
Por meio de distintas concepções de ritos funerários de sociedades que vão da Grécia aos povos amazônicos, obra aprofunda o conhecimento sobre os modos como a morte vem sendo concebida e experienciada
Por Claudia Rodrigues*
Em 2011, o renomado antropólogo francês Maurice Godelier se viu questionado por profissionais de saúde acostumados, mas incomodados, com a dor e o sofrimento daqueles que morrem isolados de amigos e familiares em hospitais ou casas de repouso, sobre quais seriam as concepções de morte e além-túmulo em épocas e lugares diversos daqueles por eles vivenciados. Assumindo que cabia a historiadores e antropólogos fornecerem uma resposta, propôs a si e a outros treze acadêmicos, especialistas no estudo de sociedades distantes da nossa no espaço e no tempo, a elaboração de uma síntese de suas pesquisas abordando a questão.
O livro Sobre a morte: invariantes culturais e práticas sociais é a tradução para o português da obra resultante desta empreitada. Publicada originalmente em 2014, apresenta diferentes olhares para a morte e os ritos fúnebres destinados à separação dos mortos em relação aos vivos. Iniciando pelas antigas sociedades grega e romana, os três capítulos seguintes enfocam o morrer em significativas matrizes religiosas monoteístas: o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Os demais oito capítulos abordam a morte na China, na Índia, entre os budistas do Sudoeste asiático, no Uzbequistão, entre dois povos indígenas da grande área amazônica que ultrapassa o Brasil (os Ticuna e os Miranha), na pequena tribo Baruya da Nova Guiné e, por fim, entre os Ngaatjatjarra das regiões desérticas da Austrália. Perpassando os estudos, encontramos análises sobre formas de destino aos mortos (tais como sepultamento, cremação, duplos funerais, antropofagia, exocanibalismo) e práticas ligadas ao morrer (como os ritos de preparação do cadáver para o funeral e de luto) a que estão associados conceitos e crenças, a exemplo de alma ou princípio vital, não morte, imortalidade, assombrações, escatologia, ancestrais, ressurreição, lugares do além-túmulo etc. Também nos deparamos com as relações entre mito e religião, dogmas e vivências, passado e presente, ortodoxias e heterodoxias, normas e tabus, religiões de libertação e de salvação…
Todos esses elementos interligados às diversas temáticas relativas à morte, aos mortos e ao morrer ainda se apresentam como novidades ao público brasileiro, seja entre especialistas, seja entre leigos interessados nos assuntos tanatológicos, fato que ressalta a importância e a originalidade desta publicação no país. Por enfocar desde práticas presentes em culturas ou religiões majoritárias no mundo antigo ou atual a hábitos adotados por pequenas etnias, em regiões ainda recônditas, os estudos reunidos em Sobre a morte nos permitem identificar aspectos basilares e, ao mesmo tempo, detalhados sobre as representações e práticas fúnebres do mundo como um todo.
*Claudia Rodrigues é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e editora-chefe da Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer.
Veja também:
:: trecho do livro
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