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Vídeo, TV, Videobrasil

SOLANGE O. FARKAS

Em 1983, o vídeo era um suporte novo e desafiador para artistas de todo o mundo, fascinados com as ainda inexploradas possibilidades da imagem eletrônica e de aparatos de captação e edição acessíveis. O Videobrasil nasceu nesse ano, com caráter pioneiro: foi um dos primeiros festivais no Brasil a abrir espaço ao então novo meio. Entre vídeos, performances e instalações, o Festival captou um tom geral de crítica ao monopólio da TV, terreno até ali fechado a essa nova arte. O vídeo – que ora se aproximava da videoarte, ora apontava na direção do cinema, ora tentava reinventar a sintaxe televisiva – ainda buscava um canal de exibição coerente com o que se anunciava como uma nova linguagem.

Ao longo das edições seguintes, o Videobrasil se definiria como ponto de confluência, plataforma de lançamento e vitrine para uma nova geração de criadores brasileiros. Aglutinados em torno de produtoras independentes de vídeo, como Olhar Eletrônico e TVDO – das quais sairiam nomes como Fernando Meirelles e Marcelo Tas –, sua linguagem inovadora começava a conquistar público e a articular uma aproximação com a televisão. Esse movimento se fez presente no Festival para além do âmbito da mostra competitiva, na forma de uma cobertura televisiva própria, desenvolvida especialmente pela TV Abril – então um dos polos de absorção das ideias da nova geração do vídeo.

Em 1988, o Festival abre sua programação a convidados internacionais e amplia o projeto de uma cobertura televisiva com o inovador Videojornal, realizado pela TV Cultura. Pela primeira vez, uma emissora aberta cobre o Videobrasil ao vivo, com inserções diárias na programação, e exibe os trabalhos premiados em sua grade.

Nos anos 1990, o Festival assume a concepção e realização – sempre em parceria com novos criadores e produtoras – de making ofs, boletins, entrevistas e retrospectivas em vídeo, que se incorporam à programação, ainda sob o nome Videojornal. O caráter de cobertura prevalece em formatos variados, como um miniestúdio montado no espaço do Festival para colher impressões de artistas e público.

Nos anos 2000, o Festival aproxima-se do campo das artes visuais, por meio de edições dedicadas a linguagens como performance e cinema, com segmentos expositivos importantes e convidados como o cineasta britânico Peter Greenaway e a performer norte-americana Coco Fusco. A intensificação desse diálogo está em sintonia com a inserção crescente do vídeo e da imagem em movimento no circuito da arte contemporânea, em um contexto que favorece as contaminações entre as linguagens artísticas.

Nesse período, a produção de registros do Festival, que prossegue, aprofunda seu compromisso com o experimentalismo, gerando formatos inovadores como o RG, série de miniperfis de artistas, participantes e convidados.

Plataforma para a arte

O 17o Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC – Videobrasil no SESCTV, que acontece a partir de setembro, marca uma mudança importante: a abertura da mostra competitiva Panoramas do Sul a todas as linguagens artísticas. O movimento ajusta o Festival à natureza das práticas artísticas contemporâneas, numa tentativa de confrontar a enorme produção de representações que constitui o território da visualidade no mundo de hoje.

Alinhada a esse norte, a programação Videobrasil na TV configura-se não mais como um registro, mas como plataforma adicional para a fruição dos conteúdos do Festival, ao lado do Sesc Belenzinho, do Sesc Pompeia e da Pinacoteca do Estado, onde acontecem as exposições Panoramas do Sul e Olafur Eliasson – Seu corpo da obra. 

A série de programas semanais, que se estende de setembro de 2011 a janeiro de 2012, afasta-se deliberadamente do conceito de cobertura para explorar as possibilidades de fruição da arte contemporânea na TV. Conteúdos exclusivos, concebidos e formatados para explorar as possibilidades específicas do meio televisivo, somam-se a um ambiente visual que adapta para a TV a direção de arte do 17o Festival, sublinhando a coesão conceitual entre suas várias plataformas.

A proposta amplia o espectro do Festival, que passa a articular-se, também, a partir da percepção da TV como espaço de criação, reflexão e construção de sentidos em torno da produção artística contemporânea.

Um sensível salto qualitativo em relação às produções televisivas anteriores do Festival, a programação Videobrasil na TV retoma e intensifica as aproximações criativas do evento com as possibilidades da televisão, para ampliar seu potencial de formação e difusão de conhecimento e ajudar a promover diálogos entre artistas, curadores, críticos e público.

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Solange O. Farkas é curadora-geral do 17o Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC – Videobrasil.

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