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Avaliação da capacidade funcional de indivíduos institucionalizados com acidente vascular encefálico

CRISTIANO ANDRADE QUINTÃO COELHO ROCHA

Introdução

A rápida mudança do perfil demográfico e epidemiológico brasileiro suscita a necessidade de estudos sobre a saúde publica da população idosa.

A população de idosos tem representado um crescimento significativo em relação às demais faixas etárias. A cada ano, a quantidade de indivíduos acima de 60 anos cresce cerca de 3,4%. Segundo o IBGE (2000), a expectativa de vida no Brasil vem aumentando rapidamente, tanto para homens quanto para mulheres. Embora o aumento seja para ambos, verifica-se que há um acréscimo para a população feminina em relação à masculina.

Projeta-se, para o ano de 2025, que a idade superior do brasileiro atinja 75,3 anos. De acordo com esta estimativa, o Brasil passará do 16º lugar (1950) para o 6º na relação de países com população de idosos, que atualmente, em números, representa 14 milhões, estimando para 2020 uma margem de 31 milhões (IBGE, 2001).

O envelhecimento não é simplesmente o passar do tempo, mas as manifestações de eventos biológicos que ocorrem ao longo da vida. Tem sido definido como uma perda progressiva das capacidades fisiológicas, culminando fatalmente com a morte (ROBERGS & ROBERTS, 2002).

O processo de envelhecimento varia bastante entre as pessoas e é influenciado tanto pelo estilo de vida quanto por fatores genéticos (NIEMAN, 1999).

Viver até os 80 anos de idade, nas últimas décadas, já não é algo surpreendente, afinal um dos grandes êxitos do século XX foi o aumento da longevidade (PESSINI, 1999). Nesse contexto, o processo de envelhecer deixou de ser um fenômeno exclusivo dos países desenvolvidos e tornou-se comum também aos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Em se tratando da avaliação de idosos que estejam restritos ao ambiente doméstico, o mais indicado é um instrumento que verifique o desempenho na realização das atividades de vida diárias (AVDs). Isso porque essas são atividades de autocuidado que permitem ao idoso responder por si no espaço de seu domicílio. A dificuldade ou incapacidade na realização dessas tarefas representa risco elevado para a perda da independência funcional (PARVARANI & NERI, 2000).

Embora a grande maioria dos idosos seja portadora de, pelo menos, uma doença crônica, nem todos ficam limitados por ela. Muitos levam uma vida perfeitamente normal, com suas enfermidades, quando controladas (TAVARES & ANJOS, 1999). Na verdade, o que mais importa nesta etapa da vida é a autonomia, ou seja, a capacidade de determinar e executar seus próprios desígnios.

Atualmente, embora haja um número elevado de pessoas idosas que preservam sua capacidade funcional, há também um número expressivo de indivíduos portadores de doenças crônico-degenerativas não transmissíveis, os quais apresentam, paralelamente, acentuado declínio de suas funções, o que os torna dependentes (SANCHEZ, 2000).

A incapacidade funcional do idoso manifesta-se habitualmente pela perda da capacidade para desempenhar com independência as atividades diárias (AVDs), tanto básicas (ABVDs) como instrumentais (AIVDs). As ABVDs são atividades essenciais para o autocuidado; as AIVDs são atividades mais complexas, necessárias para adaptação independente ao meio ambiente (TAVARES & ANJOS, 1999). A dependência traduz-se por uma ajuda indispensável para a realização dos atos elementares da vida. Não é apenas a incapacidade que cria a dependência, mas também o somatório da incapacidade com necessidade.

A capacidade funcional, especialmente a dimensão motora,é um dos importantes marcadores de um envelhecimento bem-sucedido e da qualidade de vida dos idosos (RAMOS, 2003). A perda dessa capacidade está associada à predição de fragilidade, trazendo complicações ao longo do tempo, e gerando cuidados de longa permanência e alto custo (CORDEIRO et al., 2002).

Tem-se constatado que é muito mais fácil evitar mortes que evitar o desenvolvimento de incapacidades associadas ao envelhecimento (SILVESTRE & COSTA, 2003). A cada ano, cerca de 10% da população adulta, a partir dos 75 anos, perde a independência em uma ou mais atividades básicas da vida diária, tais como: banhar-se, vestir-se, alimentar-se e higiene pessoal (SANTOS & SALMELA, 2001).

Quando os idosos apresentam problemas médicos, funcionais e psicossociais mais graves, a ponto de impedi-los de levar uma vida independente, eles são encaminhados às instituições (SOUZA & IGLESIAS, 2002).

Se as instituições para idosos, conhecidas como asilos, destinavam-se à velhice desvalida, hoje, na sociedade marcada pelo envelhecimento, passam a ter uma nova missão: cuidar de idosos necessitados de uma assistência multiprofissional, em face das perdas funcionais que tornaram problemática a vida a sós ou com a família. Com o crescimento dessa população idosa e dependente de cuidados especiais, as instituições destinadas a prestar assistência a essa população tornam-se cada vez mais necessárias. A busca por novos modelos institucionais que propiciem um ambiente e cuidados especiais específicos, e que preservem e promovam os direitos fundamentais do idoso como ser humano, deve ser incentivada.

Essa busca muitas vezes proporciona a aproximação entre a comunidade e a universidade e vice-versa (PEREIRA, 2005).
Os idosos institucionalizados apresentam um perfil diferenciado, grande nível de sedentarismo, carência afetiva, perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais e ausência de familiares para ajudar no autocuidado.

Além desses fenômenos, os idosos trazem consigo alterações que são próprias do processo de senescência, e como agravante desse quadro se observa ainda o frequente aparecimento de polipatologias, muito especialmente o acidente vascular cerebral (AVC). Essas circunstâncias fazem os idosos requererem não só dos profissionais de saúde, mas também da família, a utilização de conhecimentos e de habilidades para prevenir ou minimizar os efeitos secundários graves, de ordem física e/ou psicossocial, que advêm dessas patologias (LAVINSKY, 2004).

O acidente vascular cerebral é a principal causa de incapacidade entre os idosos e a redução do grau de dependência é o objetivo central dos programas de reabilitação geriátrica. De acordo com o grau do AVC, ou seja, da extensão e localização da área do cérebro atingida, ele pode fazer com que as pessoas fiquem totalmente dependentes de terceiros, sem condições, às vezes, de sair da cama, ou pode ser tão discreto a ponto de não deixar nenhuma sequela ou deixar uma leve perda da força na mão.
A população com AVC tem sido caracterizada na literatura como sendo mais frequente no gênero masculino e na faixa etária de 60 a 74 anos em média (PETRILLI et al., 2002).

O acidente vascular cerebral define-se como um déficit neurológico súbito motivado por isquemia ou hemorragia no sistema nervoso central. Vamos nos concentrar mais no AVC isquêmico, o qual contribui para cerca de 75% de todos os casos. Sua incidência é maior em pessoas idosos e este é causado por uma oclusão vascular localizada, levando à interrupção do fornecimento de oxigênio e glicose ao tecido cerebral, afetando subsequentemente os processos metabólicos do território envolvido (EUSI, 2003).

Nos Estados Unidos, a Associação Americana do AVC calcula que o impacto econômico do acidente vascular cerebral ultrapasse os 56 bilhões de dólares, em 2005, considerando custos diretos e indiretos (HAUSSEN, 2005).

No Brasil, a situação também é grave: dados do Ministério da Saúde revelam que, em 2002, 87.338 indivíduos morreram de comprometimento vascular cerebral, ao passo que o infarto provocou 61.477 óbitos. A estatísticas também mostram que os acidentes vasculares são a principal causa de morte no país, respondendo por cerca de 30% dos óbitos brasileiros: a cada três mortes por eventos vasculares, duas são por acidente vascular cerebral e uma por infarto do miocárdio. As doenças do aparelho circulatório também respondem por mais de 10% das internações do Sistema Único de Saúde.

O AVC pode ser causado pela hemorragia dentro da massa cerebral, tendo como ponto de ruptura um vaso sanguíneo, outras vezes ele é causado pelo bloqueio decorrente do espessamento da parede interna de uma artéria que irriga o cérebro, ou por um coágulo sanguíneo que se formou no interior do coração, deslocando-se do seu ponto de origem e “caminhando” até o cérebro (ZINNI, 2004).

No primeiro caso, a lesão é provocada pela hemorragia. A hemorragia no interior do cérebro significa que a ruptura de algum vaso sanguíneo provocou o vazamento de sangue em meio às células cerebrais, causando destruição local, sendo chamado dessa forma de AVC hemorrágico.

No segundo caso, temos um coágulo que se desloca, chamado êmbolo: instala-se o AVC quando o êmbolo ocupa uma posição em que efetivamente interrompe a irrigação sanguínea de parte do cérebro. O bloqueio da irrigação sanguínea, que resulta do espessamento progressivo da parede de uma artéria de importância vital, ou da migração de um coágulo ou êmbolo, recebe o nome de trombose cerebral ou AVC isquêmico. Entre as áreas que podem vir a ser afetadas, indicamos: os músculos (hemiplegia, hemiparesia e fraqueza da musculatura facial levando a dificuldade de mastigar, deglutir ou falar); sensibilidade (perda da sensibilidade no lado afetado ou perda da consciência, noção corporal, significando que o indivíduo não é capaz, por exemplo, de reconhecer a metade afetada do seu corpo, e pode não ser capaz de identificar objetos com o seu tato); visão (o idoso tem dificuldades para enxergar, com uma metade de cada olho); fala (pode perder a capacidade de falar ou falar com clareza); emotividade (apresentam distúrbios emocionais, por isso choram, deprimem-se e apresentam perturbação emocional com grande facilidade); incontinência dos esfíncteres e prisão de ventre (a perda do tônus muscular e da sensibilidade faz com que o idoso não tenha mais controle de suas ações) (ZINNI, 2004).

Tão logo o paciente esteja ciente de sua situação e da extensão de sua deficiência, ele é envolvido por muitas emoções diferentes. O fisioterapeuta irá ajudá-lo a entender o que lhe aconteceu e a responder eficientemente à medida que o paciente tente se adaptar.

A reabilitação após o AVC significa ajudar o paciente a usar plenamente toda sua capacidade, e reassumir sua vida anterior adaptando-se a sua atual situação.

A fisioterapia preventiva e terapêutica em indivíduos com AVC assume papel cada vez mais importante. Esse quadro de perda da função, sem intervenções adequadas e em tempo hábil, pode gerar limitações em cascata, levando à perda da qualidade de vida.

Desse modo, é primordial a promoção e a atenção à saúde do idoso, que englobam medidas preventivas,
restauradoras e reabilitadoras.

Conhecer as características socioeconômicas e demográficas, as condições de saúde, assim como a capacidade funcional dos idosos, é fundamental para estabelecer estratégias capazes de minimizar os efeitos da doença e prevenir complicações, acrescentando a este grupo anos de vida com qualidade e dignidade (NUNES, 2005).

Materiais e métodos

Este trabalho foi realizado por meio de pesquisa em livros, revistas, periódicos e internet. Possui características de um estudo descritivo do tipo transversal voltado à avaliação da capacidade funcional de idosos com AVC em tratamento fisioterápico atendidos na Clínica-Escola no asilo – Leopoldina-MG – e de idosos com AVC no asilo – Cataguases-MG.

A coleta de dados dos grupos foi feita por meio de prontuários com diagnóstico de AVC, fornecidos por técnicos de enfermagem, responsáveis pelo setor de medicamentos dos idosos.

Os idosos em tratamento fisioterápico na Clínica-Escola tinham tempo superior a 3 meses de tratamento e uma frequência semanal de 2 a 3 vezes por semana. Entre os recursos terapêuticos utilizados podemos mencionar o trabalho de cinesioterapia passiva e assistida, exercícios proprioceptivos, exercícios de fortalecimento muscular, trabalho de marcha, Kabat, alongamentos, relaxamentos, exercícios de dissociação de tronco-quadril, rolagem no leito, entre outros.

Para avaliação da capacidade funcional (CF), existe um número relativamente grande de escalas e diversidade entre elas. Os objetivos das escalas de maneira geral são: verificar a eficácia da assistência à pessoa com incapacidade funcional; determinar a prevalência ou incidência de incapacidade funcional; e determinar grupos de risco. Algumas escalas avaliam apenas a independência dos indivíduos em seis atividades da vida diária: a escala de Lawton e Brody (1969), além da capacidade funcional das AVDs, avalia as atividades instrumentais diárias (AIVDs). O segundo instrumento é o Older American Research and Services (OARS), que é distinto do primeiro, pois as AVDs no OARS são partes de um questionário multidimensional, amplamente utilizado no Brasil (NUNES, 2005).

Utilizou-se para avaliação da capacidade funcional uma escala estruturada, uma adaptação da escala de autopercepção do desempenho de atividade de vida diária, desenvolvida por Andreotti e Okuma (1999), que se refere à medida subjetiva da capacidade funcional, mostrando-se de fácil aplicação e compreensão, sendo útil para se conhecer o nível funcional e verificar resultados de programas de exercício e/ou de tratamentos da capacidade funcional de idosos. O entrevistado responde a cada questão e o terapeuta anota a letra correspondente à atividade (indivíduos que declararam dificuldade de responder sozinhos foram auxiliados pelo profissional de saúde presente.

Em ambos os asilos foi utilizada a mesma escala para a avaliação da capacidade funcional, porém os asilados que recebiam tratamento fisioterápico responderam a uma questão a mais, representada pela letra (F), mencionando: atividade que não realizava antes do tratamento fisioterápico e agora realiza sozinho com um pouco de dificuldade (D).

A escala utilizada é constituída de 14 itens com várias atividades realizadas diariamente. As letras A, B, C, D, E, F representam o grau de dificuldade para realizar as atividades.

(A) Não consigo realizar esta atividade.
(B) Realizo esta atividade só com ajuda de outra pessoa.
(C) Realizo esta atividade sozinho, mas com muita dificuldade.
(D) Realizo esta atividade sozinho com um pouco de dificuldade.
(E) Realizo esta atividade sozinho e com facilidade.
(F) Não realizava esta atividade antes da fisioterapia, agora realiza sozinho com um pouco de dificuldade.

Resultados:

Participaram deste estudo 14 indivíduos que sofreram acidente vascular cerebral com tempo superior a um ano, de ambos os sexos, sendo que 4 eram do gênero feminino e 10 do gênero masculino. A idade dos pacientes idosos variou de 57 a 84 anos, com média de 71 anos.

Foram selecionados 6 participantes asilados de Leopoldina, sendo 1 do gênero feminino e 5 do gênero masculino. A média de idade era um pouco maior neste grupo. Na instituição de Cataguases foram selecionados 8 idosos, sendo que 3 eram do gênero feminino e 5 do gênero masculino. Os resultados da presente pesquisa são apresentados em grupos distintos: avaliação da capacidade funcional dos idosos com AVC em atendimento fisioterápico; avaliação da capacidade funcional dos idosos com AVC sem atendimento fisioterápico (asilo – Cataguases-MG).

Em relação ao item (F), que são as atividades que não realizavam antes do tratamento fisioterápico e agora realizam sozinhos com um pouco de dificuldade, resposta esta correspondente à letra (D), podemos observar que 17% tiveram melhora nas seguintes atividades: vestir calça comprida, vestir blusa sem botões, levantar da cama, ir ao banheiro, andar em subidas, subir uma escada de 15-20 degraus e ficar muito tempo de pé, atividades estas que não eram realizadas por 41% dos pacientes.

Entre as atividades: calçar sapatos sem cadarços, deitar na cama/rolar no leito e sentar em uma cadeira sem braços houve melhora de 34%, atividades estas que não eram realizadas por 57%. As demais atividades não obtiveram nenhum resultado.

Estes ganhos funcionais foram conseguidos principalmente em atividades de dissociação de tronco, movimento este utilizado na maioria das atividades de vida diárias. Em membros inferiores observamos uma melhoria na realização de atividades de curta distância, como ir ao banheiro, e em atividades estáticas, como sentar em uma cadeira e deitar na cama.

Podemos observar, por meio dos dados da tabela acima, que apenas duas atividades de vida diárias (calçar sapatos sem cadarços e ir ao banheiro) poderiam ser realizadas sozinho e com facilidade por apenas uma  pessoa. Já no 1º grupo estudado foram observadas três atividades que poderiam ser realizadas sozinho e com facilidade (alimentar-se, deitar na cama e ir ao banheiro), sendo que o item “alimentação” representou 50%. Em relação às atividades: tomar banho, subir e descer uma escada de 15-20 degraus, a maioria não realizava sozinho ou dependia de outra pessoa, fato ocorrido também no 1º grupo estudado. Na atividade “ficar de pé por 30 minutos” observou-se que sete pessoas do grupo, ou 87,5%, não conseguiam realizar esta atividade e apenas uma realizava tal atividade sozinha com um pouco de dificuldade.

Discussão

A capacidade funcional é um dos grandes componentes da saúde da população em geral e idosa e vem emergindo como um componente-chave para a avaliação da saúde. Ela geralmente é dimensionada em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades (LIMA-COSTA, BARRETO & GIATTI, 2003).

Em relação à incidência de AVC, este foi mais frequente no gênero masculino (80%) em relação aos dois grupos avaliados, comprovando os dados encontrados na literatura.

Apesar de ocorrer uma maior recuperação motora e funcional nos primeiros três meses após o AVC (DUNCAN, 2003), há evidências de que o exercício terapêutico é efetivo mesmo em casos crônicos, dados estes encontrados neste trabalho, já que os indivíduos avaliados tiveram AVC há mais de um ano.

Petrilli et al., em 2002, evidenciaram em pacientes subagudos que 87,1% destes tinham recuperado a habilidade de marcha após 64 dias de reabilitação. Dean constatou em pacientes com AVC crônicos (1,3 ano em média) que o grupo experimental obteve um desempenho significativamente melhor que o do grupo controle nos testes de caminhada de 6 minutos, na velocidade na marcha, no step e no teste de “levantar e andar”. Neste estudo os exercícios foram realizados por quatro semanas, supervisionados por fisioterapeutas, e essa melhora foi mantida por dois meses após cessado o treinamento (DEAN et al., 2000).

Conclusão

Este estudo demonstra que os indivíduos atendidos na Clínica-Escola de Fisioterapia – UNIPAC –, apesar de a amostra ter sido pequena, tiveram uma melhora em relação à capacidade funcional para realizarem algumas tarefas básicas do cotidiano, principalmente em algumas atividades básicas tais como calçar sapatos sem cadarços, deitar na cama/rolar no leito e sentar em uma cadeira sem braços.

Os idosos avaliados no asilo de Cataguases apresentaram, na sua maioria, características gerais semelhantes às dos idosos da Clínica-Escola de Leopoldina antes do tratamento fisioterápico, porém neste último constatamos que, após o tratamento, o grupo apresentou na atual conjuntura um perfil de maior independência nas AVDs do que o outro grupo, uma vez que o item D obteve um maior porcentual de respostas.

Por fim, constatamos que, na impossibilidade de se subtrair anos de idade, o tratamento fisioterápico em idosos portadores de acidente vascular cerebral, apesar de os ganhos serem mais difíceis e mais demorados em relação a outros tipos de afecções, melhora a capacidade funcional para realizarem suas AVDs, pois o grande desafio é que o tempo que essa população idosa ainda tem para viver possa ser aproveitado de uma maneira saudável, menos dependente e até mesmo produtiva para a sociedade.

A reabilitação gerontológica visa à preservação, manutenção e melhoria das funções, e ao adiamento da instalação de incapacidades, por intermédio de medidas preventivas e reabilitadoras, tendo como objetivo diminuir o comprometimento imposto pela diminuição da capacidade funcional, promovendo um modo de vida mais saudável e adaptando o indivíduo de forma a propiciar uma melhor qualidade de vida.

Estes estudos sugerem que a capacidade funcional deste grupo, com o tratamento fisioterápico, sofreu alterações positivas, que podem refletir no melhor desempenho das AVDs, e nos aspectos psicológicos, com a melhoria da autoimagem e da autoestima, tornando o indivíduo mais útil e menos dependente no contexto social em que vive.

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