
Em 2025, o Sesc São Paulo completa 30 anos de trabalho social com pessoas refugiadas. Para celebrar e trazer diferentes pontos de vista sobre o tema, convidamos 13 pessoas impactadas por estas ações, além de 3 instituições parceiras, para relatar suas relações de cooperação e protagonismo no contexto do Sesc. Leia na sequência o depoimento de Marifer Vargas Rangel.
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São Paulo é uma cidade imensa e, muitas vezes, assustadora. Quando cheguei como imigrante e refugiada, senti medo de ser engolida por ela. Mas foi no Sesc São Paulo que encontrei não apenas atividades culturais e recreativas, mas também um lugar de acolhimento, de encontro e de pertencimento.
Lembro da primeira vez que comi de forma saudável no Sesc Carmo: parecia um detalhe, mas aquele prato de comida me deu forças para continuar a caminhada, como se fosse combustível para acreditar que a vida podia ser reconstruída. No Sesc Paulista, subi até o mirante e, olhando a cidade lá de cima, entendi que São Paulo não iria me devorar, eu teria forças para vencer.
O Sesc Belenzinho guarda minhas memórias mais ternas. Levei minha filha incontáveis vezes à piscina, e ela sempre dizia: “Mãe, quero trabalhar aqui, porque aqui as pessoas sorriem e são felizes”. Anos depois, ela se tornou a primeira jovem aprendiz refugiada do Sesc. Meu coração quase explodiu de orgulho.
No Sesc Interlagos, cozinhei arepas e levei minha cultura a funcionários que nos receberam sempre com respeito e curiosidade. No Sesc Campinas, caminhei com idosos migrantes, falando de sonhos, passado e futuro nesse Brasil difícil de compreender, mas fácil de amar.
No Sesc Consolação, tive a honra de palestrar com a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), e percebi como educar a sociedade e os migrantes é essencial para a verdadeira integração. Também vivi pequenos milagres do cotidiano: no Sesc Vila Mariana, me senti como um pássaro livre de muitas cores, sempre voando mais alto. No calor intenso do Sesc 24 de Maio, aliviei a saudade da minha família na Venezuela com sorvete de iogurte e pés no espelho d’água. No Sesc 14 Bis, dancei salsa para soltar do corpo a dor de abraços que nunca mais voltaram.
Cada unidade do Sesc me deu um pedaço de lar. Entre oficinas, encontros, música, comida e danças, aprendi que a integração não acontece apenas em documentos ou discursos, mas em sorrisos, partilhas e gestos de acolhida.
Por isso, agradeço ao Sesc: por me ensinar que defender, cuidar e pertencer são caminhos de esperança. E digo a cada imigrante e refugiado que chega: há lugares nesta cidade onde a vida floresce. O Sesc é um deles.
Aqui, São Paulo se torna também a nossa casa.
Gracias Sesc, siempre gracias!
Marifer Vargas Rangel
Com formação em história e geografia, coordenadora Pedagógica da República Jardim Guairaçá de Cáritas Brasileira, para população migrante e refugiada .
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