
Entre os dias 30 de julho e 2 de agosto, as Edições Sesc marcaram presença na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Instalados na Casa Edições Sesc, no centro histórico da cidade, autores, artistas, pensadores e especialistas convidados se encontraram para compartilhar ideias, leituras e experiências sobre temas que atravessam o nosso tempo: da crise climática às raízes da cultura afro-brasileira; da inteligência artificial aos legados da arte e da filosofia; das histórias de vida à força das palavras.
A curadoria dos encontros reafirma o compromisso editorial das Edições Sesc com a diversidade de vozes, com a circulação do pensamento crítico e com a valorização de saberes que conectam cultura, ciência e sociedade.
Escuta, natureza e território

A programação das Edições Sesc começou na quinta-feira, 31 de julho, com “Observação de aves e conservação da natureza”, um encontro entre o ornitólogo Fabio Schunck, autor de Aves no Sesc Bertioga: do mar à serra, e a cantora Tetê Espíndola, que compartilhou seu olhar sensível sobre o canto dos pássaros como fonte de criação e consciência ambiental. A conversa, mediada por Gustavo Faria, lançou luz sobre a importância da escuta atenta e do encantamento com o mundo natural.

Na sequência, o jornalista Fernando Gabeira e o fotógrafo João Farkas debateram, com mediação de Maria Zulmira de Souza, as belezas e os desafios da Costa Norte brasileira – um dos trechos mais biodiversos e menos conhecidos do litoral nacional. As imagens de Farkas, registradas em um novo livro pelas Edições Sesc, e a experiência política e ambiental de Gabeira convidaram o público a refletir sobre a urgência de políticas públicas de proteção ambiental integradas às realidades socioculturais da região.
Encerrando o primeiro dia, o encontro “Com a palavra, as pretas” reuniu a escritora e auxiliar de enfermagem Lilia Guerra e a psicóloga e pesquisadora Mônica Mendes Gonçalves, com mediação de Fernanda Sousa, para discutir narrativas de mulheres negras que resistem e existem nas margens e no centro da literatura e da vida cotidiana. Partindo do clássico Com a palavra, as pretas, da senegalesa Awa Thiam, publicado no Brasil pelas Edições Sesc e Zahar, o diálogo reafirmou o lugar da escrita como forma de denúncia, cuidado e reinvenção do mundo.
Literatura, ativismo e memória
Na sexta-feira, 1º de agosto, a programação teve início com um tema urgente: o clima. A educadora Kamila Camilo e o jornalista Jamil Chade conversaram, com mediação de Maria Elaine Andreoti, sobre o livro Para entender (quase) tudo sobre o clima, uma tradução das Edições Sesc que busca combater a desinformação com ciência acessível e linguagem clara.
A tarde trouxe outras conexões entre passado, presente e futuro. Em “África: raiz e futuro”, o músico e pesquisador Tiganá Santana e o editor Fernando Baldraia discutiram o legado do pensador senegalês Cheikh Anta Diop e a centralidade da África como origem de saberes e culturas. Logo depois, foi a vez de homenagear a trajetória do artista Frans Krajcberg, cuja vida e obra foram debatidas por João Meirelles, seu biógrafo, e pela crítica de arte Veronica Stigger.

O dia terminou com o encontro “Zé Celso Martinez Corrêa, o devorador“, em que o jornalista Claudio Leal, autor da biografia de Zé Celso, e os artistas Marcelo Drummond, marido de Zé, e Bete Coelho celebraram o pensamento libertário e radical do diretor do Teatro Oficina, rememorando fatos e histórias do artista.
Filosofia, tecnologia e samba

O sábado, 2 de agosto, último dia da programação do Sesc SP, trouxe novas provocações. A filósofa Marcia Tiburi e o escritor Jean Wyllys abriram o dia debatendo a falsolatria como uma das bases do discurso extremista e da desinformação. O diálogo, sob a perspectiva da filosofia pop, conectou fake news, política e responsabilidade ética.

Na sequência, o jornalista Marcelo Tas e o sociólogo Sergio Amadeu da Silveira, mediados pela jornalista Patrícia Campos Mello, mergulharam nos impactos da inteligência artificial com base no livro Atlas da IA, de Kate Crawford, traduzido e publicado recentemente pelas Edições Sesc. A discussão revelou o custo ambiental, social e político das tecnologias que moldam o presente e o futuro da humanidade.
Na penúltima atividade do evento, Marcia Tiburi retornou ao lado do filósofo Charles Feitosa para repensar o mito da caverna de Platão como símbolo da condição humana e não apenas como alegoria da ignorância. As duas atividades de Tiburi tiveram como base a Coleção Pop Filosofia, das Edições Sesc com a Editora Nós, da qual ela é a organizadora (e Jean e Charles são autores).

O encerramento da programação ficou por conta do encontro “Nelson Cavaquinho, Cartola e Carlos Cachaça… em letra e música“, que uniu a cantora e autora Eliete Negreiros ao jornalista Claudio Leal, com mediação de Jefferson Alves de Lima, para celebrar o samba e a música. O canto de Eliete deu voz às canções que traduzem o sentimento popular e refletem sobre a existência com lirismo e contundência.
Este ano, o espaço do Sesc SP ainda recebeu a Editora Senac com três atividades, além da venda de alguns de seus títulos.
Ao reunir saberes artísticos, científicos, filosóficos e populares, a programação da Casa Edições Sesc traduziu o espírito da Flip: o diálogo como forma de transformação e de escuta ativa do mundo em que vivemos.
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