Mironga: Axé e Dengo

22/08/2023

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Você já parou pra pensar o quanto a linguagem é essencial para  nossa vida, principalmente pensando nas atividades humanas?

A linguagem é a forma como a gente se comunica. Por meio da fala, da escrita e dos sinais, nos permite trocar ideias, entender e ser entendido pelos outros, o que a torna muito importante. Sem linguagem a gente ficaria meio perdido, sem conseguir expressar o que sente, pedir ajuda ou até mesmo fazer piadas… 

Daí, vale pensar: quem nunca brincou de criar códigos e linguagem para um novo formato de comunicação? Aparece muitas vezes na oralidade, como as gírias e dialetos, outras vezes em linguagem musical, como toques e ritmos. Existem infinitas maneiras de linguagem que extrapolam a linguagem escrita como essa que, por sinal, estamos usando para abrir essa discussão.

Repare na obra MIRONGA: Axé e Dengo, que hoje ambienta o espaço da comedoria do Sesc Araraquara. Esta composição carrega diversos elementos visuais representativos e convida para uma busca por saberes e a decodificação de caminhos para um resgate ancestral daquilo que nosso povo deixou. 

Além de corpos divergentes dos rotineiros protagonistas dos espaços de visibilidade, a obra carrega ainda o poder das plantas, elementos de cultura, grafismos indígenas e, também, adinkras.

Legal né? Você sabe o que são “ADINKRAS” e sua função na sociedade? Imagine um símbolo vindo das regiões da África Ocidental, hoje Gana e Costa do Marfim, que além de bonito carrega um montão de significados culturais e sociais. Isso é um Adinkra! Eles são muito mais do que só desenhos: cada adinkra tem um significado bem específico, geralmente relacionado com valores morais, crenças e histórias da comunidade.

A parada é que esses símbolos não são só para enfeitar roupas e objetos. Eles também têm um papel social. Sabe aqueles momentos importantes na vida, tipo nascimento, casamento ou até mesmo a partida de alguém? Os adinkras estão lá para transmitir mensagens e expressar emoções nessas ocasiões.

Aqui está a pegada: tradicionalmente, esses símbolos eram impressos em panos que eram usados como roupas. E cada adinkra tinha um significado diferente, como coragem, sabedoria, amor, proteção, tudo isso. Desta forma, quando alguém tinha um adinkra específico estampado no tecido, estava mandando uma mensagem clara sobre o que estava sentindo ou vivendo naquele momento.

Os adinkras eram usados para contar histórias. Imagine poder passar conhecimento e tradição de geração em geração através de símbolos cheios de significado? É uma linguagem visual incrível que une as pessoas e mantém viva a cultura. Essas figuras têm um significado forte e carregam mensagens sobre plantas, nosso corpo, formas abstratas e, até, elementos astronômicos. 

A moral da história é que Adinkras são muito mais do que apenas arte. Eles são um jeito da comunidade se expressar, celebrar e compartilhar suas crenças e valores de uma maneira única e super estilosa. É aquela mistura boa de cultura, história e arte, tudo junto e misturado!

Que tal conhecermos algumas?

Sankofa: O Pássaro que Olha para Trás

O “Sankofa” é um adinkra com um passarinho olhando para trás. Ele traz uma mensagem super legal: “Vai buscar o que ficou para trás”. É tipo aprender com o passado, pegar as lições e seguir em frente.

Com certeza você já se deparou com esse símbolo. Ele aparece muito para a forja de portões e janelas, além de ser encontrado como grafismos e azulejos e confecção de adereços para peças de roupas. É a presença da cultura de África e da contribuição da cultura africana diaspórica para a formação da cultura brasileira! 

Akoma: O Coração de Amor

“Akoma” é um adinkra com um coração. Simboliza o amor, a paciência, a boa vontade, a fidelidade e a tolerância. Basicamente, trata-se de cuidar de si mesmo e dos outros com muito carinho. Agora pense: qual relação podemos fazer entre Akoma e a nossa ideia de coração? 

Akoma ntoso: corações ligados

Este adinkra vem de um provérbio ganense que se traduz, literalmente, para “corações unidos”. Se apresenta com a estilização de quatro “corações” que se parecem com círculos ligados a um círculo no centro e foi visto como um símbolo de harmonia nas comunidades africanas. Simboliza a compreensão e o acordo que, como correntes, formam uma força única, forte e inegável. 

Aya: A Resiliência

Este adinkra tem tudo a ver com resiliência e superação. As formas deste símbolo são desenhadas de um jeito que lembram uma samambaia. Sabe aquela plantinha antiga que cresce nos lugares mais difíceis? A ideia é que essa samambaia é um símbolo de força e determinação. Tipo, ela enfrenta os perrengues e continua crescendo, firme e forte. Resumindo: “Aya” é como uma representação visual de resistir e superar, inspirado na samambaia, essa plantinha guerreira que não desiste fácil. Assim como ela, também podemos enfrentar os desafios que a vida impõe, de cabeça erguida.

Duafe: O Pente

Vamos falar do “Duafe” agora. Um pente estiloso que carrega o significado de cuidar da aparência e também de si mesmo por dentro. Manter as coisas em ordem, tanto na estética quanto na essência.

Dwanimen: Chifre de Boi

O “Dwennimmen” se parece com um chifre de boi. Esse adinkra representa a força, a humildade e a serenidade, como a força controlada de um boi.

Ananse Ntontan: A Teia da Aranha

O “Ananse Ntontan” é como uma teia de aranha e representa a criatividade e a sabedoria. É inspirado na figura folclórica Ananse, a aranha esperta que ensina lições de vida.

Nyame Dua: Árvore de Deus

o “Nyame Dua” é como um desenho de árvore. Ele simboliza a conexão entre Deus e as pessoas, um lugar sagrado de espiritualidade e fé.

Mmere Dane: Temporada das Mudanças

Olhando para o “Mmere Dane”, você vai ver um círculo com linhas dentro. Esse adinkra carrega a ideia de mudança e transformação ao longo do tempo, nos lembrando que a vida é cheia de ciclos.

Bese Saka: Saco de Moedas

O “Bese Saka” parece um saco cheio de moedas. Ele representa a prosperidade e a importância de cuidar bem do que temos, como uma espécie de lição sobre economia.

Akofena: Espada de Guerra

Vamos para o “Akofena” agora. É uma espada estilizada que simboliza a coragem e a bravura. Ele nos lembra que enfrentar desafios requer valentia.

Mate masie: sabedoria, conhecimento e prudência 

“Se alguém fala, eu presto atenção e absorvo”. Essa frase simboliza conhecimento, sabedoria e cautela. A mensagem implícita em “mate Masie” significa “eu entendo”. Compreensão é sinônimo de sabedoria e conhecimento e demonstra o cuidado de levar em conta o que alguém disse.

Veja que é a estilização de duas orelhas interligadas, que nos faz pensar na importância de ouvir e comunicar, especialmente histórias orais e culturas. Massa, né? 

FUNTINFUNEFU-DENKYEMFUNEFU: Cooperação e unidade na diversidade 

Este adinkra são crocodilos siameses, simbolizando unidade. Fala sobre a união independente das diferenças culturais e, democracia.

Asase Ye Duru: divindade, poder e providência 

Este adinkra é muito popular e significa “a Terra tem peso”, símbolo da providência e da divindade da Mãe Terra. Este símbolo representa a importância da Terra para sustentar a vida. Para os akans – e pra gente também – é um lembrete para nutrir e respeitar a Terra. 

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Os adinkras têm uma importância enorme na cultura brasileira. Representam a rica herança africana, contribuindo na criação de conexões e fortalecendo identidade dos afrodescendentes no Brasil. Ao reconhecê-los e valorizá-los, quebramos séculos de opressão, recuperando laços perdidos com nossos antepassados. Eles nos lembram de nossas raízes e nos dão força, permitindo que nos reconectemos com nossa história e tradições. Os símbolos mostram a capacidade de adaptação e reinvenção cultural na era da tecnologia – ao abraçar os adinkras, podemos incorporá-los em diferentes áreas, como design, moda, arte e até mesmo tecnologia, fazendo com que sejam relevantes e sigam sendo transmitidos para as próximas gerações.

Você se lembra que uma mensagem importante dos adinkras é a valorização da comunidade e do compartilhamento de conhecimento?! Os símbolos transmitem mensagens e valores, mostrando que é necessário um esforço para entendermos e compartilharmos nossas próprias histórias e experiências, para valorizar e preservar nossa cultura. É urgente honrar e respeitar a herança cultural, usando os adinkras como uma ferramenta para fortalecer nossa identidade, unir comunidades e construir um futuro mais inclusivo e igualitário. Que os adinkras sejam sempre um lembrete de nossa história e força, inspirando-nos a enfrentar desafios e construir um mundo melhor para todos.


Autoria da obra: Preto(Flávio Rodrigues)
Autoria do texto: Jéssica Chagas de Almeida, Preto(Flávio Rodrigues) e coletivo Odada
Artes digitais: Luís Fernando Berti (Jumbô) e Preto (Flávio Rodrigues)
Assistência: Luis Fernando Berti(Jumbô), José Cláudio Lima de Oliveira(Claudião) e coletivo Odara Redes da equipe: @preto_fláviorodrigues @lfberti_ @joseclaudiolimadeo @gskchagas @odaraecosocial

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