Hora de discutir São Paulo

10/10/2013

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Evento que ocupa diversos espaços culturais na cidade debate espaço público e mobilidade urbana. No Sesc Pompeia estão em pauta os “Modos de Colaborar”, com diversos coletivos na contribuição de ideias, de 12/outrubro a 1/dezembro

São Paulo se expandiu vertiginosamente no último século. Em termos demográficos, arquitetônicos, comerciais, financeiros e urbanos. E quanto mais pessoas desembarcavam em São Paulo, refugiadas ou em busca de oportunidades, mais a cidade sentia a necessidade do exponencial e não planejado crescimento, para que todos coubessem por aqui e encontrassem os seus espaços de sobrevivência. Tudo sem qualquer reflexão das frentes política, estatal ou privada, que aqui se instalavam e denominavam esta cidade, em constante curso cosmopolita, como a “terra das oportunidades”.

O crescimento, sendo maior que o (não) esperado, tornou São Paulo uma das cidades mais desiguais do mundo quesitos contingência, espaço e mobilidade urbana, fazendo com que o fator da má convivência humana levasse, tardiamente, em junho de 2013, milhões de pessoas às ruas com reivindicações justas. As manifestações, lideradas por um grupo que questiona o valor da tarifa do transporte coletivo atual e sugere a sua gratuidade, levaram outras frentes de protestos às ruas, que questionava também a equidade entre os seus cidadãos (quase 11 milhões de habitantes) que circulam por aqui todos os dias, sejam oriundos desta própria capital financeira do Brasil ou das 38 cidades de seu entorno, para o trabalho rotineiro ou para o turismo de negócios.

E como a melhoria da qualidade de vida nas metrópoles está em pauta nas mais distantes cidades do mundo, e o resultado das discussões sobre este assunto tem alcançado inúmeros resultados positivos, o momento é oportuno para São Paulo experimentar um pouco dessa experiência. Principalmente se for idealizada e sediada por instituições que contribuem efetivamente no modus vivendis do cidadão ativo e participante da vida urbana, numa discussão ampla e que leva todas as questões do modo como se vive na cidade. Instituições como Instituto de Arquitetos do Brasil, Sesc Pompeia, Masp, Museu da Casa Brasileira, Praça Victor Civita, Centro Universitário Maria Antonia, Associação Parque Minhocão, Mostra de Cinema Internacional, Projeto Encontros – Estação Paraíso do Metrô, Centro Cultural São Paulo, CPTM e o Metrô de São Paulo unem suas forças e espaços para que seja viabilizada a X Bienal de Arquitetura, com uma proposta diferente das últimas edições, que contava com um único espaço expositivo, onde o visitante se limitava a contemplar projetos de diversos arquitetos no prédio da Fundação Bienal. Nesta edição, ela acontece em rede e prevê discussões inclusivas sobre o tema Cidade: modos de fazer, modos de usar, o que em seu próprio título, remete à participação mais popularizada do assunto “qualidade de vida na metrópole”.

A Bienal de Arquitetura de São Paulo é realizada há 40 anos pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e dessa vez pretende refletir sobre a cidade contemporânea, incorporando a dimensão urbana na sua própria estrutura espacial. Assim, ao mesmo tempo em que visita a exposição, o público tem a experiência viva da cidade de São Paulo. A escolha dos locais que compõem a rede segue dois critérios básicos: a qualidade dos espaços, na relação entre arquitetura e uso, e a sua acessibilidade, por meio da articulação ao sistema de transporte de massa da cidade. Assim, é possível visitar toda a X Bienal a partir um sistema multimodal que tem o metrô como espinha dorsal.

A Rede

A rede de espaços expositivos é composta pelos seguintes pontos: Centro Cultural São Paulo, SESC Pompeia, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Museu da Casa Brasileira, Centro Universitário Maria Antônia – USP (CEUMA), Praça Victor Civita, Associação Parque Minhocão e Projeto Encontros – Estação Paraíso do Metrô. A rede expandida inclui Casa de Francisca, Casa do Povo, Cemitério do Araçá, Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes,,Galeria Choque Cultural, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, Instituto de Arquitetos do Brasil-São Paulo e Teatro Oficina.

Em entrevista à Revista E,  publicação mensal do SESC SP, a assistente de Artes Visuais da Gerência de Ação Cultural (Geac) Juliana Braga, afirma que “a parceria do SESC com a Bienal não é inédita, mas a mudança em seu formato vai ao encontro dos princípios da instituição, identificados pelo empoderamento da população sobre os aspectos da cultura arquitetônica e artística que a cidade pode promover, somados ao debate sobre mobilidade urbana tendo a metrópole como espaço de discussão de aspectos fundamentais ao cotidiano. As atividades mostrarão ao público um processo de criação conjunta, que não se dá só pelos artistas, mas na conexão das comunidades dos locais onde serão feitas as pesquisas dos coletivos.” Ao ceder seu espaço para o módulo “Modos Colaborativos de Fazer, Modos Colaborativos de Usar”, o Sesc Pompeia estará ao lado do Teatro Oficina e do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. É o núcleo no qual estão programadas palestras, oficinas e exposições, tendo como um dos destaques o trabalho dos coletivos híbridos – formados por artistas e arquitetos – Supersudaca (Coletivo internacional que foca seu trabalho na América Latina, sem um ponto único de atuação), Vazio S/A (Belo Horizonte) e EME3 (Barcelona).

Na matéria publicada no caderno Ilustríssima do jornal Folha de São Paulo, do dia 6 de outubro de 2013, os curadores Guilherme WisnikAna Luiza Nobre e Ligia Nobre refletem “as cidades estão hoje no centro da discussão mundial. O planeta se urbanizou de forma rápida e avassaladora, as metrópoles incharam, tornaram-se infinitamente mais complexas, e a ciência responsável por refletir sobre esses processos e regrar seu crescimento -o urbanismo- entrou em colapso. Por onde seguir”?

A X Bienal de Arquitetura reflete em ampla escala o cotidiano do cidadão, para que este se sinta inserido efetivamente ao sistema urbano de vida, oferecendo a São Paulo a chance de ser uma cidade melhor para se viver, capaz de influenciar outras cidades em emergência, no Brasil e em outros países. Depende mesmo, além de política voltada para pessoas, de cada indivíduo, sendo que este, não só ajude a construir, mas a preservar e usar a cidade de forma consciente e agregadora da boa convivência entre todos os cidadãos.

Além desta edição da Bienal, outros passos elevam o apoio do Sesc à melhoria da cidade, por intermédio de uma plataforma prática, gratuita e interativa. O portal Sampa Criativa, que é uma idealização do Sesc, SENAC e FECOMÉRCIO, recolhe depoimentos e ideias de cidadãos que se interessam em melhorar a cidade. Trata-se de um ambiente digital colaborativo com o objetivo de reunir propostas de melhoria para São Paulo. Estas propostas já estão sendo encaminhadas, formal e semanalmente, aos poderes Legislativo e Executivo da cidade. Para atingir seu objetivo, a plataforma conta com uma equipe de curadores, jornalistas e analistas de redes sociais que atuam sob a coordenação conjunta das equipes do Sesc, do Senac e da Fecomércio, além das empresas Garimpo de Soluções e Umana.

Sobre a Programação do Sesc Pompeia – MODOS DE COLABORAR

Que presente inventar agora?

A exposição é composta por uma rede internacional de coletivos de arquitetos, urbanistas e artistas, estúdios de arquitetura e design, escolas e universidades que adotam posturas colaborativas visando transformar e melhorar suas cidades. Inclui duas residências-colaborações em parceria com o Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes e o Teatro Oficina, com conversas, palestras e oficinas, que acontecem entre setembro e novembro, com seus resultados compartilhados no Sesc Pompeia.

Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc em São Paulo, “acolher e potencializar mobilizações para a melhoria da qualidade de vida nas cidades reafirma os compromissos e valores institucionais do Sesc. Ao compartilhar ações e vivências reflexivas e formativas de maneira descentralizada, favorece a efetiva apropriação e protagonismo dos cidadãos em prol da transformação urbana e social”. Miranda também acredita que “para urbanistas, arquitetos e artistas, a questão do pleno direito à cidade deve estar no cotidiano de sua ação, e entendê-la possibilita descortinar uma série de caminhos inspiradores. Ao ocupar diferentes espaços da cidade, esta edição da Bienal, presente em pontos vitais na cena cultural da metrópole, multiplica seu conteúdo em um roteiro mais abrangente na cidade”.

Mais:

:: Cidade Aberta

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