Mutações: o novo espírito utópico

25/08/2016

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Organizado pelo filósofo Adauto Novaes, livro reúne artigos de 21 autores brasileiros e estrangeiros que discutem o tema da utopia diante das revoluções tecnocientífica e biotecnológica

Inspirada no clássico Utopia, de Thomas Morus, que completou quinhentos anos em 2016, O novo espírito utópico, nono livro da série mutações, propõe uma reflexão sobre as perspectivas criadas pelas revoluções tecnocientífica e biotecnológica, a partir do entendimento do conceito de utopia desenvolvido ao longo dos séculos. Organizado pelo filósofo Adauto Novaes, o livro reúne artigos de 21 autores brasileiros e estrangeiros que discutem o tema da utopia diante importantes questões contemporâneas.

Entre as perspectivas abordadas pelos 21 ensaístas estão a relação entre mutações e utopia, o futuro com o advento pós-humanista, a crítica do presente, a recusa aos conceitos de utopia, o mito da sociedade reconciliada, a construção de novos laços entre utopia e política, o mundo contemporâneo dominado pela racionalidade técnica e a atividade de pensar convertida em utopia.

O artigo de abertura, “Onze notas sobre O novo espírito utópico”, de Adauto Novaes, oferece um amplo panorama das reflexões e discussões existentes na obra. Ao explicar as razões que o levaram à concepção do tema, Adauto nos apresenta duas importantes questões: se é próprio da utopia pensar o social em toda a sua amplitude, como imaginá-la em um mundo no qual predomina o individualismo exacerbado? Como pensar a utopia quando vemos o predomínio de nova forma de determinismo expresso no controle e no autocontrole, através dos novos meios eletrônicos que impedem o individuo de desenvolver sua singularidade?

O texto de Adauto abre caminho para o ensaio “As três utopias da modernidade”, de Francis Wolff, e então a obra segue com o capítulo “A utopia do pensamento”, em que Pedro Duarte defende que o século XX transformou o progresso numa ideologia que serviu de justificativa para atrocidades éticas das quais as guerras foram o exemplo extremo, mas não único. Já o pensador francês especializado em filosofia política Miguel Abensour examina o conceito de ‘conversão utópica’ à luz dos ensaios de Walter Benjamin, Emmanuel Lévinas e Ernst Bloch.

Franklin Leopoldo e Silva, por sua vez, afirma que a relação entre história e utopia passa pelas possibilidades e fronteiras reflexivas, sobretudo se elas forem tomadas não somente como práticas especulativas, mas também como práticas ativas, ou seja, balizadas pelas lutas libertárias. Seu artigo é seguido pelo ensaio de David Lapoujade, “Por uma utopia não utópica?”, no qual sugere que a utopia não consiste mais em sonhar com um futuro melhor num espaço ideal, mas em reapropriar-se do presente, que é ao mesmo tempo a única coisa que possuímos e aquilo de que somos sempre desapossados.

Os demais capítulos aprofundam a reflexão sobre diversos aspectos que envolvem política, psicanálise, sexualidade e outros temas: “Hans Jonas: uma ética para a civilização tecnológica”, de Oswaldo Giacoia Junior; “A traição da opulência ou o colapso da utopia econômica”, de Jean-Pierre Dupuy; “Utopia: do espaço ao tempo”, de Marcelo Jasmin; “Utopia e ponto de fuga: fronteira e espaço sideral”, de Olgária Matos; “Formas estéticas do discurso autoritário”, de Jorge Coli; “A utopia da cura em psicanálise”, de Maria Rita Kehl; “Meios e fins”, de Marcelo Coelho; “A utopia contemporânea dos corpos”, de Frédéric Gros; “A sexualidade como utopia”, de Pascal Dibie; “Viver sem esperança é viver sem medo ou contra a utopia”, de Vladimir Safatle; “Utopia e negatividade: modos de reinscrição do irreal”, de Renato Lessa; “O pós-humano: rumo à imortalidade?”, de Jean-Michel Besnier; “Utopia e regeneração: a fênix, a aranha e a salamandra”, de Catherine Malabou; “Projeto e destino: de volta à arena pública”, de Guilherme Wisnik; “Ladrões da utopia: uma crítica tardia do entretenimento que serviu de linguagem a um sonho de esquerda”, de Eugênio Bucci; e “Pensamento e utopia: breves anotações militantes sobre a universidade”, de João Carlos Salles.

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