Uma surpreendente confissão

24/08/2023

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Autobiografia registra as reflexões que compõem o processo criativo de ORLAN, performer francesa autora de uma obra que questiona o estatuto do corpo na sociedade


Antes de se tornar uma artista essencial no panorama das artes visuais e performáticas, ORLAN já demonstrava uma personalidade sensível às experiências que a vida lhe proporcionava. Desde a adolescência ela mantém o hábito de escrever poemas (quase) todas as noites, registrando as inquietações que mais tarde serviriam de inspiração para suas obras. Por esta razão, a autobiografia Strip-tease: tudo sobre minha vida, tudo sobre minha arte tem um significado especial na trajetória de ORLAN. Na qualidade de escritora, seu texto não faz simplesmente um balanço de uma carreira excepcional, e sim um passeio carregado de emoção pelas reflexões que compõem seu processo criativo e que conduziram sua inserção no mundo da arte.

Nascida no pós-guerra, na região operária da pequena Saint-Étienne, na França, a performer e artista feminista ORLAN está em constante atividade desde 1964. Sua arte se desenvolve em múltiplas plataformas e levanta questões sobre o corpo, a hibridização, a biotecnologia, a inteligência artificial e a robótica. Em 1977, sua obra Baiser de l’artiste [O beijo da artista] a tornou famosa e, a partir de 1990, ela se comprometeu a questionar os critérios de beleza e padrões de comportamento impostos pela sociedade em uma série de “operações-cirúrgicas-performativas”. Dois grandes galos na testa, sempre maquiados com brilho, são marcas distintivas de sua figura.


Le Baiser de l’artiste (1977) | MesuRAGEs (2012) | Show com a banda Chicks on Speed (2017). Fotos: ORLAN STUDIO

Sua visão sobre a essência política do corpo, as pressões culturais, tradicionais, políticas e religiosas impressas no corpo, sobretudo no caso das mulheres, e a necessidade de colocá-lo no centro de suas interrogações é o que torna a arte de ORLAN tão necessária em um mundo que ainda precisa superar o preconceito, a misoginia e a intolerância. Seja por meio da fotografia, vídeo, escultura ou da performance, seu trabalho convida o espectador a olhar para o outro, em um criativo – e por vezes chocante – movimento de respeito às diferenças. “Nunca criei uma obra sem pensar nela como um corpo que buscaria por outros corpos para existir. Sempre me preocupo muito com o público, não quero deixá-lo por conta própria, procuro estabelecer pontes e interagir frequentemente com ele”, escreve.

Excepcional e engajada, ORLAN acredita que “a arte precisa ser incômoda, e não um simples elemento de decoração dos interiores das casas.” Ao registrar os traços reveladores de sua personalidade e de suas ideias, além dos amores, contratempos e traumas que a acompanharam ao longo de seis décadas de produção artística, o livro ORLAN – Strip-tease: tudo sobre minha vida, tudo sobre minha arte oferece um retrato fiel de uma das artistas mais representativas do nosso tempo. Resta ao leitor, portanto, extrair de suas páginas aquilo que só pode ser encontrado nas melhores autobiografias: uma surpreendente confissão.

ORLAN no Brasil


 :: Trecho do livro

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