Livro reúne entrevistas em que Manguel revisita sua trajetória como escritor e leitor apaixonado, revelando-se um narrador brilhante e reflexivo, guiando-nos por memórias
Alberto Manguel se tornou conhecido por ter sido, ainda adolescente, leitor oficial de ninguém menos que Jorge Luis Borges. Nas entrevistas de Uma vida imaginária, contudo, feitas de forma simultaneamente densa e leve por Sieglinde Geisel, o leitor descobre quantas outras facetas compõem o homem, leitor e escritor Alberto Manguel.
Longe de ter se tornado quem é por sua convivência com o mestre, foi por Manguel já ser quem era que Borges o escolheu. Tido como uma das pessoas que mais leu no planeta, esse colecionista e humanista escreve como quem procura dar conta daquele livro total, daquela Babel com que seu mestre sonhava. Há dez anos, Manguel lê, todas as manhãs, um canto da Divina comédia de Dante, obra que conhece de cor. Em seus livros, como Uma história da leitura, O leitor como metáfora e Os livros e os dias, entre muitos outros, é como se Manguel se tornasse Virgílio, o guia de Dante, conduzindo o leitor pelos círculos do inferno, pelo purgatório e pelo céu da literatura, cujo centro, ou Beatriz encarnada, é a própria Divina comédia. Para cada pergunta da crítica Sieglinde, nesta entrevista-diálogo, o escritor lembra de obras que explicam, exemplificam, mas principalmente problematizam questões fundamentais.
“Perguntas são mais importantes do que respostas” é um dos lemas desse homem que chega a apreciar as sequelas de um derrame cerebral, pois lhe permitem observar o funcionamento de seu cérebro.
Numa conversa que cobre desde sua infância, criado por uma babá alemã culta e circunspecta, passando por inúmeras mudanças de países e línguas – Alemanha, Argentina, Israel, Suíça, Estados Unidos, Canadá, França e, agora, Portugal –, Manguel revela pormenores de sua vida pessoal para explicar sua relação visceral com os livros. Com uma biblioteca que conta mais de 40 mil exemplares e que, como ele, também se desloca de país em país, o escritor se considera mais um estudioso do que verdadeiramente um pensador.
Seu trabalho é dar a ver, trazer à luz as semelhanças entre livros como As confissões de santo Agostinho e Alice no País das Maravilhas, ou entre o Bhagavad Gita e Espinosa. Sua memória, equiparável a uma biblioteca, funciona como repositório de listas e contrastes, generosamente compartilhados com os leitores. Manguel escreve como quem lê e descortina para nós o mundo fantástico das combinações literárias, inventando coleções que seu antigo mestre, Borges, teria orgulho de ler.
Noemi Jaffe, escritora, crítica literária, professora e sócia-diretora da Escrevedeira.
*Texto publicado originalmente na orelha do livro
Veja também:
:: trecho do livro
—
Produtos relacionados
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.