Movida pela renovação, a experimentação, a reflexão e a diversidade, a Mostra de Arte da Juventude (MAJ) se consolidou como uma referência no campo das artes visuais e celebra, em 2024, a sua 31ª edição. A partir do dia 5 de dezembro, o Sesc Ribeirão Preto será palco para a exposição de 46 jovens talentos, com idade entre 15 e 30 anos, que apresentam toda a sua criatividade e sensibilidade em manifestações artísticas diversas, incluindo pinturas, gravuras, esculturas, intervenções e performances.
A mostra foi realizada pela primeira vez em 1989, pelo Sesc em parceria com o Centro de Comunicação e Artes da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Inicialmente intitulada Mostra Universitária de Artes e voltada para estudantes universitários de Ribeirão Preto, a primeira edição convidou os jovens a explorar seu lado criativo nas modalidades de escultura, desenho, pintura, gravura, fotografia e instalação. Com a participação de múltiplas juventudes e um marco para novos horizontes e possibilidades no cenário das artes visuais, o projeto pioneiro proposto para a cidade rapidamente se tornou um dos mais importantes estímulos à produção artística na região, passando a contar até mesmo com uma ajuda de custo para os jovens participantes.
“Por várias edições, a mostra foi aprimorando o edital e acompanhando as manifestações da época, sempre com o objetivo de impulsionar jovens artistas com um espaço para expor seus trabalhos. Esses jovens estão experimentando e buscando novos caminhos e a MAJ contribui para a troca de experiência. Durante as oficinas de formação, os participantes falam sobre suas obras, trajetórias e recebem orientações sobre a montagem de portfólio juntamente com a comissão de seleção”, destaca a animadora sociocultural Janete Polo Melo, idealizadora e fundadora da mostra, permanecendo à frente da MAJ até sua 25ª edição, em 2014.
Relembrando toda a sua trajetória de evolução e representatividade, a mostra não é apenas um espaço de exposição. Desde o momento da inscrição dos artistas, passando pela curadoria e seleção das obras, até a abertura oficial da mostra, o evento afirma-se como um espaço onde a pluralidade das expressões artísticas encontra sua forma e seu lugar, incentivando a formação e a expansão do imenso potencial criativo e transformador dos artistas.
Ao longo dos anos, a MAJ expandiu seu alcance, ampliando as inscrições para a região e, posteriormente, para o estado de São Paulo. Desde 2004, em sua 15ª edição, a mostra aceita inscrições de todo o Brasil, superando barreiras geográficas que antes limitavam a participação de artistas e coletivos de regiões mais distantes e fora do eixo São Paulo-Rio.
Além de facilitar o acesso dos artistas ao universo das artes, a mostra também consiste em um espaço de difusão e projeção de grandes talentos, a exemplo de Carla Chaim, que participou nas edições de 2008 e 2014. Renomada artista contemporânea, Carla realizou residências artísticas em Nova York e no Canadá e já participou de exposições em importantes instituições culturais e galerias de arte no Brasil e em países como Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão, além de receber o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, em 2011, e o Prêmio CCBB Contemporâneo, em 2015. Recentemente, em 2022, foi a vencedora do EFG Latin America Art Award, anunciado no Pinta Miami, nos Estados Unidos.
Jaime Lauriano foi outro artista que expôs nas edições de 2009 e 2014 da mostra. O artista plástico atua no campo da pesquisa historiográfica, denunciando a violência enfrentada pela população negra ao longo da história. Foi um dos vencedores do Prêmio FOCO da Feira ArtRio, no ano de 2016, e recentemente realizou a primeira exposição individual nos Estados Unidos, na galeria Nara Roesler, em Nova York. Seus trabalhos podem ser encontrados em coleções institucionais como a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj); o Museu de Arte do Rio (MAR); a Pinacoteca do Estado de São Paulo; e SchoepflinStiftung, em Lörrach, na Alemanha.
Diversos outros artistas que passaram pela MAJ hoje se destacam no cenário das artes visuais. Marcelo Moscheta participou das edições de 2000 e 2001; Felipe Goés, das edições de 2010 e 2014; e Sofia Borges, das edições de 2004 e 2006. Ubirajara Júnior marcou presença em 1993 e 2014. Cordeiro de Sá participou em 1991, 1993, 2003 e 2004; Beta Ricci, de 2001 a 2006; Fabrício Sicardi, de 1998 a 2004; Renato Rebouças, em 2000, 2001 e 2014; e André Costa, em 1993, 2000, 2001 e 2014. Nilton Campos, atual diretor do Museu de Arte de Ribeirão Preto (Marp), também esteve presente nas edições de 1993 e 2014.
Para além dos inscritos, a seleção das obras foi realizada, ao longo de cada edição, por críticos e curadores renomados como Thiago Honório, Jair Correia, Jurandy Valença, Odilla Mestriner, Daniela Bousso, Marcelo Guarnieri, Francisco Amêndola, Ana Roman, Cauê Alves e Carla Zaccagnini.
Na 31ª edição da MAJ, que celebra o histórico aniversário de 35 anos, Janete reflete sobre o impacto da mostra nas artes cênicas e na evolução de artistas de várias regiões do país. “Fico muito feliz que a instituição está dando continuidade ao projeto, é como um filho que está crescendo, buscando seus caminhos e batendo asas. Ao longo desses anos, muitos jovens que passaram pela MAJ se tornaram educadores, atrizes, designers e continuam se destacando na área das artes visuais. Durante meu percurso de 35 anos no Sesc, tive a oportunidade de conhecer, conviver e acompanhar o crescimento de jovens artistas e de outros com produção mais consagrada. É uma área que traz grande sensibilidade e complementa o ser humano”, relembra a fundadora da mostra.
Com o passar dos anos, a busca pela diversidade de obras e perfis, presente desde o início da exposição, continuou sendo uma prioridade dos organizadores. Desde 2017, o evento recebe exposições bienais e as obras são selecionadas por uma equipe de curadores que busca abarcar a maior representatividade possível de regiões, gêneros, etnias, situação socioeconômica, níveis de escolaridade, faixa etária e linguagens artísticas. Democratizando o acesso a artistas de todo o Brasil, a mostra abriu as portas e revelou cerca de 600 talentos desde a primeira edição.
Neste ano comemorativo, o evento recebeu mais de 700 inscrições validadas de todas as partes do Brasil, representando as cinco regiões do país, de Norte a Sul, e uma diversidade étnica, incluindo participantes brancos, pardos, pretos, amarelos e indígenas. A seleção incluiu, ainda, uma grande variedade de gêneros, com participação de artistas mulheres cisgêneras e transgêneras, homens cisgêneros e transgêneros e pessoas não binárias. A MAJ recebeu inscrições de todo o Brasil e os artistas selecionados para essa edição são de nove estados diferentes, incluindo São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco, Pará, Minas Gerais e Amazonas, além do Distrito Federal.
Em consonância com a variedade de trabalhos artísticos selecionados para a exposição, foi criada uma nova identidade visual que ressalta a inovação e o espírito revolucionário da arte jovem. Inspirada por círculos e ondulações, a união de formas e cores inéditas reafirma a essência dinâmica da MAJ e apresenta o conceito de movimento e repetição não regular, sendo um reflexo da multiplicidade, do dinamismo, da renovação e da expansão que a mostra abraça desde sua criação, no final dos anos 1980, que são os principais combustíveis do evento.
Inspirada pela energia jovem e dinâmica, a MAJ continua a se reinventar a cada edição, mantendo sua essência revolucionária e proposta ousada. Ano após ano, o evento possibilita que a juventude tenha voz e expresse seus anseios, sonhos, urgências e dificuldades; compartilhe sua trajetória de luta, superação e sobrevivência; incite reflexões sociais e culturais; e, acima de tudo, explore, analise e transforme o mundo ao redor por meio da produção artística, seja em ateliês, nas ruas, no trabalho, nas universidades ou nos grandes centros urbanos.
Aos 35 anos, o grande legado da mostra é acompanhar, apoiar e incentivar a batalha dos jovens que estão em processo de experimentação e buscam por espaço no cenário das artes. “Para ter um trabalho mais consistente e consagrado, é necessário lutar bastante. Nós sabemos que no início é difícil, passando até mesmo pela aceitação dos pais, mas a partir do momento que o jovem mostra seu trabalho, essa repercussão muda o olhar também com quem ele convive. A MAJ ajuda muito nesse sentido, sendo um dos seus pontos fortes”, complementa Janete.
Por Isabella Mengelle, Lauani Meira e Tainá Lourenço
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