é uma iniciativa cultural idealizada e realizada pelo Sesc Sorocaba, com o objetivo de ampliar o acesso a bens culturais, fortalecer as parcerias locais e regionais, e fomentar a cena de arte contemporânea no interior do Estado, com a missão de descentralizar o circuito artístico tradicional, geralmente concentrado nas grandes cidades.
A Trienal se tornou uma plataforma artística de pesquisas curatoriais que engloba exposições, projetos educativos e atividades transdisciplinares. Sua criação foi inspirada nas experiências marcantes do projeto “Terra Rasgada”, realizado na década de 1990, em colaboração com os artistas da cidade, que lançou um olhar sobre a produção cultural local. Os dois projetos carregam no título o sentido do nome Sorocaba, que, traduzido do Tupi-Guarani, significa “o lugar da rasgadura”.
Realizada desde 2014, ao longo de três edições o projeto apresentou 213 artistas, entre eles 49 estrangeiros, tendo atendido a um público presencial estimado de 243 mil pessoas. Consolidando-se com um sólido projeto educativo, a Trienal tem organizado formações de professores e educadores sociais, e já recebeu a visita de aproximadamente 30 mil estudantes de escolas públicas e privadas de Sorocaba e cidades da região.
Para 2025, o Sesc Sorocaba prepara a quarta edição do projeto, que conta com as curadorias de Luciara Ribeiro, Naine Terena e Khadyg Fares.
Educadora, pesquisadora e curadora, Luciara Ribeiro é mestra em história da arte pela Universidade de Salamanca (Espanha) e pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de São Paulo, tendo atuado em diversas instituições de educação, arte e cultura, e atualmente na direção artística do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes;
Naine Terena é doutora em Educação pela PUC de São Paulo, mestra em Arte pela UnB, curadora e artista educadora, tendo realizado circuitos de arte no Brasil e exterior. Atualmente é pesquisadora na Universidade Federal de Mato Grosso;
Khadyg Fares, mestra em História da Arte pela Universidade Federal de São Paulo, é educadora, pesquisadora e curadora, atuando tanto nas instituições como de forma de independente.
Com concepção e curadoria de Josué Matos, se estruturou a partir da frase interrogativa inspirada no espetáculo teatral “o que seria de nós sem as coisas que não existem?”, concebido em 2006 pelo Lume Teatro, tratando “as coisas que não existem” como insistência e não como oposição ao existente.
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Com curadoria geral de Daniela Labra, a proposta colocou em pauta as ambiguidades da vida contemporânea refletidas no campo das artes, tocando no conceito de pósverdade, no momento em que o fenômeno das fake news começava a tomar conta do imaginário social brasileiro.
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Com curadoria de Beatriz Lemos, Diane Lima e Thiago de Paula Souza, o projeto colocou em pauta os mecanismos de exclusão e privilégios, e teve como guia as cosmovisões de povos do Sul Global, num movimento anticolonial e antirracista.
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Sorocaba é terra de Frestas. Com suas fronteiras diluídas, é nesse chão batido por matrizes afluentes de mútua solidariedade, que o projeto curatorial adota a ideia de fazer germinar práticas artísticas, educacionais e textuais territorializadas com o conhecimento que estão e sempre estiveram nas aldeias, nos quilombos, nas comunidades e nos agrupamentos dos entornos.
Somos feitos de caminhos e assim também foi feita Sorocaba, sendo parte importante da rota do Peabiru, um longo trajeto indígena que conecta a cordilheira dos Andes ao oceano Atlântico, estradas que adentravam o interior do Brasil, conectando o sudeste com o atual sul e centro-oeste do país, como regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, abertas por populações indígenas mas depois usurpadas por agentes da colonização. Um caminho sagrado que segue a trajetória do sol, mas que também unia aldeias, promovia a troca e o intercâmbio, entre outras tecnologias existentes antes da invasão.
Essa prática de fazer o caminho mais do que uma forma de pensar o território, é um modo de existir no mundo comum a muitos povos em toda Abya Yala e que se reafirma no projeto dessa exposição inspirada pelo conceito difundido pelo Professor Doutor Tadeu Tãn Nó, de origem Kaingang, que nos diz que caminhar é mais do que deslocar-se: é uma forma de oração; uma maneira de assentar-se, de perceber o intangível, de fortalecer o espírito diante das armadilhas do viver. Com ideias próximas, a ativista boliviana de origem aimará, Silvia Rivera Cusicanqui, em suas reflexões retoma o Thaki. Um conceito-prática da cosmologia indigena andina que é carregado de um sentido complexo, nele se combina o próprio ato de caminhar às ações ritualísticas, como festas e peregrinações a lugares sagrados, que vem embalada por uma relação cosmo-epistemológica de produção da vida e da memória.
do caminho um rezo é a nossa proposta para a 4ª Frestas. Desejamos aproximar tais movimentos sem afirmar o vínculo de um com o outro, tão pouco em separá-los. Em vista disso, nos apoiamos no conceito de Tadeu Tãn Nó (o caminho é um rezo) sem a inserção do verbo “é” e sem a possível presença de pontuação gramatical que a frase pode requerer. Desejamos desafiar tais normativas, possibilitando a experimentação que o conjunto dessas palavras nos dão, lidando com suas solturas e amarrações.
Queremos também propor uma retomada de conhecimentos que se desdobram nas Confluências afropindorâmicas do escritor e quilombola Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), conhecido por Nêgo Bispo. Com ele, queremos evocar o território Sorocaba como o lugar onde somos caminhos confluentes. Com Tãn Nó, Dos Santos, Cusicanqui e as demais mestras e mestres dos saberes, buscaremos reavivar a historicidade e a memória de um território para o qual convergiram e foi construído pelas mais diversas sociedades.
Nessa nossa tarefa, tomaremos a educação como um ponto focal. Aqui ela será um campo de aproximações para se repensar conceitos, extrapolar noções vigentes, dessacralizar discursos e propor a ocupação de espaços e possibilidades para as linguagens artísticas e educacionais que tragam os debates necessários para abrir outros caminhos.
É nesse sentido que esse projeto quer repensar o próprio território de Sorocaba sob a noção de fronteiras e aberturas, como local propício para o diálogo. Um lugar onde é possível expandir as marcas já latentes da sociabilidade, da solidariedade e que, nessa lógica, são capazes de ressoar, recontar, reconectar e interrelacionar tecnologias, processos educacionais e a produção artística. Queremos nutrir os caminhos que se mantiveram firme nas confluências, nos rezos, nos trânsitos entre as coletividades, na contramão do processo de exclusão e subalternização de cosmovisões, ancestralidades, ritualidades e vivências que não deixam de estar próximas das experiências de outras terras, nacionais e estrangeiras.
Luciara Ribeiro, Naine Terena e Khadyg Fares
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