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Passos no compasso

Aulas de dança de salão aliam atividade física a diversão e não deixam ninguém fazer feio na hora de arriscar além do dois pra lá, dois pra cá

Há quem se contente em somente chacoalhar o corpo pra lá e pra cá em uma pista de dança. Outros arriscam alguns passos naquelas ocasiões especiais: casamentos, bailes de formatura ou aniversários. Alguns, ainda, levam a coisa a sério. Muito a sério. Esses encontram nas cada vez mais populares aulas de dança de salão a oportunidade de garantir uma boa performance sob as luzes, e os olhares, de uma festa. “A gente achava que bolero era somente um passo para um lado e para o outro”, brinca a dona-de-casa Sônia Giancristofaro, 56 anos, que freqüenta as aulas de dança de salão do Sesc Ipiranga. “Agora temos técnica. Sabemos que também é para a frente e para trás.” Dona Sônia e o marido, Francesco, freqüentam as aulas há cerca de um ano. Eles se conheceram na juventude em um desses bailes organizados por estudantes para arrecadar fundos para a formatura. Foi uma espécie de volta no tempo para ambos. “Se não me engano, dançamos bolero, mas isso já faz muito tempo”, relembra a dona-de-casa. Desde então, lá se vão 40 anos, 35 de casamento. Mas o tempo não foi empecilho para que os dois se sentissem atraídos novamente pela dança. A caminho da matrícula para hidroginástica eles ouviram o chamado da música. Mudaram de idéia na hora. “Ficamos observando as pessoas dançarem, olhamos um para o outro e decidimos que essa era a hora”, conta Sônia. Hoje ela e o marido costumam ir com a turma das aulas a bailes em clubes como Independência, Clube do Sargento e Carinhoso, além de dançarem três dias da semana, inclusive aos sábados, no Sesc, onde praticam, entre outros ritmos, o tango. “A dança é uma paixão. Tem que estar apaixonado para levar esse relacionamento para a frente. Só assim dá certo”, conclui Sônia.

Basta gostar
O professor Renato Picolo concorda com a aluna. “O principal requisito é gostar de dançar”, avisa ele. Além disso, não é preciso matricular-se com um par, tampouco ter conhecimentos prévios sobre as danças. Outra idéia comum, e que cai por terra quando se conhece uma dessas salas de aula, é que a dança de salão é uma atividade exclusiva das pessoas de mais idade. A diversidade etária das turmas que vão às unidades do Sesc praticar passos de tango, bolero, gafieira ou cha, cha, cha prova o contrário. “No Sesc Ipiranga temos em torno de setenta alunos, de vinte a sessenta anos”, afirma Picolo.
Em outro ponto da cidade, no Sesc Belenzinho, uma turma de cerca de 35 alunos, tão variada quanto à do Ipiranga, também arrisca seus volteios todas as terças e quintas-feiras à noite e aos sábados no fim da tarde, sob a orientação de Carla Lazazzera. Um dos mais novos alunos da professora é o vendedor Marcos Abssamra, de 35 anos, há cerca de dois meses no grupo. A empatia foi tão grande que ele pensa até em mudar de profissão. “Quero ser professor”, diz Marcos, que ensaia os primeiros passos na nova carreira como monitor numa academia. Abssamra foi procurar a dança de salão depois de anos de dedicação exclusiva ao ciclismo. “Sempre gostei de atividades individuais, e isso era um problema no meu casamento”, lembra. Já a dança de salão, segundo ele, aumenta o círculo de convivência e abranda o lado individualista. Se depender do tempo que o vendedor dispensa à nova prática, é certo que ele se tornará a mais sociável das pessoas. Atualmente, Abssamra chega a praticar até dez horas de dança por semana. “As aulas permitem que as pessoas evoluam juntas, e é ótimo para mim, que sempre fui muito individualista, observar o ritmo de outras pessoas e as necessidades delas também. Estou passando por um grande aprendizado por meio da dança”, filosofa.
Desde fevereiro, a ordem é dançar pelas pistas da cidade. O Clube Piratininga, o Independência e Conéxion Caribe são os preferidos, sempre com grupos formados em sala de aula. Lição de casa ou extensão do curso? Talvez. Mas, certamente, muita diversão. A atriz e secretária Andréia de Carvalho é uma das companheiras de pista de Abssamra. Aos 23 anos, ela é a aluna mais jovem da turma da professora Carla. Foi parar no salão porque queria praticar atividade física e divertir-se ao mesmo tempo. Antes tentou condicionamento físico em uma academia, mas, como o quesito diversão não foi preenchido, desistiu depois de um mês. “Sempre fui louca por ritmos latinos, particularmente pela salsa”, conta. “Resolvi juntar o útil ao agradável. Já perdi peso e me diverti muito desde que comecei. A turma é bem eclética, com pessoas de várias idades. Ninguém fica de fora.” Andréia conta que até já comemorou seu aniversário numa casa de salsa e que seus amigos adoraram conhecer o ritmo. Para a professora Carla Lazazzera, quem opta por essa atividade só tem a ganhar. “Dançar emagrece, ajuda a definir o corpo, além de sociabilizar, incentivando amizades e desinibindo. Trata-se de uma atividade aeróbica, que quando realizada na medida certa faz bem ao coração, à respiração, à postura, à circulação e à saúde como um todo”, explica. “Além disso, dançando, as pessoas desenvolvem a linguagem corporal, adquirindo maior noção de espaço e tempo, conhecendo melhor seu corpo e tornando-se mais seguras e equilibradas. Além do Sesc Belenzinho e do Sesc Ipiranga, as unidades de Santos, Vila Mariana, Consolação, Carmo, entre outras (ver Em Cartaz), oferecem cursos de dança de salão. Agora, basta escolher onde você quer arriscar os primeiros passos.

Sucesso nas pistas

Gafieira – Em meados da década de 1940 e na década de 1950, o samba recebe influências rítmicas latina e norte-americana, passa a ter arranjos instrumentais e começa a ser dançado aos pares nos salões públicos, gafieiras e cabarés do Rio de Janeiro.

Tango – Surgiu no Rio da Prata, entre o Uruguai e a Argentina, no final do século 19. Dançado pelo casal abraçado, no tango de salão o cavalheiro conduz a dama pela pista, realizando movimentos harmônicos. Essa modalidade não tem movimentos exuberantes
nem seqüências combinadas, como ocorre com o tango-show, variação mais conhecida e apreciada, mas a sensualidade dos movimentos do casal, o entrelace de pernas e a proximidade dos corpos caracterizam qualquer versão.

Salsa – Uma das versões quanto à sua origem diz que derivou do danzón, dança praticada em Cuba, no século 19, parecida com um bailado medieval. O nome salsa (tempero, em espanhol) se refere a algo picante, o que caracteriza o ritmo popularizado a partir de meados do século 20.

Valsa – Surgiu nas regiões campestres da Alemanha e Áustria, desenvolvendo-se a partir do Minueto e do Laendler (dança popular austríaca), entre 1770 e 1780. Chegou a ser proibida nos salões devido à proximidade entre o casal. Atualmente, se faz presente em ocasiões especiais, como casamentos, formaturas, bailes de debutantes.

Cha, cha, cha – Segundo alguns autores, é uma dança derivada da rumba e ligada ao mambo. Seu nome provém do som produzido pelos dançarinos nas pistas de dança. Nas músicas há um predomínio de instrumentos de sopro.