Veias Abertas 60 30 15 seg no Sesc Pompeia

06/06/2025

Compartilhe:

Espetáculo Veias Abertas 60 30 15 seg celebra os 20 anos da Aquela Cia com estreia no Sesc Pompeia

Depois de duas décadas dedicadas a retratar a história do Rio de Janeiro, a Aquela Cia decidiu ampliar seu objeto de pesquisa. Seu novo trabalho, Veias Abertas 60 30 15 seg, aborda a construção do continente latino-americano.  

“Partimos do livro ‘As Veias abertas da América Latina’, publicado por Eduardo Galeano em 1971, para discutir temas como a dependência econômica do território e a exploração violenta da mão-de-obra – consequências direta da colonização”,  conta o diretor Marco André Nunes. Em cena estão Carolina Virgüez, Juracy de Oliveira, Matheus Macena e Rafael Bacelar. 

O espetáculo não é uma representação do livro. O texto assinado por Pedro Kosovski e Carolina Lavigne expande os assuntos abordados na obra. “Nós também queremos mostrar a força de resistência e luta dos povos latinos-americanos. Por isso, a peça foi para um lado mais performático, com uma estrutura marcada por aulas de dança de ritmos bem tradicionais, como salsa, bolero e mambo”, acrescenta.  

Sobre a encenação 

A companhia define o trabalho como uma espécie de melodrama político. A trama evoca principalmente o Massacre das Bananeiras, que ocorreu na cidade de Aracataca, na Colômbia, em 1928. Na ocasião, a mando dos Estados Unidos, o Exército abriu fogo contra os grevistas da United Fruit Company. Mais de 2 mil trabalhadores morreram.  

A narrativa é construída a partir de um casal (um trabalha na United Fruit Company e outro no Exército) que se conhece durante algumas aulas de dança. Os dois vão se casar na sala onde aprenderam a se expressar com o corpo, mas, justamente nesse dia, acontece o famoso massacre.  

Enquanto o discurso documental e as questões políticas expõem as feridas da colonização, o grupo sugere uma saída: a reconexão com a imaginação a partir do movimento corporal, o que levaria a uma ligação das pessoas com as suas forças vitais.     

Por isso, a música tem um papel central na narrativa, servindo como um meio para demonstrar sentimentos e contextos culturais. O público vai escutar trechos das canções “Lluvia con Nieve”, de Mon Rivera; “Pajarito”, de La Charo; “Only You”, de Dolores Duran; “Tudo Passará”, de Nelson Ned; “Cali Pachanguero”, do Grupo Niche; “Dois Pra lá , Dois Pra Cá”, de Elis Regina; “Mambo nº 8”, de Pérez Prado; “La Guartinaja”, do Conjunto Tradición; “Mambo nº 5”, de Pérez Prado; “Malambo nº 1”, de Yma Sumac e Moises Vivanco; e “Billy May”, da The Rico Mambo Orchestra. 

“Quisemos ampliar poeticamente o potencial da obra de Galeano, que é muito dura ao tratar de todas as explorações sofridas pela América Latina ao longo dos séculos, principalmente por conta dos ciclos do ouro, da prata e das monoculturas”, afirma Pedro Kosovski. 

Foto: Julio Melo

Timeline da América Latina 

Para isso, a Aquela Cia também partiu para uma radicalização da linguagem“Veias Abertas 60 30 15 seg” dialoga com a contemporaneidade ao ser pensada como 80 fragmentos de até 60 segundos cada, como nas redes sociais.  

“É como uma timeline do continente. Tivemos essa ideia porque temos pensado muito sobre como a nossa atenção é facilmente capturada por esse scroll infinito. Nosso tempo passou a ser dominado por esse imaginário fragmentado”, completa o dramaturgo.  

O cenário de Aurora dos Campos e Marco André Nunes divide o espaço cênico em nove quadrados, como se fosse um jogo. As performances vão acontecendo nesses locais pré-determinados. Além disso, fotografias e quadros impressos fortalecem a parte documental da obra.   

No figurino, Fernanda Garcia optou por utilizar máscaras bem tradicionais do território, como as andinas Tinkus o Ukuku (Diablito e Whipala) e de lucha libre; bem como vestimentas típicas, como a mariachi (México) e a chola (Peru).    

As Veias Abertas da América Latina 

Décadas depois de escrever “As Veias Abertas da América Latina”, o autor Eduardo Galeano afirmou que não seria capaz de ler o livro de novo: “Meu físico atual não aguentaria. Cairia desmaiado.” É o corpo que deveria estar no centro dessa história:  corpo que esquiva, dança, resiste à captura, festeja e luta.   

A América Latina é povoada de pequenas e descontínuas histórias frente à vontade totalitária da colonização. Junto ao corpo está o debate sobre a exploração do tempo e sobre a economia da atenção que está em jogo. Se para a pensadora boliviana Silvia Cusicanqui “a palavra é o talismã do colonizador”, como seria  possível narrar em latino-américa?  

Foto: Julio Melo

Sinopse 

A peça narra a história de um casal, um militar e um funcionário da United Fruit, que se conhece em aulas de dança e decide se casar. O casamento coincide com o Massacre das Bananeiras, em 1928, na Colômbia, quando o Exército reprime uma greve, matando mais de 2 mil trabalhadores. A trama se desenrola em 80 quadros curtos, que variam entre 15 e 60 segundos. Máscaras tradicionais, figurinos típicos e músicas populares da América Latina compõem a cena. O ritmo fragmentado reflete os modos contemporâneos de consumir informação e memória. 

Ficha Técnica 

Direção: Marco André Nunes 
Texto: Pedro Kosovski e Carolina Lavigne 
Elenco: Carolina Virgüez, Juracy de Oliveira, Matheus Macena e Rafael Bacelar 
Músicos: Felipe Storino e Pedro Leal David 
Direção Musical: Felipe Storino 
Direção de Movimento: Márcia Rubin 
Cenário: Aurora dos Campos e Marco André Nunes 
Cenógrafa Assistente: Juliana Augusta Vieira  
Figurino: Fernanda Garcia 
Iluminação: Renato Machado 
Iluminador Assistente: Paulo Denizot  
Assistente de Direção: Gabriela Ruppert 
Assistente de Figurino: Mag Pastori 
Operação de luz: Juliana Augusta Vieira  
Operação de som: Fabio Luchs 
Produção: Corpo Rastreado – Gabi Gonçalves | Nathália Christine 
Idealização: Aquela Cia 
Realização: Sesc  
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Carina Bordalo 

Serviço 

Veias Abertas 60 30 15 seg 
Com Aquela Cia. 
11 de junho e 4 de julho, de quarta a sexta-feira, às 19h.  
*Sessões extras de 20 de junho a 4 de julho, às 15h   
60 minutos
16 anos
Galpão do Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93 – Pompeia 
R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (Credencial Plena)  
Ingressos disponíveis pelo site centralrelacionamento.sescsp.org.br ou nas bilheterias do Sesc São Paulo

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.