As Três Irmãs e A Semente da Romã: espetáculos reúnem quatro gerações de artistas no Sesc Pompeia

13/07/2022

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Peças autômas e encenadas simultaneamente reúnem Walderez de Barros, Antônio Petrin, Sérgio Mamberti (participação especial em vídeo), Walter Breda, Ondina Clais, João Vasconcellos, Eduardo Estrela, Maria Manoella e Luiz Carlos Vasconcelos, Luciano Gatti, Lucia Bronstein, Miriam Rinaldi, Marcos Suchara, Rodrigo Fidelis e Conrado Costa 

Nestes tempos conturbados de mudança, o que iremos levar conosco para passar às gerações futuras e o que deixaremos para trás? O que é essencial para nós e de que teremos que abrir mão? Essas são algumas das questões que nortearam as investigações dessas duas montagens que, após o longo período pandêmico, mudanças e perdas irreparáveis, serão encenadas presencialmente, conforme a concepção original, entre os meses de julho e agosto.  

Duas peças autônomas encenadas simultaneamente no palco projetado por Lina Bo Bardi para o Teatro do Sesc Pompeia, capaz de abrigar duas plateias distintas. Em um dos lados, a plateia acompanha a encenação de “As Três Irmãs”, uma das obras-primas de Anton Tchekhov. A segunda plateia, localizada “nas coxias”, do outro lado, assiste ao que seriam os bastidores da primeira. Essa coxia teatral, construída em sincronia com “As Três Irmãs“, é a encenação da peça “A Semente da Romã”, obra inédita de Luís Alberto de Abreu, um dos mais reconhecidos dramaturgos brasileiros contemporâneos. Os espetáculos funcionam de forma autônoma e só podem ser vistos pelo público em dois dias diferentes, ou seja, a simultaneidade é somente para os atores. O público pode escolher se vai assistir às duas peças ou apenas uma, sem prejuízo da experiência estética.   

“As peças, embora sejam obras autônomas, dialogam entre si: enquanto a primeira reflete as discussões e os sonhos de uma classe sobre sua própria vida e seu papel na sociedade russa do início do século XX, a segunda lança o olhar para a vida das pessoas de teatro e para o significado do próprio teatro na sociedade brasileira atual”, diz Ruy Cortez.  

Um díptico que engaja quatro gerações de artistas e que aprofunda as relações entre memória e utopia contidas tanto no clássico moderno russo, quanto no contexto brasileiro contemporâneo, nos colocando diante das questões: qual o papel da arte, e especificamente do teatro, como um lugar de criação de um sonho partilhado, um meio de preservação da memória e do imaginário coletivo? E, sobretudo: “qual é o futuro comum que desejamos? Nesse mundo que iremos escolher, haverá algum lugar para a experiência acumulada do passado? Para a memória dos mais velhos? Para as vozes que foram silenciadas por séculos?”, acrescenta Marina Nogaeva Tenório.  

O texto inédito A Semente da Romã reúne em cena três gerações de atores, que estão nos bastidores do último dia de representação (apresentação) de As Três Irmãs. Enquanto esperam suas entradas, esses atores refletem sobre a situação política e cultural do país, sobre o futuro da arte, do teatro e de suas próprias vidas, criando uma fina trama entre as proposições do texto de Tchekhov e a sua realidade.  

“Em relação às Três Irmãs, A Semente da Romã funciona como o ‘avesso da obra’, evidenciando a tessitura de que é feita, as aspirações, sonhos, desilusões e paixões humanas dos próprios artistas que a realizam”, complementam os diretores. 

Embora em alguns momentos discuta questões análogas ao texto de Tchekhov, aqui o olhar se dá a partir da perspectiva do que é o próprio fazer teatral, do que o teatro representa enquanto lugar da imaginação e da utopia e, ao mesmo tempo, do trabalho exaustivo, da frustração e do sacrifício. Em outras palavras, A Semente da Romã discute o que é ser artista de teatro no Brasil. 

“Todos os integrantes desse projeto continuam nessa travessia. Testemunham como o valor da vida humana e o valor da arte, da educação e da cultura estão sendo colocados em xeque enquanto lugares de afirmação do próprio sentido da vida. E não se pode negar o fato de que o teatro reflete, como um microcosmo, todas as crises vividas pela sociedade de cada tempo”, acrescenta Marina Nogaeva Tenório.  

Acredita-se também que é precisamente nesses períodos turbulentos que ressurgem valores esquecidos que podem servir como caminho orientador nessa travessia.  

Dentre esses valores, destacam-se questões do feminino, como a resiliência, a potência e a liberdade, temas essenciais de “As Três Irmãs e A Semente da Romã”. 

A SEMENTE DA ROMà

Durante a apresentação da peça As Três Irmãs, seis atores coadjuvantes vivem nos bastidores conflitos pessoais, profissionais e mesmo existenciais enquanto esperam a entrada em cena.  Alguns desses conflitos dialogam com as questões dos personagens de Tchekhov que estão em cena, outros são relacionados com o sentido da arte e as dificuldades da profissão. Outros ainda dizem respeito às relações familiares, dificuldades financeiras e conflitos entre os elementos do grupo.   

AS TRÊS IRMÃS 

Uma das mais importantes, complexas e polifônicas obras de Antón Tcheckov ganha tradução inédita da do original feita por Marina Nogaeva Tenório e Ruy Cortez. 

Em meio a uma sociedade tacanha, as três irmãs Irina, Macha e Olga, idealizam Moscou como o lugar onde haviam passado uma infância feliz, e anseiam voltar para lá; porém, por algum motivo, o projeto é sempre adiado.  

COMPANHIA DA MEMÓRIA E A PENTALOGIA DO FEMININO 

A transposição para a cena de obras literárias, a recriação de clássicos da dramaturgia, a criação e encenação da dramaturgia brasileira contemporânea, a investigação da metodologia do teatro psicofísico para o trabalho do ator e a pesquisa de uma encenação transdisciplinar tem sido algumas das marcas do trabalho da companhia ao longo de mais de dez anos de existência.  

 Em suas três obras iniciais, a Companhia da Memória dedicou-se ao estudo da linhagem patriarcal, explorada como força fugidia em “Rosa de Vidro” (2007), como força castradora em “Nomes do Pai” (2010) e interrompida através do ato parricida nos três espetáculos que compunham a obra “Karamázov” (2014). 

 Em 2016, a Companhia inicia a Pentalogia do Feminino, projeto artístico concebido por Ondina Clais e Ruy Cortez. Neste conjunto de espetáculos, a Companhia se volta à investigação da linhagem matriarcal e dos arquétipos femininos a partir de cinco obras com temas autônomos, que se desdobram e se entrelaçam sob a perspectiva do feminino.  

As Três Irmãs e A Semente da Romã são duas obras da Pentalogia. Antes dele, vieram à luz o monólogo “Katierina Ivânovna – K.I.” (2017), estrelado por Ondina Clais e baseado na personagem do romance “Crime e Castigo”; a peça “Punk Rock” (2018), do dramaturgo inglês Simon Stephens; e “Réquiem para o Desejo” (2018), uma recriação da obra “Um Bonde Chamado Desejo” de Tennessee Williams, com dramaturgia inédita de Alexandre Dal Farra.  

FICHA TÉCNICA 

Texto As Três Irmãs: AntonTchekhov 
Texto A Semente da Romã: Luís Alberto de Abreu 
Tradução de As Três Irmãs: Marina Nogaeva Tenório e Ruy Cortez 

SERVIÇO

De 14 de julho a 07 de agosto 
A Semente Da Romã 
Com Cia. da Memória 
Duração: 160 minutos 
14 anos 
R$ 12,00 Credencial plena
R$ 20,00 Meia entrada 
R$ 40,00 Inteira 
Local: Teatro 

As Três Irmãs 
Com a Cia. da Memória 
Duração: 160 minutos 
Livre  
R$ 12,00 Credencial Plena
R$ 20,00 Meia entrada
R$ 40,00 Inteira
Local: Teatro 

Ingressos à venda em sescsp.org.br/pompeia.

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