
João Meirelles fala sobre a biografia do artista que transformou sua vida e sua forma de olhar o Brasil
Foi o próprio Frans Krajcberg quem, em 1985, pediu a João Meirelles que escrevesse sua biografia. O pedido aconteceu durante uma viagem ao Norte do Mato Grosso, apenas os dois, depois de uma primeira expedição em grupo no ano anterior. “Ele se sentiu à vontade para me solicitar uma biografia. Fiquei eufórico, mas, claro, não dei conta de imediato”, relembra Meirelles.
Foi a partir daí que o autor registrou conversas, viagens e aprendizados em diários e gravações. “Ele dizia que, sozinho diante do gravador, nada saía. Mas em diálogo, seus pensamentos fluíam tranquilamente. Aprendi que uma biografia não é um apanhado de datas, mas algo consistente, que fizesse sentido. Para ele, aliás, sempre foi claro: tem que fazer sentido, ser direto, transformador.”
O início de uma jornada
O primeiro contato entre os dois aconteceu em 1984, por meio do artista Sepp Baendereck, grande amigo de Krajcberg. Meirelles, então muito jovem, foi imediatamente acolhido por essa dupla já consagrada. “Não havia barreiras entre nós, tanto pela idade, como diante de sua importância. Eles me tratavam muito bem, como um igual. Senti-me acolhido e respeitado, isso foi fundamental para a minha vida. Tornei-me um ambientalista profissional pela convivência com Frans.”, conta.

A relação passou por três fases: uma convivência intensa nas viagens de campo e expedições pela floresta; um longo hiato, no qual Meirelles seguiu acompanhando o artista à distância; e a retomada nos últimos dez anos de vida de Frans, período em que se aprofundou no legado que Krajcberg queria deixar ao Brasil. “Depois veio uma quarta fase: a da defesa de sua memória, a militância pela conservação de sua obra, pela divulgação de sua vida, que já dura oito anos e seguirá pelo tanto que viver”, afirma.
Quase 40 anos até a publicação
Entre o pedido e a publicação de Frans Krajcberg: a natureza como cultura passaram-se quase quatro décadas. O trabalho envolveu mais de 80 entrevistados, 110 entrevistas, pesquisa documental em arquivos do Brasil, Europa e Estados Unidos, além de uma investigação minuciosa em fontes acadêmicas e jornalísticas. “Nunca desisti. Todos os meus projetos são de longo prazo. A biografia de Krajcberg é um compromisso de vida — um agradecimento ao aprendizado que tive a oportunidade de assimilar.”
O livro foi publicado em coedição entre a Edusp e as Edições Sesc São Paulo, iniciativa que, segundo Meirelles, trouxe a sensação de acolhimento: “Foi o melhor dos mundos”.

Arte, militância e legado
Krajcberg nunca separou arte de militância. Brigava contra desmatamentos em Nova Viçosa, discursava em fóruns internacionais e denunciava incansavelmente a destruição ambiental. “Ele não baixava a guarda, era ativista 24 horas por dia, brigando o tempo todo. Muitas vezes de forma estabanada, mas conseguia dar o seu recado”, diz o autor.
A natureza como cultura
Para Meirelles, conviver com Krajcberg foi aprender a ver o Brasil de outra forma. “Ele me mostrou que, para ser artista brasileiro, é preciso conhecer o Brasil profundo, a sua gente, a sua terra, as naturezas que se desdobram Brasis adentro.”
E se tivesse que resumir o artista em uma frase? O biógrafo não hesita:
“Krajcberg é a arte em movimento, provoca-nos o tempo todo – para estarmos atentos, a reconhecer a natureza transformadora, a ponto de torná-la A natureza como cultura.”
Veja também:
:: vídeo
:: Trecho do livro
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