Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

A Trajetória de Uma Ação Voltada ao Cidadão Idoso

texto da Gerência de Estudos e Programas da Terceira Idade do SESC-SP

No ano de 1963, o SESC-SP iniciou uma série de ações com um grupo de aposentados do comércio e da área de prestação de serviços, que frequentava o Centro Social “Mário França Azevedo” - hoje SESC Carmo - no centro da cidade de São Paulo.

A proposta pretendia naquele momento, principalmente, incentivar a convivência para prevenir e evitar a marginalização dessas pessoas.

Inicialmente foram formados grupos de convivência, onde se ofereciam atividades de lazer e também orientação para auto-organização a fim de que os próprios idosos sugerissem parte da programação, cabendo ao SESC-SP o suporte estrutural e técnico para a realização dessas atividades.

Essa ação se estendeu a grupos de aposentados também de outras categorias profissionais e, além da capital, chegou a cidades onde o SESC-SP se estabeleceu no interior do Estado, fato que ampliou rapidamente o público e as demandas. Logo foram criadas as Escolas Abertas da Terceira Idade, uma proposta socioeducativa de atualização de conhecimentos e abertura de novas perspectivas aos idosos.

Uma outra proposta foi introduzida, desta vez a partir da prática de atividades físico-esportivas, ainda no final dos anos 1970, sendo amplamente desenvolvida nos anos 1980. Nos 20 anos seguintes o SESC-SP se fez presente em todo o Estado – interior e capital –, e o Trabalho Social com Idosos, nome como hoje se identifica este Programa, está em 29 Centros Culturais e Desportivos da instituição.

Acompanhando as mudanças e demandas da população considerada idosa – idade igual ou acima de 60 anos, de acordo com o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003. Título I - Disposições Preliminares, Artigo 1º) o SESC-SP, em 47 anos de trabalho voltado ao cidadão idoso, aprendeu que as velhices são muitas, que os interesses são inúmeros e que há sempre uma possibilidade de surpreender e ser surpreendido por este público.

A partir da metade do século passado o progressivo envelhecimento da população, já constatado à época nos países desenvolvidos, foi sentido, também, nos países em desenvolvimento.

O crescimento do número de idosos no mundo forçou a reflexão sobre as condições de vida e de atendimento a essa população. A I Assembleia Mundial sobre Envelhecimento (Viena, 1982) voltou-se principalmente aos países desenvolvidos, preocupando-se em enfrentar as questões da velhice a partir de áreas ligadas basicamente à saúde, às relações familiares, ao bem-estar social e questões previdenciárias. A II Assembléia Mundial sobre Envelhecimento (Madri, 2002) ampliou o olhar para os países em desenvolvimento, com a preocupação focada sobre a garantia da dignidade e segurança, com vistas à continuidade da participação do idoso como cidadão de direitos.

No Brasil, as pressões da sociedade civil, dos grupos de idosos organizados, de estudiosos da Gerontologia e Geriatria, entre outros segmentos, desdobraramse em avanços nas políticas públicas. A Constituição de 1988, a Lei Orgânica da Assistência Social de 1993 e a Política Nacional do Idoso, de 1994, gradativamente identificaram e qualificaram as questões do envelhecimento com a criação de normas para os direitos sociais e garantias de participação. Em 2003 foi aprovado o Estatuto do Idoso, que significou um grande avanço na proteção e promoção da população idosa.

O trabalho do SESC-SP, ao longo destes anos, acompanhou as mudanças e a participação de seus frequentadores nos grandes movimentos reivindicatórios. Um exemplo foi o Encontro Estadual em São José do Rio Preto, em 1985, que resultou na elaboração da Carta dos Direitos dos Idosos, encaminhada como sugestão para a constituição de 1988, reivindicações que foram posteriormente contempladas na Lei 8.842 de 4 de janeiro de 1994 – a Política Nacional do Idoso.

Uma das formas que a instituição utilizou para ampliar as discussões relativas ao processo do envelhecimento foi a criação da revista A Terceira Idade – Estudos sobre Envelhecimento, publicação quadrimestral, técnico-científica, que traz artigos de diferentes áreas, escritos por estudiosos, acadêmicos e profissionais que atuam junto à população idosa.

Outra atuação se dá pela organização de Seminários, Congressos e Encontros, cujos temas são fruto da experiência de trabalho realizada nos Centros Culturais e Desportivos, junto aos idosos (veja no quadro ao lado).

Há ainda a produção de vídeos e realização de parcerias com instituições voltadas à pesquisa e estudos sobre envelhecimento, que resultaram em publicações como “Velhices - Reflexões Contemporâneas” (PUC-SP e SESC SP, 2006) e “Idosos no Brasil – Vivências, Desafios e Expectativas” na terceira idade (Fundação Perseu Abramo, SESC Departamento Nacional e SESC-SP, 2007).

A ação mais significativa, baseada na educação permanente, com propostas eminentemente processuais é a que se dá diretamente com o público idoso, por meio das atividades socioculturais realizadas em Centros Culturais e Desportivos do SESC-SP . É nesse momento que o trabalho se concretiza e estabelece as reais conexões com os idosos.

Com o crescimento da frequência das pessoas da terceira idade em todas as cidades onde o SESC-SP se estabeleceu, o Trabalho Social com Idosos foi se organizando cada vez mais, e também ampliou as propostas, possibilitando que as atividades se adequassem às características do espaço e dos interesses da comunidade.

Os idosos ao longo destes quase 50 anos vivenciaram experiências diversas, em contato com diferentes linguagens artísticas; participaram de discussões sobre temas ligados à saúde, meio ambiente, política, arte, filosofia, sociologia, entre tantos outros. Foram plateia e experimentaram ser também atores, cantores, dançarinos. Viveram conflitos entre seus pares e na convivência com outras faixas etárias; na busca de solução também puderam aprender e ensinar.

Adquiriram novos conhecimentos, apropriaram-se das novas tecnologias. Aprenderam a respeitar os limites do corpo e a conhecer melhor o próprio corpo. Mais que isso, descobriram-se capazes de ampliar seus horizontes e protagonistas de sua história.

Muitos ampliaram suas redes sociais, frequentando não só o SESC-SP , mas descobrindo e estabelecendo novos grupos também em outras instituições,públicas ou privadas.

Acompanhando as discussões mundiais, o SESC-SP propõe que, para 2010, as atividades comemorativas ao Dia Internacional do Idoso – 1º de outubro – quando se comemora, também, o Dia Nacional do Idoso (Lei nº 11.433, de 28/12/2006) baseiem-se no documento Guia Global: Cidade Amiga do Idoso, da Organização Mundial da Saúde, que, a partir de uma pesquisa em 33 cidades do mundo, ouvindo idosos, levantou os pontos considerados fundamentais para a manutenção da qualidade de vida dessa população: moradia, transporte, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação e informação, apoio comunitário e serviços de saúde, espaços abertos e públicos, transportes.

O maior mérito da proposta é o fato de ter partido das observações feitas por idosos sobre suas cidades de moradia, ou seja, o espaço onde suas vidas acontecem,onde circulam em busca do atendimento às necessidades básicas do dia-a-dia, do convívio social, e que é o mesmo espaço onde podem encontrar obstáculos que impeçam sua circulação, que podem ser agentes de seu isolamento.

A ideia de partir do particular para projetar o coletivo permitiu uma aproximação das necessidades do cotidiano e reforçou que é preciso ouvir a população quando se pensa em política pública.

Alguns pontos levantados pelo documento da OMS farão parte das discussões dos Cadernos que ora apresentamos, e com o qual esperamos contribuir para a reflexão sobre a construção de cidades mais adequadas ao acolhimento dos cidadãos que envelhecem e para que entendam que, mais do que viver nelas, devem atuar como cidadãos de direitos e de deveres. Um ponto de partida importante, porém, é saber ouvir suas reivindicações.

Seminários, Encontros e Congressos

- O Idoso na Sociedade Brasileira (junho/76)

- Atividade Física para a 3ª Idade (maio/83)

- Meios de Comunicação e 3ª Idade (junho/92)

- O Brasil e os Idosos - Diagnóstico e Perspectivas (dezembro/96)

- Congresso Internacional de Co-educação de Gerações (outubro/03)

- Velhice Fragilizada (novembro/06)

- Idoso Protagonista (novembro/2008)

- Envelhecimento Masculino (junho/2009)

- Em 2010 será realizado o Seminário Encontro de Gerações, de 3 a 5 de novembro, no SESC Pompeia, na cidade de São Paulo.

A Gerência de Estudos e Programas da Terceira Idade do SESC-SP é responsável pelos programas “Trabalho Social com Idosos” e “SESC Gerações”.