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Gerontecnologia - oportunidade para a ação socioeducativa no envelhecimento e na longevidade

Ilustração: Joyce Akamine.
Ilustração: Joyce Akamine.

Danilo Santos de Miranda
Diretor do Sesc São Paulo

 

É possível utilizarmos uma arqueologia das técnicas humanas para elaborar uma leitura do desenvolvimento da espécie Homo Sapiens e dos desdobramentos históricos das culturas e civilizações. A tecnologia sempre esteve inexoravelmente ligada às dinâmicas sociais, políticas, econômicas e culturais, bem como às modelações da ordem da subjetividade e da própria esfera pública. O uso social da técnica nos distingue enquanto humanos organizados em tecidos sociais variados, polifônicos e múltiplos.

Dessa forma, assim como grandes transformações sociais surgiram com as revoluções industriais do século XIX, e com os adventos técnicos do já longínquo século XX, podemos agora observar cotidianamente o presente híbrido pelo embate de temporalidades históricas convergentes e dissonantes, às quais nos impõem dilemas de conviver não só com algoritmos, big data, aprendizado de máquinas, bioinformática, edição genética, longevidade, reconhecimento facial, geolocalização onisciente, redes sociais e hiperconexão, mas também com a desigualdade social, violência, degradação ambiental, analfabetismo funcional, terrorismo, falta de saneamento básico, miséria e pobreza. Em síntese, a tecnologia não exime a história humana de suas contradições, e até mesmo as manifesta, quanto mais esteja incorporada aos meios de vida.

E nós, humanos, queremos viver mais e melhor. Todos estamos em processo de envelhecimento, concernente a todas as faixas etárias, em busca de atingir uma longevidade não apenas quantitativa, mas qualitativa, no sentindo de nos tornarmos velhos autônomos, saudáveis, criativos, protagonistas da vida em sociedade e inseridos no mundo do trabalho, do lazer, do esporte, em suma, agentes de uma cultura do envelhecimento cada vez mais valorizada e necessária.

É assim que a Gerontecnologia vem emergindo como campo frutífero de pesquisa e ação política e social, como área interdisciplinar que se debruça sobre as tecnologias aplicadas aos idosos, com o escopo de otimizar o bem estar e a qualidade de vida na longevidade – tanto para aqueles que envelhecem, como para aqueles que cuidam, aprendem e interagem com os mais velhos. Em síntese, a gerontecnologia tem a perspectiva de que a tecnologia qualifique e potencialize as relações humanas intergeracionais.

Dessa forma, o Trabalho Social com Idosos, realizado de forma pioneira, modelar e paradigmática desde 1963 pelo Sesc São Paulo, vem se atualizando em consonância com as transformações sociais, ampliando assim o diálogo com a gerontecnologia e, de modo extenso, com as próprias tecnologias informacionais disruptivas da contemporaneidade. Assim, trata-se de criar meios para que a vocação institucional para a qualidade de vida e bem-estar de seus públicos adquira ainda mais fôlego nas interfaces com a tecnologia, sem perder uma perspectiva humanista que considere a diversidade cultural.