
Por Margarete Micheletti
“Eu não viajo para chegar. Viajo para ir.”
Eduardo Galeano, em Os filhos dos dias.
O Vale do Ribeira é um lugar para ir ao encontro da natureza, de lugares históricos, de culturas ancestrais. Com grandes áreas de florestas preservadas, águas em abundância, inúmeros seres vivos distribuídos por vários ecossistemas, a região é o berço da biodiversidade paulista. E entrelaçados a todo esse complexo de vida, estão os diferentes povos tradicionais que formam o território: são mais de uma centena de comunidades indígenas, caiçaras, ribeirinhas, quilombolas e caboclas vivendo na região e transmitindo, de geração em geração, saberes e modos de viver que contribuem com a preservação de toda a biodiversidade que confere ao Vale o título de patrimônio natural e cultural da humanidade.
Um dos caminhos para ir ao encontro dessas culturas e lugares e valorizar o legado dos povos tradicionais na formação da identidade cultural do Vale do Ribeira é o Turismo de Base Comunitária (TBC), praticado há décadas por algumas comunidades da região. Ao mesmo tempo em que propicia experiências autênticas aos visitantes, o turismo feito pelas comunidades e para as comunidades se constitui em um instrumento importante para garantia do bem-estar coletivo e da defesa de seus territórios.
O projeto Rotas de Memória e Turismo de Base Comunitária no Vale do Ribeira, que começa neste mês de outubro e segue até o final de novembro na região, vem ampliar o diálogo com as comunidades tradicionais sobre “o fazer turístico” em seus territórios e sobre a importância da valorização da memória social e da preservação do patrimônio cultural do Vale do Ribeira como estratégias para o desenvolvimento territorial sustentável.
A ação é do Sesc São Paulo e faz parte do “Sesc Raízes – Territórios de Memória e Patrimônio Cultural”, projeto nacional que articula ações diversas e singulares em cada estado brasileiro. Em São Paulo, será realizado no Vale do Ribeira pelo Sesc Registro, que planejou as atividades a partir da demanda por maior visibilidade, valorização e qualificação do trabalho das comunidades tradicionais no campo do turismo regional.
Estão convidadas para o diálogo e os processos formativos do projeto as comunidades indígenas, quilombolas, caiçaras, ribeirinhas, caboclas, mestras e mestres da cultura, artesãs e artesãos, monitores ambientais, pessoas envolvidas com cultura e a história regional, grupos ou coletivos já atuantes ou interessados em promover o turismo em suas localidades. São agentes culturais e comunitários que desempenham papel essencial no desenvolvimento sustentável e na preservação da memória social do Vale do Ribeira.
Construída e reproduzida coletivamente, a memória social se refere a conhecimentos e representações compartilhados ao longo do tempo por grupos ou comunidades sobre seu passado e que moldam crenças, valores e percepções do presente. Importante para a preservação do patrimônio cultural, a memória social reflete a identidade e a história de um grupo ou comunidade.
O projeto dialoga sobre a importância da criação de espaços que valorizem a memória social como instrumento para fortalecer a identidade cultural local. Espaços que, combinados com as atividades turísticas desenvolvidas localmente, podem propiciar maior visibilidade às tradições e aos modos de vida das comunidades, incentivar a educação patrimonial, aproximando crianças, jovens e adultos de suas próprias histórias e raízes, além de garantir a preservação dos saberes tradicionais.
Estruturada com base em valores como ancestralidade, coletividade, oralidade, espiritualidade, circularidade e integração com a natureza, a programação do Rotas de Memória e Turismo Comunitário no Vale do Ribeira é composta por cursos sobre Territorialidades e Valores Afro-ameríndios: Desenvolvimento e Planejamento do Turismo de Base Comunitária no Vale do Ribeira, que serão desenvolvidos na Fábrica de Cultura (Iguape) e no Quilombo Ivaporunduva (Eldorado); encontros para mapeamento das experiências em turismo e práticas culturais tradicionais com mestres e mestras, artesãos e artesãs e demais agentes da cadeia do turismo nos municípios de Cananeia, Ilha Comprida, Iguape, Apiaí, Iporanga e Eldorado; e oficinas sobre Cartografia de Memória e Bioconstrução, que acontecem no Quilombo São Pedro (Eldorado), em que será discutida, planejada e elaborada, em conjunto, uma proposta arquitetônica para futura construção de um espaço que promova a valorização da memória social da comunidade.
São ações que propiciam a escuta, a troca de conhecimento e a formação entre diferentes lideranças comunitárias e agentes culturais do Vale do Ribeira, que reconhecem e valorizam modos de ser e fazer tradicionais para que, a partir deles, sejam discutidas e apontadas estratégias para aprimorar as ações de turismo desenvolvidas pelas comunidades, ampliar alternativas sustentáveis de geração de renda, contribuir para salvaguardar a memória social e preservar o patrimônio cultural do Vale do Ribeira.
Para o Sesc São Paulo, esse exercício democrático do turismo envolve escolhas responsáveis da instituição e um permanente exercício de formação do público para a corresponsabilidade da experiência turística. Por isso, as ações nesse campo partem de princípios como a educação pelo turismo, a educação para o turismo, a operacionalização ética e sustentável e o reconhecimento dos territórios, com sua geografia, meio ambiente e populações locais. Ao fomentar estas ações de formação em Turismo de Base Comunitária, o Sesc São Paulo reconhece a diversidade sociocultural brasileira, possibilitando o apoio ao fortalecimento de territórios e uma atuação educativa pelo turismo.
Conheça mais sobre o Rotas de Memória e Turismo de Base Comunitário no Vale do Ribeira em sescsp.org.br/registro
Serviços
Projeto Rotas de Memória e Turismo de Base Comunitária no Vale do Ribeira
Realização: Sesc Registro
Apoio: Fábrica de Cultura 4.0 de Iguape e comunidades dos Quilombos Ivaporunduva e São Pedro
Ações:
* Curso: “Territorialidades e Valores Afro-ameríndios: Desenvolvimento e Planejamento do Turismo de Base Comunitária no Vale do Ribeira”
Local: Fábrica de Cultura (Iguape) e Quilombo Ivaporunduva (Eldorado)
* Diagnóstico Participativo
Visitas a Cananéia, Ilha Comprida, Iguape, Apiaí, Iporanga e Eldorado
* Oficinas Cartografia de Memória e Bioconstrução
Local: Quilombo São Pedro (Eldorado)
* Ações voltadas a indígenas, quilombolas, caiçaras, ribeirinhos, mestras e mestres da cultura, artesãs e artesãos, monitores ambientais, pessoas envolvidas nas áreas da cultura e da história regional.
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