardim” é uma balada quase esquecida do meu primeiro disco, que ela escolheu cantar, assim como “Ilusão real”. “Assum  branco”, minha homenagem às vozes que nos fazem voar,  tornou-se um cântico e um acalanto. Desde o começo eu queria muito ouvi-la em “Por um fio” (também com Paulo Neves), canção que parece descrever o modo como ela própria canta e, nesse caso, contracanta com o violoncelo de Jaques Morelenbaum, que surge aqui como a verdadeira “voz do outro em mim”. Em “Laser” (com Ricardo Breim), a leveza capaz de cortar diamante ao meio é bem a dela. E a gravação de “Outra viagem” ficou parecendo vir de lá, daquele “estranho festival” de outras eras (“há tanto tempo, quanto faz?”).

“Olhai os lírios do campo”, que fecha o disco, é uma canção que fiz em 1966 para uma peça teatral no meu colégio público, em São Vicente. A letra era de Flávio Rezende, um querido e animado colega, cujos primeiros versos eu lembro, mas os outros tive que reconstituir. Ela respira singelamente um espírito bachiano que estava em voga na época, e no qual se incluía o “Onde está você”, que certamente me influenciou. As duas músicas aparecem juntas para dizer em sons o quanto eu, desde lá, me afinava com as finezas de Alaíde.

O trio de piano, contrabaixo e bateria que formei com Zeca Assumpção (cujas cordas cantam) e Sérgio Reze (cujos gongos cantam), as participações sensibilíssimas de Jessé Sadoc ao flughel, Shen Ribeiro nas flautas e Alexandre Fontanetti na guitarra, além de Jaques Morelenbaum, Nailor Proveta mais seu grupo de sopros e Alê Siqueira na produção, todos nos dedicamos a homenagear e servir essa deusa da canção brasileira, delicada e contundentemente visceral, que faz 85 anos no esplendor de sua arte.

José Miguel Wisnik é músico, compositor e ensaísta brasileiro


Capa do álbum O Anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik

Ouça O Anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik nas plataformas de streaming e no Sesc Digital

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