Samba, força e alegria: Ellen Oléria rememora infâncias negras no “Omodé: Festival Sesc de Arte e Cultura Negra para Molecada”

13/06/2023

Compartilhe:

A música está presente nas brincadeiras infantis desde as idades mais tenras. A ciranda, as adoletas e as cantigas que ensinam. Mais do que embalar diferentes fases da vida, a música encanta e atrai os pequenos. Quem nunca observou uma criança se movimentando no ritmo de uma canção, mesmo que caminhar ainda seja um desafio recém superado?

Para Ellen Oléria (40), cantora e compositora brasileira, esse encantamento foi uma das principais inspirações na hora de pensar “Para a liberdade, a força de mãe, a energia de pai”. O show aconteceu no último final de semana dentro da programação do “Omodé: Festival Sesc de Arte e Cultura Negra para Molecada” contando com a presença de adultos e, claro, crianças de diferentes idades.

“O samba tem essa alegria, uma magia muito poderosa. Algo que parte da sua própria linguagem: a pergunta e a resposta. Eu pergunto e vocês respondem. Ô Marinheiro, marinheiro, quem te ensinou a nadar?”

Para construir o show, Ellen utilizou o samba como uma linha narrativa fundamental, um espaço para rememorar o afeto, a alegria e a esperança infantil, algo que a cantora destaca como uma oportunidade para lembrar de sua própria infância.

Que tal conferir mais a força do samba na playlist “Brasil de todos os Sambas” do Sesc São Paulo? Uma seleção para celebrar mais de 100 anos de tradição e modernidade do samba em todos os lugares do Brasil.

“Eu visitei muito minhas memórias. Fazia um tempo que eu não via uma sanfona presente num set de samba, por exemplo. Eu cresci com essa sonoridade, meu pai é sanfoneiro. Eu fui musicalmente alfabetizada com a sanfona, além de muitas outras referências, como o Jackson do Pandeiro […]”, afirma a cantora.

Você sabe quem é Jackson do Pandeiro?
Conhecido como “Rei do Ritmo”, Jackson do Pandeiro nasceu José Gomes Filho, em 1919. O artista é um importante cantor, instrumentista e compositor brasileiro.

Para elaborar um diálogo com sua história, Ellen procurou referências em eixos que se relacionam: “liberdade”, que traz canções africanas e cantigas libertárias brasileiras; “força de mãe”, com cantos de energia feminina em músicas e poemas; e a “energia de pai”, com canções e jogos cantados que se conectam com a energia masculina.

“Eu pude visitar o impacto dessas presenças e ausências na minha vida. Apesar de ter sido alfabetizada musicalmente por essa presença paterna, a gente também teve um rompimento no meio da minha infância. É uma verdade que eu vi e me recordo de ter assistido em muitas outras famílias também.”

Fotos: Taba Benedicto

Com a oportunidade de construir um show que fala sobre e também para as infâncias negras, Ellen ressalta que foi uma possibilidade de enxergar um lugar de cura e despertar a alegria infantil.

“Outro dia participei de um debate, e um artista disse que gostava de conectar o seu público com o sentimento de inocência. E eu me lembro que disse que não me recordo dessa referência de inocência. Eu perdi a inocência muito cedo. A gente precisa amadurecer muito rápido, quando se é uma criança negra de periferia. Mas com certeza foi um processo curativo poder cantar a esperança, a fé. Sem essas coisas eu não teria passado por essa infância e não estaria aqui contando nossas histórias […]”, esclarece a artista.

Mesmo ao ressaltar o processo de cura ao se relacionar novamente com sua própria infância, a artista brasiliense fez questão de reiterar o show como uma oportunidade de celebrar a alegria infantil que, apesar das perdas, não perde a esperança. Algo que para a cantora tem muito a ver com o próprio samba.

“[…] O samba é nosso, altamente democrático. Atravessa gerações, raças, etnias, religiões. O samba é pra todo mundo e essa é uma das coisas mais bonitas. Fazer samba e pensar nas crianças é algo muito fácil […]”

ellen oléria

Pautada por essa vontade de possibilitar novos imaginários acerca das infâncias negras, Ellen Oléria ressalta que o principal aprendizado que a programação de “Omodé: Festival Sesc de Arte e Cultura Negra para Molecada” traz é, justamente, se reconectar com a esperança e a fé.

“[…] Acho que as crianças trazem isso, aquela alegria efusiva e verdadeira. De descobrir, de ter curiosidade na vida. Acho que a gente foi muito massacrado nos últimos anos, a pandemia mexeu muito conosco. Então, se reconectar com a infância é um presente pra gente, pra todos nós.”.

Se em “Para a liberdade, a força de mãe, a energia de pai” a cantora deixou uma série de reflexões sobre a importância de viver a alegria infantil e sua fé, quando perguntada sobre qual mensagem deixaria para si mesma, caso pudesse encontrar a Ellen Oléria criança, a artista escolheu a simplicidade que apenas os pequenos entenderiam: “Vai dar tudo certo.”.

Mas o que é esse festival?

Com o objetivo de enaltecer culturas afrobrasileiras na relação com as várias formas de ser criança, entre junho e agosto, no Sesc Bom Retiro, “Omodé: Festival Sesc de Arte e Cultura Negra para a Molecada” oferece apresentações de teatro, dança e música, exibições de filmes, exposição, atividades físico-esportivas, ações formativas e bate-papos.

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.