Arte e alerta: Conheça livros e filmes dos povos indígenas no Brasil

11/04/2019

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Frame do filme Martírio (Dir: Vincent Carelli, Tita, Ernesto de Carvalho. Brasil, 2016, 160′)

No Brasil, vivem atualmente 305 povos indígenas, falantes de 274 línguas. Nos últimos anos, muitas etnias se apropriaram das tecnologias e das redes sociais para narrar e divulgar suas próprias histórias. Essa realidade é muito importante para fortalecer a nossa diversidade cultural e ao mesmo tempo alertar a sociedade dos riscos de genocídio que muitas dessas comunidades enfrentam.

Assim, com as produções literárias e audiovisuais dos indígenas podemos nos aproximar um pouco mais das diferentes culturas dos nossos povos originários, além de despertar o conhecimento sobre as lutas travadas para a manutenção dessas existências.

Escolhemos 6 livros e 6 projetos audiovisuais pra você começar o mergulho nesse universo. Confira:

A Queda do céu – Davi Kopenawa

Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A Queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade – foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador. Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami – com intuição profética e precisão sociológica – chamam de “povo da mercadoria”. 

Encontros – Ailton krenak 

Ailton Krenak é um maiores líderes políticos e intelectuais surgidos durante o grande despertar dos povos indígenas no Brasil, ocorrido a partir do final dos anos 1970. A sua atuação tem sido fundamental para a luta pelos direitos indígenas e a criação de iniciativas como a União das Nações Indígenas e a Aliança dos Povos da Floresta. Ailton é um pensador acurado e original das relações entre as culturas ameríndias e a sociedade brasileira, criando reflexões provocativas e de largo alcance, como as presentes nas entrevistas e depoimentos contidos nesse volume da Coleção Encontros.

  
   Trecho do livro Encontros

 

A terra é mãe do índio – Eliane Potiguara

Na proposta do GRUMIN (Grupo Mulher-Educação Indígena) destaca-se o trabalho voltado para a Educação dentro das aldeias como forma de contribuição à luta do movimento indígena de resgate de sua história, de sua cultura e até mesmo de sua identidade, nas regiões onde o processo de colonização foi mais destruidor. O GRUMIN ao lançar este livro-cartilha, “A terra é a mãe do índio”, pretende tão somente somar aos esforços de todos os irmãos índios em busca desse objetivo, levando aos monitores de educação, enfermeiros indígenas e professores das cidades seu apoio para a compreensão das razões sociais, políticas e econômicas que deram origem à opressão, discriminação social e racial que sempre os envolveram.

Criaturas de Ñanderu – Graça Graúna

Criaturas de Ñanderu consiste em um emocionante conto indígena escrito por Graça Graúna no qual uma garota com nome de pássaro, ao tornar-se adulta, ganha asas e sai de sua tribo para conhecer a cidade grande. Graça Graúna é indígena, descendente Potiguara (RN), educadora universitária na área de Literatura e Direitos Humanos. é também autora de Canto Mestizo, Tessituras da Terra e Tear da Palavra.

Meu Vô Apolinário: Um Mergulho no Rio da (minha)

Memória – Daniel Munduruku


Contar histórias é um dos prazeres de Daniel Munduruku. O livro resgata parte de sua vida e do seu relacionamento com o vô Apolinário, um velho índio, da tribo Munduruku, que contava histórias dos espíritos ancestrais, a quem chamava carinhosamente de “avós e guardiões”. “Na verdade não sei muita coisa sobre meu avô porque o via muito pouco. No entanto, esse pouco de convivência marcou profundamente minha vida, formou minha memória, meu coração e meu corpo de índio. Acho até que falar dele me faz resgatar a história de meu povo e me dá mais entusiasmo e aceitação da condição que não pedi a Deus, mas que recebi Dele por algum motivo”, escreve Daniel. Este livro recebeu a menção honrosa do prêmio Literatura para Crianças e Jovens na Questão da Tolerância, na categoria de livros para crianças de até 12 anos, concedida pela UNESCO.  

A Árvore de Carne – Lia Minápoty (autora), Yaguarê Yamã (autor), Mariana Newlands (ilustradora)

O livro narra seis contos da mitologia do povo Maraguá, descendente da antiga civilização Tapajônica – que desenvolveu sofisticada cerâmica decorada -, habitante da região do rio Abacaxis, no Amazonas. O fato de ambos os autores serem originários de tal cultura busca anular a presença de um branco como intermediário das narrativas. O volume contém um glossário que explica os significados de palavras do idioma Maraguá – e de outras línguas indígenas – e do vocabulário típico da Amazônia.   

Martírio (Dir: Vincent Carelli, Tita, Ernesto de Carvalho. Brasil, 2016, 160′)

A grande marcha de retomada dos territórios sagrados Guarani Kaiowá através das filmagens de Vincent Carelli, que registrou o nascedouro do movimento na década de 1980. Vinte anos mais tarde, tomado pelos relatos de sucessivos massacres, Carelli busca as origens deste genocídio, um conflito de forças desproporcionais: a insurgência pacífica e obstinada dos despossuídos Guarani Kaiowá frente ao poderoso aparato do agronegócio.

Pi’õnhitsi – Mulheres Xavante sem Nome  (Dir: Divino Tserewahú e Tiago Campos Torres, 2009, 56′)

Desde 2002, Divino Tserewahú tenta produzir um filme sobre o ritual de iniciação feminino, que já não se pratica em nenhuma outra aldeia Xavante, mas desde o começo das filmagens todas as tentativas foram interrompidas. No filme, jovens e velhos debatem sobre as dificuldades e resistências para a realização desta festa.

O Mestre e o Divino (Dir: Tiago Campos Torres. Brasil, 2013, 85′)

Dois cineastas retratam a vida na aldeia e na missão de Sangradouro, Mato Grosso: Adalbert Heide, um excêntrico missionário Alemão, que logo depois do contato com os índios, em 1957 começa a filmar com sua câmera Super-8; e Divino Tserewahu, jovem cineasta Xavante, que produz filmes para a televisão e festivais de cinema desde os anos 90. Entre cumplicidade, competição, ironia e emoção, eles dão vida aos seus registros históricos, revelando bastidores bem peculiares da catequização indígena no Brasil. 

Osiba Kangamuke – Vamos lá, Criançada!  (Dir: Haja Kalapalo, Tawana Kalapalo, Thomaz Pedro, Veronica Monachini. Brasil, 2016, 20′)

https://youtube.com/watch?v=-5gueIsFZS0

As crianças da aldeia Aiha Kalapalo, do Parque Indígena do Alto Xingu (MT), são as protagonistas desse filme e escolheram mostrar alguns aspectos da sua rotina, da sua cultura e da íntima relação com a natureza. da escola, onde aprendem o português até os rituais e a luta ikindene, os pequenos Kalapalo demonstram uma sutileza peculiar de quem conhece suas tradições. “Osiba Kangamuke – Vamos Lá, Criançada” é resultado de uma oficina de vídeo realizada com as crianças na aldeia, em julho de 2015. assim, elas participam não só da atuação, mas também em todo o processo de filmagem. o filme é uma produção conjunta entre pesquisadores, cineastas indígenas e não indígenas.

As hiper mulheres  (Dir: Takumã Kuikuro, Carlos Fausto e Leonardo Sette. Brasil, 2011, 79′)

Temendo a morte da esposa idosa, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.

Vídeo nas aldeias

Precursor na produção audiovisual indígena, o Vídeo nas Aldeias dedica-se, desde 1986, à formação de cineastas indígenas e à produção e difusão de seus filmes, apoiando suas lutas e contribuindo para a garantia de seus direitos culturais e territoriais. Ao longo dessa trajetória, o VNA construiu um dos mais importantes arquivos audiovisuais sobre a realidade indígena contemporânea, reunindo cerca de oito mil horas de imagens produzidas junto a mais de quarenta povos no Brasil.

Essa coleção apresenta filmes que remontam às origens do projeto, desde as primeiras experiências com a câmera como ferramenta de luta política e revitalização cultural, passando pela troca de imagens entre as aldeias, culminando na formação de cineastas indígenas, num processo de criação colaborativa entre indígenas e não-indígenas nas comunidades. Mais do que um registro de culturas, estes filmes revelam visões de mundo múltiplas e complexas, que resistem à invisibilidade e ao apagamento a que têm sido historicamente submetidos os povos nativos no Brasil.

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Durante este mês, o Sesc SP propõe a ação em rede Abril Indígena, que constitui um convite para que o público se aproxime das culturas e conhecimentos 

Para saber mais sobre os povos indígenas no Brasil, acesse o sítio eletrônico do Instituto Socioambiental.

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