
A história do mega show de Lady Gaga em Copacabana em maio de 2025 e o impacto de eventos desse porte no turismo, nas cidades e na vida dos fãs das divas pop, por Renan Sukevicius
Renan Sukevicius é jornalista e escritor, nasceu em São Paulo. Na comunicação, assina trabalhos no rádio, na televisão e no online. Direitos humanos, morte e luto, e população LGBT+ são os temas que mais aparecem em seus trabalhos. Por algumas das reportagens em áudio, no rádio e em streaming, recebeu alguns dos principais prêmios de jornalismo do país, como Vladimir Herzog, Petrobras, APCA e Folha.
Ilustração por Nazura. Artista visual e mestra em História Social, nascida em São Paulo. Sua pesquisa e prática orbitam o “Tempo-Afrofuturista”, investigando o corpo como território de memória, ancestralidade e resistência. Atua no muralismo, ilustração, moda e estéticas digitais, explorando subjetividades por meio de retratos simbólicos, cores vibrantes e narrativas afetivas.
Entre as avenidas Nossa Senhora de Copacabana e Atlântica um paredão de prédios divide realidades. Atrás dos edifícios, os apressados para o ônibus ou metrô desviam de quem namora as vitrines. Vendedores de frutas, lojas de sucos e restaurantes se misturam aos apartamentos da paisagem interna do bairro na zona sul do Rio de Janeiro. Você está em Copacabana. Ou Copa, para os íntimos. Os nascidos e criados ali, ao falar, acrescentam um “a” depois do “o”: Cóapa.
Sentido Leme, entrando à direita, na rua Belford Roxo, na altura da praça do Lido, turistas se organizam à espera da van que os levará ao Cristo Redentor, o ponto alto da cidade. Ali perto, há uma porção de cadeiras e mesas de plástico vermelhas, típicas dos bares de rua brasileiros. Uma placa promete um bom almoço com churrasco por menos de R$ 20,00. Quem se senta para o banquete é engolido pela imagem do mar, de um azul esverdeado brutal.
Duas quadras à frente, à beira-mar, chega-se ao Copacabana Palace. Um prédio, assim como todos os outros dali, de concreto, pintado de branco, mas envolto em uma magia particular. Ali dentro estão os quartos que melhor exprimem o que há de mais refinado no conforto de uma hospedagem. Muita gente já esteve lá, mas ainda são poucos os que podem dizer como é se deitar nas camas daqueles quartos. Pelos corredores circularam mitos da história da cultura, de Santos Dumont a Brigitte Bardot. Jorge Ben Jor, mais do que um hóspede, virou morador.
Se o Copacabana Palace fosse uma pessoa, teria histórias a contar, talvez denúncias a fazer, seria chantageado ou então ameaçado de morte, faria rir e também chorar. É testemunha da história da cidade entre o morro e o mar. O que ele mais viu nestes últimos 100 anos foi gente. Dentro e fora de seus domínios. Gente de todos os cantos. Em marchas, em festas, em prantos. E de nada adianta um prédio, uma faixa de areia e um mar, por mais belos que sejam, se não forem ocupados por pessoas. Milhares, milhões.
Na última grande ocupação da chamada Princesinha do Mar, no show da cantora Lady Gaga, foram mais de 2 milhões de seres humanos. Os números são da Prefeitura do Rio, da Polícia Militar e da produção do show. A informação foi contestada pela rede britânica BBC, que divulgou, com base em estudos, que cerca de 600 mil pessoas estiveram no show em maio de 2025.
“Nós estamos batendo recorde em cima de recorde em cima de recorde de turismo. Só que você não percebe [esse recorde] gerar mais empregos”, diz a pesquisadora em turismo vinculada à Universidade de São Paulo Mariana Aldrigui. “Você não vê os hotéis falando que estão lotados e não estão conseguindo distribuir a demanda. A gente está com recorde nas companhias aéreas, mas você não tem pressão por mais voos. Então assim, é um recorde como se ele ficasse flutuando no ar. Ele não se transforma em um resultado que possa ser celebrado coletivamente”, explica.
A prefeitura do Rio de Janeiro defende que o impacto foi além de simbólico, mas econômico também. Com as duas últimas grandes apresentações (um ano antes de Lady Gaga, Madonna celebrou sua carreira naquele palco), a administração acredita que a cidade deu uma amostra de seu “soft power” ao atrair atenção do mundo para as areias de Copacabana. “E essa parte simbólica também pode ser quantificada. A repercussão dos shows no mundo inteiro foi bastante positiva, valendo mais de R$ 1 bilhão para cada um dos eventos, em métricas sobre imprensa e redes sociais”, afirma Bernardo Fellows, presidente da Riotur.
Dados oficiais apontam que o show de Lady Gaga arrecadou R$ 66,2 milhões em impostos relacionados a turismo, eventos, transporte municipal, transporte rodoviário e transporte aéreo. Em comparação com maio de 2024, quando ocorreu o show de Madonna, a Riotur informou ter havido um aumento real de 8,2%, com R$ 5 milhões a mais arrecadados. O número de turistas estrangeiros também cresceu em maio de 2025 e chegou a 130,5 mil, segundo a Embratur, quase o dobro de 2023, período em que não houve show internacional na cidade no mês de maio.
A polêmica dos números fortalece a mística de uma cidade que se autodenominou a vitrine do Brasil. De 1994 pra cá, entre apresentações no Natal, Ano Novo e fora da temporada de verão, já passaram pelas areias de Copacabana Rod Stewart (1994), Lenny Kravitz (2005), os Rolling Stones (2006), Stevie Wonder (2012), Madonna (2024) e Lady Gaga (2025). A prefeitura do Rio promete apresentações de artistas internacionais até 2028. Adele, U2 e Beyoncé estão no radar da administração municipal. Na internet, fãs sonham com Rihanna e até mesmo Britney Spears. À reportagem, a administração municipal preferiu não dar certezas quanto à próxima atração.
“O Rio ocupa uma posição estratégica nas turnês internacionais que incluem a América Latina, se consolida como um dos principais palcos do continente, reconhecida até pelos próprios artistas que performam aqui. Soma-se a isso o forte apelo cultural e turístico do Rio, além do engajamento expressivo do público local, com diversas comunidades de fãs, fatores que tornam a cidade um destino prioritário para artistas e produtores que buscam ampliar sua presença e visibilidade na região”, analisa o presidente da Riotur.
2 milhões ou 600 mil? Não importa. Para quem esteve nas areias de Copacabana no show de Lady Gaga, o mar de gente e de expectativas tinha ondas gigantes e desafiadoras. O escritor Victor Hugo Felix saiu de São Paulo para acompanhar o show da artista. Na primeira passagem da cantora pelo Brasil, ele ainda não entendia bem sua própria sexualidade. “Eu só fui começar a viver minha vida como gay, de fato, com 26, 27 anos. Durante todo esse processo, a música da Lady Gaga foi o que me acompanhou. Era aquela sensação de como se eu sentisse que alguém estava me entendendo. Alguém muito distante falava a mesma língua que eu. Eu não tinha com quem desabafar e falar do que eu estava passando. A minha relação de fã também está muito ligada a isso”.
Curiosamente, a primeira vinda de Gaga ao Brasil se deu na divulgação da turnê The Born This Way Ball. A música “Born This Way”, de 2011, fora classificada como um hino de pessoas excluídas ao conduzir os ouvintes por um caminho de autoaceitação. A canção foi o terceiro single da artista a atingir o topo da Billboard. Na apresentação da música em Copacabana, agora em 2025, a batida eletropop foi mantida e o jogo no palco, com um piano e os bailarinos que cantavam junto como num coral, construiu uma atmosfera de culto. Victor Hugo, o fã desde o início de tudo e agora livre de amarras e armários, assistiu de perto. Mas a peregrinação foi dura.
Ele conta ter participado de todas as propostas e desafios propostos por marcas patrocinadoras do evento para conseguir a entrada para a área de convidados. Nem uma delas vingou. Semanas antes do show, ele e integrantes de um dos maiores fã-clubes de Lady Gaga na América Latina participaram de um flash mob na avenida Paulista, em São Paulo. O grupo dançou o hit “Abracadabra”, primeira canção lançada do disco mais recente, Mayhem. Após a ação, ele e alguns amigos foram para um bar e continuaram a festa. “No caminho do bar tinha uma drag dançando e a gente parou pra assistir a ela, aí ela percebeu que a gente era fã da Lady Gaga e falou ‘vem dançar Lady Gaga comigo’”, relembra.
De modo menos espontâneo do que a coreografia ensaiada para a performance na Paulista, eles aglomeraram uma boa quantidade de fãs e criaram um novo vídeo. “No dia seguinte, eu fui postar [o vídeo] no TikTok, e assim, eu não editei nada, só coloquei o vídeo lá, coloquei uma legendinha em inglês, só pra ver se eu conseguia chegar na Lady Gaga, explicando mais ou menos o que tinha acontecido [na performance]”.
Ao longo dos dias seguintes, o acesso às imagens começou a aumentar. 100 mil visualizações. Depois, cerca de 1 milhão. “Foi muita visualização, eu tava esperando chegar em um milhão, aí tinha 800 mil e pouco, quase 900 mil, e aí, quando tava ali, monitorando as redes sociais, apareceu a notificação dela”. Sim, de Lady Gaga. “Aí eu falei ‘meu Deus do céu!’, foi muito empolgante, a gente tava na expectativa de que ela fosse comentar pelo menos o vídeo do flash mob, porque o flash mob é na conta do RDT [o fã clube], é uma conta famosa”. Mas Gaga reagiu ao vídeo de Victor. O comentário de Gaga? Um emoji, aquela carinha amarela, chorando.
O print da reação da cantora na caixa de comentários no vídeo do perfil no TikTok virou estampa de uma camiseta que Victor Hugo veste com orgulho. Ali se fortaleceu o vínculo entre fã e artista. E, ironicamente, a cara de choro seria um prenúncio do caminho de Victor Hugo até as areias de Copacabana.

Ele não queria se contentar apenas com o telão. Precisava ver a artista com seus próprios olhos, de muito perto. Por volta das 8h da manhã, Victor já estava perto da grade. “E eu fiquei lá esperando e de repente eu comecei a ver que um amigo meu conseguiu VIP com sei lá quem, depois um outro amigo conseguiu VIP sei lá onde, e aí eu falei, ‘gente, alguém vai ter que me socorrer!’ Porque era um aperto, era debaixo do sol, era muito apertado, era muita gente, muita, muita, muita gente! Era muita briga, o pessoal todo meio que se empurrando”, descreve. Ele não foi ao banheiro e teve uma alimentação bastante restrita das 8h da manhã até perto da hora do show, depois das 22h. Ao fim, o amigo de um amigo conseguiu um convite para a área fechada da apresentação. Foram duas horas se deslocando pela areia até acessar a entrada do VIP. Victor Hugo conseguiu chegar o mais perto que pôde de sua artista favorita.
“E aí, quando eu via ela de perto, que ela chegava pra ir pro palco secundário, eu vi ela passando assim, e ela vindo fazer as coreografias que eu gostava, que eu sempre gostei, que eu sempre admirei, era uma emoção realmente muito grande. Eu consegui olhar, eu vi ela, não vou dizer que foi muito de perto, mas tipo, eu vi ela de fato. Foi bem surreal, bem maravilhoso, foi uma realização muito grande. Consegui ver de fato ela se mexendo no palco e conversando e nossa… A proporção do corpo é outra coisa. É muito especial”, conta emocionado.
Ainda que tente puxar na memória essa noite tão especial, Victor Hugo conta de um “apagão” mental que ele e os fãs mais fervorosos viveram. “Você não lembra muito bem o que você viveu, você sabe que você estava lá, mas você tem dificuldade de lembrar, principalmente porque o show foi gravado, foi transmitido oficialmente pela Globo, então se você assiste demais a gravação do show, você perde a memória daquilo que você viveu no show. Eu queria lembrar mais daquilo que eu vivi, e não tanto daquilo que foi registrado em vídeo seja pelo meu celular ou gravado pela câmera da Globo.”
No palco havia um show. De artistas, de luzes. Mas na plateia também foi registrada uma atração. Empunhando celulares, muitos ligados com lanternas, o público contribui com o espetáculo, sobretudo em grandes eventos abertos. Em espaços menores e fechados, o aparelho pode ser um problema, mas não conseguimos mais largar essa extensão do nosso corpo. O celular registra tudo o que vemos, comemos, sentimos, ouvimos. “Nenhuma experiência social, vivida de maneira individual, ganha sentido. A gente precisa compartilhar isso com os outros para que os outros reconheçam o que a gente viveu”, pontua o doutor em Antropologia Social especializado em consumo Michel Alcoforado. “E aí, os vídeos, os filmes, as fotos, a timeline lotada de bagulho dão conta disso. Porque senão você não vive, e aí você não passa pela transformação”.
Esse não é apenas um traço geracional, analisa o especialista. A tecnologia funciona, em sua essência, para encurtar distâncias. E o uso dela para relatar experiências ultrapassa questões ligadas à idade. “Cada vez mais a gente lida com gente que tá perto da gente e que não tá perto da gente. Então, eu não tô só preocupado em dizer pra minha família o que eu vi. Talvez uma ligação desse conta. Eu tô preocupado com que todos os meus seguidores vejam isso pra poder reconhecer que eu sou diferente por conta disso. É por isso que não dá mais pra ir pro show sem câmera”, define Alcoforado.
O antropólogo lembra da marca “Eu Fui”, criada pelos organizadores do Rock in Rio, para marcar a diferenciação entre quem testemunhou com os próprios olhos de quem viu pelas lentes da transmissão da tevê. No pano de fundo, o especialista enxerga o papel que as apresentações em Copacabana podem desempenhar nas mentes e corações dos fãs: “O que essas divas [Madonna, Gaga] fazem, com todo o aparato da indústria pop, é conseguir genialmente expandir o vocabulário para que outras existências apareçam. Fazer mais gente caber no jogo social por meio da sua arte é louvável pra caramba e o fulano que tá lá, ele não tá lá só porque ele gosta da música ou porque ele quer ver a Lady Gaga de perto, ele tá lá porque ele consegue materializar naquele momento um lugar no mundo, coisa que ele só via dentro do quarto de casa, ou dentro do armário”.
Não é à toa que esses megaeventos têm tons quase ritualísticos, eles são próximos de qualquer evento religioso, não é muito diferente da Jornada Mundial da Juventude da Igreja Católica [que em 2013 reuniu milhões de pessoas em Copacabana e também foi acompanhada por este repórter] porque eu tenho um imaginário que se dá na minha cabeça e eu tenho ali os fiéis, a pessoa santa que é a diva e todo um aparato organizado para fazer esse encontro acontecer e ali materializar ideias por meio do ritual. Daqui a pouco vai estar Coldplay, vai ter U2, e estarão lá os defensores da sustentabilidade, sei lá, e tá tudo bem. E eu acho que é ótimo para a cidade, eu acho que ela recupera uma vocação que o Rio tem, que talvez seja a única que sobrou para a cidade, de ser um espaço central na invenção da cultura brasileira”, diz.

A tendência de eventos grandes e em espaços abertos é identificada em outras regiões do globo. Um relatório chamado State of Travel, de 2023, projetou um aumento considerável de megashows nos próximos anos. A expectativa foi baseada nas experiências de outras artistas, como Taylor Swift e Beyoncé, que causam impactos financeiros positivos nas regiões em que fazem shows durante turnês. A série de shows que o cantor porto-riquenho Bad Bunny fará também será observada de perto por analistas do turismo, assim como a Copa do Mundo de 2026, organizada para acontecer em três países: México, Canadá e Estados Unidos.
“O que acontece ao vivo e que pode fazer com que você, indivíduo, se diferencie da sua rede, é dizer ‘eu estava lá, eu fui, eu consegui’. Trata-se de uma combinação de projetar a sua capacidade, seja ela financeira ou de relacionamento de estar presente, mas também de se organizar para estar naquele lugar, naquele momento. As cidades ou os destinos passam a competir entre si para serem, vamos dizer assim, espertos e rápidos o suficiente para entrar nesses calendários. Então, é claro, você vai entrar numa turnê eventualmente de uma Taylor Swift de novo? Vai. Mas é na hora que ela quiser, não na hora que a cidade quiser”, analisa Mariana Aldrigui. Para ela, o investimento no setor deve se dar de forma paulatina, e não esporádica, quando grandes eventos batem à porta.
Além de Copacabana, outras regiões são vistas com potencial de atrair artistas e público. Kenya Sade, jornalista musical e apresentadora da TV Globo nos shows de Madonna e Lady Gaga, elenca duas cidades: Salvador e Belém. A primeira, no Nordeste, ganhou atenção depois de receber uma visita surpresa de Beyoncé, em 2023. “A equipe dela é formada por duas mulheres pretas que pesquisam muito sobre onde é que está esse público”.
Internamente, os eventos de música da capital baiana também têm se reorganizado, observa Sade: “o próprio Festival de Verão renovou o seu line-up, trouxe diretores artísticos como Zé Ricardo, que é um diretor que faz os principais festivais do Sudeste. O Afropunk é um festival que vem dos Estados Unidos e vai diretamente para Salvador e a cidade vai receber novamente em 2025 essa festa com artistas do Afrobeat, que também é uma nova tendência. Eu acho que agora o Brasil está olhando para Salvador, depois que Beyoncé pisou de uma forma diferente, vendo que ali também tem dinheiro, tem público e chama a atenção dos gringos, porque afinal de contas é uma cidade também muito turística, que tem as suas praias, tem as suas belezas e acima de tudo tem a maior população negra fora de África”.
Em Belém, antes da COP 30, Conferência da ONU para o clima, houve grandes shows. Um deles nacional, no estádio Mangueirão, exclusivo para moradores do Pará e transmitido pela tevê. Com a cantora Ivete Sangalo como “headliner”, vai receber nomes que surgiram no estado nortista como Viviane Batidão, a rainha do tecnomelody. Viviane é a dona do hit “Olha bem pra mim”, versão de “Lost On You”, da cantora indie estadunidense LP. Ainda esteve no palco o grupo Lambateria, surgido em 2016 como festa em Belém com músicas latino-amazônicas, convidando a cantora Lia Sophia, também paraense e de projeção nacional, com músicas executadas em novelas da TV Globo.
Na mesma Belém e no mesmo festival, mas de frente para a cidade, nas águas do rio Guamá, Mariah Carey apresentou-se num palco flutuante. A diva dos EUA estava acompanhada por divas paraenses: Dona Onete, Joelma e Gaby Amarantos. Além delas, a jovem cantora Zaynara, que recebeu em 2024 dois prêmios, Multishow e Women’s Music Events Awards, na categoria revelação. O evento, chamado de Amazônia Para Sempre, é um projeto dos mesmos organizadores de Rock in Rio e The Town.
Ainda que a organização da COP 30 estivesse envolta em polêmicas, sobretudo quanto ao preço praticado pela rede hoteleira, o evento chamava atenção dos olhares gringos para o que talvez eles mais conheçam do Brasil para além do Rio de Janeiro: a floresta Amazônica. O evento é a possibilidade de assistir a um show às portas do bioma, numa metrópole como a cidade de Belém, ou mesmo dentro da floresta, como no show de Mariah, cujo palco tinha o formato de uma vitória-régia, planta aquática típica da região.
“Ano passado eu estive em Belém pela primeira vez para um festival chamado Festival Psica, sobre o qual muitas pessoas agora estão ouvindo falar, e que agora está conseguindo levar artistas de peso”, relembra Sade. “No ano passado, tivemos shows como da Liniker e Pabllo Vittar, nomes que estão em ascensão na cena e já são muito grandes na cena do pop Brasil, e eu fiquei muito impressionada, porque encontrei pessoas do mercado da música lá, encontrei também alguns investidores olhando para o Pará já também com esse olhar de novas tendências. Acho que Gaby Amarantos junto com Joelma, entre outras artistas, têm colocado o nome do Pará ainda mais no mapa. A Gaby ganhou o Grammy Latino [em 2023, na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa” com o álbum “Technoshow”] falando do Pará, dessa potência que é o tecnobrega”.
A especialista em turismo Mariana Aldrigui é mais cética quanto à perenidade de megaeventos fora do Rio de Janeiro. “Teve gente que falou que tinha que ser em Brasília [o show da Lady Gaga]. Não tem a menor condição de ser em Brasília, não tem a menor condição de ser em Belém. A ausência de experiência logística, a ausência histórica, leva a erros muito básicos do ponto de vista da organização que podem comprometer a qualidade da experiência”.
A professora classifica a situação de Belém não como falta de expertise, mas uma certa consciência do empresariado de que a cidade não terá uma oportunidade tão robusta quanto esta. Para ela, este é um exemplo perfeito de como o turismo é organizado no Brasil, de forma acessória. “Não está apresentado qual é o plano para a cidade logo a seguir. Você vai captar novos eventos desse porte ou menor? O que você faz com 25 mil leitos a mais para uma cidade que não tem tantos voos a mais? Então, claro, vai colocar Belém no mapa, mas pode colocar no mapa de uma forma muito ruim. As coisas no turismo levam muito tempo”, analisa Aldrigui.
O Rio, na outra ponta, se tornou um destino de turismo tradicional por ter ofertas complementares. Quem já foi a um show no Rio (virada do ano, megashows de maio, Rock in Rio, etc) certamente encontrou alguma outra coisa que gostaria de fazer também na cidade: a praia, o Cristo, a floresta da Tijuca. Ou então atrações que não requerem peripécias da geografia, como lojas, bares, restaurantes e eventos culturais. “Talvez o objetivo de trazer o show [de Lady Gaga e Madonna] nem tenha sido revitalizar a imagem internacional do Rio, mas ele foi cirúrgico nisso”, finaliza Aldrigui.
Não à toa, a prefeitura da cidade tenta firmar os shows do pós verão com o nome “Todo Mundo no Rio”. Assistindo da areia da praia ou pelas telas, no mês de maio boa parte do mundo estará de fato falando, pensando e respirando o Rio de Janeiro.
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