Mostra “Os 100 Anos De Pasolini” celebra obra do diretor com retrospectiva de filmes

29/07/2022

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Realizada pelo Instituto Italiano de Cultura e Sesc São Paulo, a mostra acontece de 3 a 17 de agosto, na cidade de São Paulo, e segue com exibição gratuita de filmes em streaming, para todo o Brasil, na plataforma Sesc Digital 

De 3 a 17 de agosto de 2022, o Sesc São Paulo e o Istituto Italiano di Cultura – San Paolo realizam a mostra “Os 100 anos de Pasolini”, com a exibição de filmes, encontros e debates em homenagem ao centenário do cineasta, escritor, intelectual e poeta italiano Pier Paolo Pasolini. Ao todos, 19 filmes serão projetados no CineSesc, em cópias restauradas em 2k e 4K e uma sessão especial em 35mm. Um ciclo de palestras on-line com a presença de professoras, professores, críticas e críticos será realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Além disso, duas aulas magnas sobre Pasolini com pesquisadores italianos serão disponibilizadas on-line. No dia 17 de agosto, a mostra ganha o streaming e convida o público de todo o Brasil para assistir a 5 títulos dirigidos por Pasolini, na plataforma Sesc Digital. Os filmes ficam disponíveis gratuitamente por 30 dias ou até esgotarem os limites de visualização. Confira a programação completa da mostra e adquira seu ingresso.

Nascido em 5 de março de 1922, em Bolonha, no norte da Itália, Pier Paolo Pasolini, encontrou na literatura, desde cedo, uma paixão. Formou-se em Estudos Literários pela Universidade de Bolonha, publicou livros de poesia, contos e romances. Foi poeta, editor, pintor, ensaísta, crítico literário e cinematográfico, roteirista, jornalista e agitador cultural. Somente aos quarenta anos de idade se rendeu ao cinema, meio pelo qual ganharia projeção mundial. Gay, cristão e marxista, Pasolini era polêmico, controverso e marcou uma época. Intelectual profundamente crítico da sociedade de consumo e do capitalismo, foi uma figura central na vida cultural italiana dos anos 1950 aos 1970. Atacada de diversos lados, sua obra foi marcada pelas experiências políticas e estéticas que teve ao longo da vida e se tornou um precioso legado para história.  

“A mostra “Os 100 anos de Pasolini” celebra a vida e a obra do diretor e exibe boa parte de sua produção cinematográfica, além de palestras e outras atividades formativas que se aprofundam na obra de Pasolini, definida por uma postura de permanente reflexão e problematização acerca dos postulados estéticos e políticos de seu tempo”, comenta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. 

Para Michele Gialdroni, diretor do Istituto Italiano di Cultura – San Paolo, o centenário de Pasolini é uma oportunidade de homenagear a vida e obra de um autor inevitável e transversal. “Todos têm seu Pasolini, o apocalíptico e o elegíaco, o violento e o delicado, o comunista e o católico, o tradicionalista e o moderníssimo, o clássico e o vanguardista, o intelectual sofisticado e o frequentador das ruas de subúrbio, o filólogo e o cineasta, o poeta e o colunista. Eu também tenho meu próprio Pasolini”, declara. 

Durante duas semanas, serão exibidas na tela do CineSesc, em São Paulo, 16 obras assinadas pelo cineasta (15 longas e 1 curta-metragem, sendo 13 ficções e 3 documentários). Além dos filmes dirigidos por Pasolini, serão exibidos três filmes extras: A Raiva de Pasolini – Hipótese de Reconstrução da Versão Original do Filme (2008), de Giuseppe Bertolucci, O Jovem Corsário (2022), de Emilio Marresi, e o curta Agnès Varda – Pier Paolo Pasolini – Nova York – 1967, dirigido pela própria Agnès Varda.  

Cena do filme “Accattone – Desajuste Social”, de Pier Paolo Pasolini. Foto Divulgação

Entre os destaques da programação, o público que estiver em São Paulo poderá assistir ao primeiro longa-metragem do diretor, Accattone – Desajuste Social (1961), sobre um cafetão que sobrevive na periferia de Roma, em 1960, graças a duas mulheres: Nannina, sua esposa que cuida de várias crianças, e Madalena, uma prostituta de cujos ganhos ele depende. Quando Madalena é presa, ele perde sua receita e acaba sucumbindo. O filme teve sua estreia no Festival de Veneza do mesmo ano, mas sua recepção foi controversa, o que se tornaria uma constante na carreira do cineasta. Além dele, Mamma Roma (1962) traz em sua trama uma prostituta de meia-idade que sonha em mudar de classe social para poder voltar a viver com seu filho adolescente, Ettore. Para isso, faz de tudo para dar uma vida melhor a ele. Aclamada pela crítica, a obra causou furor na opinião pública por ser considerada, supostamente, obscena. Em uma sessão especial, A Raiva (1963), filme ensaístico de colagem sobre décadas da história mundial, conjugando a prosa e a poesia nos comentários proferidos por dois locutores, terá exibição em 35mm, no CineSesc. 

Também integra a mostra A Ricota (1963), episódio do filme coletivo “Lamiamoci Il Cervello” (RoGoPaG), de Roberto Rossellini, Jean-Luc Godard, Pier Paolo Pasolini e Ugo Gregoretti. Na obra, um figurante de um filme baseado na Paixão de Cristo e rodado na periferia de Roma, alimenta sua numerosa família com a comida do set. Essa obra satírica foi considerada um insulto à religião do Estado e fez com que Pasolini fosse condenado a quatro meses de prisão. Seu longa seguinte, O Evangelho Segundo São Mateus (1964) é mais um destaque na programação. O filme teve estreia no Festival de Veneza, onde conquistou o prêmio do júri, e foi sucesso de público ao abordar a história de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, a partir do texto de São Mateus. Mesmo com a boa recepção, Pasolini sofreu duras críticas por parte de intelectuais de esquerda, ainda que ele próprio se autoproclamasse comunista (mesmo tendo sido expulso do partido no fim dos anos 1940 por ser homossexual).  

Cena do filme “Gaviões e Passarinhos”, que fica disponível na plataforma Sesc Digital a partir de 18/08. Foto: Divulgação.

Em Gaviões e Passarinhos (1966), pai e filho caminham por periferias e estradas desertas e encontram um corvo falante, de forte espírito crítico. O pássaro, que tudo viu, tudo leu e tem ideias sobre tudo, insiste em partilhar a sua ciência e a sua concepção do mundo com os dois viajantes, eles próprios ignorantes e insensíveis à sua especulação intelectual. Cristianismo e marxismo aparecem nas falas do corvo, cuja “cultura” se opõe às reações instintivas e “naturais” de seus interlocutores. Visto como uma crítica à crise interna do Partido Comunista, o filme chamou especial atenção no Festival de Cannes à época. Em Teorema (1968), o cineasta segue discutindo de maneira crítica a sociedade italiana, ao retratar a vida de uma rica família burguesa de Milão que é radicalmente modificada após a chegada de um misterioso visitante que seduz todos da casa, dos filhos ao pai, passando pela mãe e pela empregada.  

Em 1967, Pasolini realizou a primeira de uma série de adaptações inspiradas em grandes textos da literatura universal, obras que também integram a programação do centenário do diretor: Édipo Rei (1967), com a famigerada história do rei de Tebas, desde o seu abandono no deserto, até a descoberta do incesto involuntário e a partida para o exílio; Medéia (1969), clássico de amor, traição e vingança; e as adaptações literárias da trilogia da vida, realizada pouco antes de sua morte precoce, em 1975, e formada pelos filmes Decameron (1971), Contos de Canterbury (1972) e As Mil e uma Noites (1974). 

Pasolini foi morto em 2 de novembro de 1975, no balneário de Ostia, a 30 km de Roma. Um garoto de programa de 17 anos foi o único condenado pelo crime. O cineasta não chegou a ver seu último filme lançado, Salò, ou os 120 Dias de Sodoma (1975). Polêmica, a adaptação da obra do Marquês de Sade também tem exibição garantida nesta retrospectiva. Nela, o cineasta apresenta sua visão sobre o poder, a sexualidade, o conformismo e a juventude italiana dos anos 1970. O longa foi censurado em diversos países por mostrar explicitamente cenas de violência física, sexual e psicológica. 

A programação de “Os 100 anos de Pasolini” ainda exibe documentários dirigidos por Pasolini, alguns deles fruto de pesquisas para filmes que o diretor intencionava realizar, como Anotações para uma Oréstia Africana (1969). Outro destaque de sua produção documental é Comícios de Amor (1964), uma enquete sobre sexo, que o diretor realiza entrevistando pessoas nas ruas de diferentes cidades italianas. 

Streaming

Para quem não está em São Paulo, após o dia 17 de agosto, será possível acompanhar a mostra a partir de uma seleção de filmes que estreiam na plataforma Sesc Digital. Accattone – Desajuste Social (1961), Mamma Roma (1962), O Evangelho Segundo São Mateus (1964), Édipo Rei (1967) e Gaviões e Passarinhos (1966) ficam disponíveis, na série Cinema #EmCasaComSesc, gratuitamente para todo o Brasil, por 30 dias ou até esgotarem as visualizações.

Atriz Anna Magnani em “Mamma Roma”. Foto: Divulgação.

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