Edgar Morin, homem de muitos séculos: um olhar latino-americano celebra as contribuições de um filósofo comprometido com as questões humanistas
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921. Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), é formado em direito, geografia e história, e realizou estudos de filosofia, sociologia e epistemologia. Um dos intelectuais mais destacados do século XX, é o principal pensador da teoria do pensamento complexo, uma visão em que os saberes devem ser multidisciplinares e interligados, em contraponto aos saberes e ciências compartimentados. Durante a II Guerra Mundial, Morin participou da Resistência Francesa e fez parte do Partido Comunista, do qual se desligou em 1951, por suas posições antistalinistas. Em 1960, fundou, na EHESS (École des Hautes Études en Sciences Sociales), o CECMAS (Centro de Estudos de Comunicação de Massa) com Georges Friedmann e Roland Barthes, com a intenção de estudar o tema sob uma abordagem transdisciplinar. É autor de mais de trinta livros, dentre eles O método (6 volumes sobre a teoria do pensamento complexo escritos ao longo de quase três décadas), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência, Os sete saberes necessários para a educação do futuro e, publicados pelas Edições Sesc, a Coleção Diários de Edgar Morin (3 volumes, 2012), A aventura de O método (2020) e, lançado em 2021, Edgar Morin, homem de muitos séculos: um olhar latino-americano, edição que tem o apoio do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS-UnB).
Fruto da iniciativa do CDS-UnB – órgão que, assim como o Sesc São Paulo, há anos estabelece uma relação estreita com o filósofo francês – o Homem de muitos séculos reúne ensaios de estudiosos da obra de Edgar Morin no Brasil e na América Latina, analisando seus aspectos fundamentais e desdobramentos. Organizado por Elimar Pinheiro do Nascimento, Maurício Amazonas e Alfredo Pena-Vega, o livro está dividido em três partes: “Memórias”, em que nomes como Cristovam Buarque, Danilo Santos de Miranda e Marina Silva traçam suas relações com a obra e com o próprio Morin; “Notas sobre Morin na América Latina”, com textos que abordam passagens do pensador francês pelo Chile, Colômbia, México e Peru; e “Ensaios e análises críticas”, com 11 artigos mais acadêmicos, sendo sete de autores brasileiros e quatro de articulistas de outros países latino-americanos.
Edgar Morin, homem de muitos séculos está disponível para download gratuito na plataforma Sesc Digital (veja aqui) e no portal da Universidade de Brasília. Já a versão impressa da obra pode ser encontrada nas lojas das unidades do Sesc São Paulo, em sescsp.org.br/loja e nas principais livrarias do país.
:: Trecho do livro
Reforma educacional
Nos textos mais analíticos presentes em Edgar Morin: homem de muitos séculos, fica evidente a reflexão sobre as possibilidades de aplicação dos conceitos da teoria do pensamento complexo na área da educação. Na opinião de Elimar Pinheiro do Nascimento, sociólogo e pesquisador associado ao CDS/UnB, as escolas que optassem por aplicar os saberes do filósofo em suas metodologias de ensino acabariam por ajudar a construir uma sociedade mais humanizada. “Do ponto de vista verbal, todas as autoridades e todos os pensadores estão de acordo sobre a importância da educação, mas na prática não se faz as coisas minimamente necessárias. Há um descaso muito grande, uma desimportância evidente, como se as pessoas não entendessem como é fundamental a questão da educação numa sociedade do conhecimento. O que Morin defende é radicalmente distinto desse enciclopedismo banal que temos no Ensino Médio. Portanto, se tivéssemos uma educação de qualidade formada a partir dos princípios dele, teríamos uma sociedade muito mais sensível, muito mais solidária à natureza e aos outros humanos”, enfatiza.
A ideia de que uma ampla reforma educacional seria a via mais rápida para a construção de um futuro mais igualitário em oportunidades e saberes esbarra no desafio de aplicar, na prática, os pensamentos teóricos do filósofo francês nas escolas. Para o sociólogo chileno Alfredo Pena-Vega, membro do Centro Edgar Morin, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Centre National de la Recherche Scientifique da (EHESS-CNRS), em Paris, a questão é mais profunda: como desconstruir o conhecimento fragmentado, substituindo-o pelo reconhecimento da conjunção do conhecimento, da descoberta de problemas cada vez mais transversais? “Em outras palavras, como podemos fazer as pessoas admitirem que a aprendizagem envolve a união do conhecido e do desconhecido? A dificuldade é (re)organizar o conhecimento no seu contexto e como um todo. Trata-se de reforçar a capacidade do estudante de questionar a natureza incerta e aleatória de um fenômeno complexo (por exemplo, o sistema climático), e de se interrogar sobre os problemas fundamentais ligados à sua própria condição humana”, considera ele, que também organizou na França o livro L’avenir de Terre-Patrie Sous-titre: Cheminer avec Edgar Morin e é autor de Les Sept Savoirs nécessaires à l’éducation au changement climatique.
Ainda na visão de Pena-Vega, não adianta “formatar” as nossas sociedades. É preciso, por outro lado, a consciência de que a reforma educacional é inseparável da reforma do pensamento, ou seja, uma é necessária para a outra. “Isto é, a reforma do pensamento é inseparável de uma verdadeira consciência da realidade de problemas planetários e da humanidade contemporânea. Em outras palavras, temos um sistema de conhecimento que nos cega aos problemas fundamentais e globais, e é nessa ideia que a reforma é crucial”, conclui.
Veja também:
:: edgarmorin.sescsp.org.br | site apresenta o rico itinerário de vida do pensador francês ao longo do século XX, sistematizado cronologicamente, destacando os momentos mais marcantes em formato de história em quadrinhos, com o objetivo de divulgar a obra também para as novas gerações.
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