Por Paula Costa Castro*
Surgiram, nas últimas décadas, diversas iniciativas tecnológicas com o objetivo de evitar, prever ou responder rapidamente às quedas entre pessoas idosas. Essas soluções envolvem desde intervenções simples no ambiente doméstico até o uso de sensores sofisticados, dispositivos vestíveis, câmeras inteligentes e plataformas de atendimento remoto.
O ponto de partida da prevenção está muitas vezes dentro de casa. Adaptações como a instalação de barras de apoio, o uso de pisos antiderrapantes, a melhoria na iluminação e a retirada de tapetes soltos fazem grande diferença. Algumas são mais acessíveis e outras mais caras. Por exemplo, um sensor infravermelho de presença, que acende a luz ao detectar movimento em corredores, banheiros e áreas de passagem, custa cerca de R$ 25. Uma barra de apoio, incluindo o serviço de instalação, fica em média R$ 400, enquanto a construção de elevadores laterais ou adaptação de um banheiro pode alcançar custos superiores a R$ 10 mil. Muitas residências ainda não estão adaptadas, seja por barreiras financeiras, desconhecimento ou resistência à mudança. Por isso, o papel de educadores, cuidadores e de todos nós, que envelhecemos, é fundamental para orientar sobre esses cuidados.
Para além das soluções físicas, a tecnologia vestível também tem ganhado destaque. Relógios, pulseiras e colares com sensores integrados monitoram os movimentos do usuário e são capazes de detectar quedas, emitindo alertas automáticos para familiares ou serviços de emergência. Alguns desses dispositivos também atuam de forma preventiva, alertando quando percebem desequilíbrios ou posturas de risco. A eficácia desses sensores é comprovada em muitos testes, alcançando alta precisão para a queda ocorrida, embora ainda existam limitações, principalmente para riscos como falhas em reconhecer quedas em cadeiras de rodas ou alarmes falsos em situações cotidianas. Muitos modelos estão sendo desenhados com foco na estética, no conforto e na discrição, facilitando sua aceitação.
Para os momentos em que a pessoa idosa não está usando um dispositivo no corpo, os sensores instalados nos ambientes são aliados importantes. Por exemplo, sensores de pressão sob o colchão ou no chão ao lado da cama conseguem detectar movimentações incomuns e acionar alertas rapidamente. Sistemas com câmeras inteligentes, por sua vez, analisam as imagens por inteligência artificial e reconhecem quedas automaticamente. Esses recursos já são utilizados com bons resultados em hospitais e instituições de longa permanência.
A privacidade, porém, é uma preocupação legítima. Para preservar a dignidade da pessoa idosa, muitas soluções têm adotado recursos tecnológicos que não mostram rostos nem detalhes corporais. Entre os exemplos, estão câmeras de profundidade ou sensores térmicos, que registram apenas silhuetas ou mapas de calor. Dessa forma, é possível manter a segurança sem expor intimamente os indivíduos monitorados.
Há também sensores baseados em ondas de rádio, como o radar e o Wi-Fi Doppler, que captam alterações nos padrões de sinal causados por movimentos no ambiente. Esses equipamentos funcionam mesmo no escuro, não captam imagens e são promissores para o uso doméstico. Além disso, há sistemas que combinam múltiplos sensores para uso doméstico — por exemplo, um relógio com sensor de queda integrado a câmeras e sensores de movimento. Essa combinação aumenta a confiabilidade e reduz alarmes falsos, configurando uma “residência inteligente” voltada à segurança da pessoa idosa.
Além da detecção e resposta, outra frente importante da prevenção é o acompanhamento remoto da saúde. As plataformas de telemonitoramento e telessaúde, por exemplo, conectam sensores a centrais de atendimento que, em caso de alerta, acionam socorro rapidamente. Muitos serviços também incluem videochamadas com profissionais de saúde, orientações sobre exercícios físicos e avaliações periódicas de risco de quedas.
A prática de exercícios físicos, por sua vez, é um dos pilares mais eficazes na prevenção de quedas. Hoje, há canais e aplicativos que oferecem programas de exercícios guiados por vídeo e até videogames adaptados com jogos de equilíbrio que tornam a prática mais divertida. Esses recursos podem ser usados em casa e com acompanhamento remoto, o que facilita o acesso de quem tem mobilidade reduzida ou mora longe de centros especializados.
A inteligência artificial tem papel crescente nesse cenário. Sistemas modernos aprendem padrões de movimento de cada usuário e se adaptam para distinguir melhor uma queda real de uma simples mudança de postura, por exemplo. Há, ainda, algoritmos capazes de prever riscos de quedas com base em variações sutis no andar, velocidade dos passos ou equilíbrio da pessoa idosa, o que pode promover uma abordagem mais preventiva e personalizada.
Entretanto, é importante reconhecer os desafios no uso desses recursos tecnológicos. O custo ainda é um obstáculo para muitas famílias, especialmente em contextos de vulnerabilidade social. Alguns equipamentos exigem assinatura mensal, acesso frequente à internet ou uso de smartphones de última geração. Iniciativas públicas podem ajudar a reduzir essas barreiras, como parcerias com planos de saúde, distribuição gratuita de dispositivos em projetos sociais, ou ainda políticas de subsídio.
Outro ponto crítico é a integração dessas tecnologias com serviços formais de saúde. Muitas vezes, os dados coletados pelos sensores não chegam aos profissionais que acompanham a pessoa idosa. Seria ideal que o histórico dos dados estivesse disponível no prontuário de cada paciente. A criação de protocolos padronizados e a formação de profissionais para interpretar e usar esses dados também são passos fundamentais para ampliar o impacto dessas inovações.
A privacidade e a ética no uso dessas tecnologias merecem atenção constante. Monitorar alguém em sua própria casa exige consentimento claro, transparência no uso dos dados e respeito à autonomia da pessoa idosa. Tecnologias menos invasivas e que operam localmente, sem enviar imagens para a nuvem, têm sido preferidas por oferecerem mais controle ao usuário.
Por fim, vale lembrar que a população com mais de 60 anos é muito diversa. Soluções eficazes para uma pessoa ativa podem não funcionar para outra com limitações físicas. Portanto, é essencial personalizar a escolha dos dispositivos, respeitar preferências individuais e oferecer apoio para que os usuários aprendam a usar os recursos. O envolvimento ativo das pessoas idosas no desenvolvimento e na escolha dessas tecnologias aumenta a aceitação e a eficácia. A mensagem é clara: tecnologia pode — e deve — ser aliada na promoção da independência. Com orientação adequada, participação ativa e escolha consciente, é possível envelhecer com mais segurança e liberdade.
*Paula Costa Castro possui graduação, mestrado e doutorado em fisioterapia, com pesquisa nas áreas de gerontologia, gerontecnologias, envelhecimento saudável, qualidade de vida e universidades da terceira idade. É professora no Departamento de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e orientadora em programas de pós-graduação em gerontologia (DGero/UFSCar) e bioengenharia (PPGIB/USP).
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