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As Artes Visuais e as mídias áudio visuais

Hoje em dia não se pode dizer que existem meios visuais, porque todos os meios são mistos. Esta afirmação foi feita por W.J.T. Mitchell em seu artigo No existen medios visuales, publicado no livro organizado por José Luis Brea, Estudios Visuales: La epistemología de la visualidad en la era de la globalización (2005 p.17 a 25) – o melhor livro sobre Estudos Visuais ou Cultura Visual na Espanha. Só se pode falar de especificidades dos meios se os compararmos a receitas de cozinha. Há vários componentes, o que é especifico é a proporção dos ingredientes, a ordem em que são mesclados, a temperatura e o tempo em que são cozinhados. Às vezes, o ingrediente que se destaca dá nome ao processo: música, teatro, artes visuais, dança etc. O que fazem os VJ’s? música ou artes visuais? O videoclipe é arte visual ou teatro ou música?

As interpretações multimidiáticas do visual começaram cedo. Mitchell lembra que Decartes estabeleceu a comparação do ver e do tato, considerando a visão uma forma mais sutil e prolongada do tato. Para MacLuhan, a TV é um meio tátil. Gombrich negou o “olho inocente”; Berkeley também estabeleceu a teoria da visão como a inter-relação de impressões táteis e ópticas, criando a linguagem visual, o que foi comprovado por Oliver Sacks em seus estudos com cegos que recuperaram a visão.

O conceito de olhos modelados esboçado por Martin Jay, a sociedade do espetáculo de Debord, os regimes escópicos foucaultianos, a vigilância de Virílio, o simulacro de Baudrillard, a Cyber Cultura, a Semiótica, os Estudos Visuais e as Teorias da Cognição na perspectiva histórico-cultural nos levam a pensar que as artes se ampliam em colaboração com uma gama enorme de meios audiovisuais que enriquecem nossos sentidos hoje.

O regime colaborativo ou participativo das artes vem criando problemas nesta sociedade categorizadora baseada em editais para o financiamento da Cultura. Um dos grupos mais inventivos, produtivos e de mais alta qualidade estética do Brasil é o dos Irmãos Guimarães, que vivem em Brasília, mas atuam em todo o sul do país. Seus espetáculos/exposições são teatro, música, artes visuais, poesia. Mas, se entram em um edital de teatro, são rechaçados por serem artistas visuais e vice-versa. O grupo chileno Casagrande, que vem entusiasmando a Europa com seus bombardeios de poemas em cidades que foram bombardeadas pelas guerras, como Guernica, Varsóvia, Londres etc, apesar de estarem famosos internacionalmente, também sofrem do mesmo problema, pois são músicos, poetas e artistas visuais e seus produtos, híbridos. As artes se modificam, se ampliam e alguns críticos e gestores demoram em decodificar e aceitar as mudanças.

A inter-relação das artes ditas visuais com outras mídias como a TV, a web, o mundo virtual, os jornais, as revistas, o rádio, as performances e os procedimentos de remixagem, citações, hibridizações, interações ecológicas, computações ubíquas, simuladores de ambientes, cartografias, raqueamento etc. criam novas formas de mediação entre as tradicionais artes plásticas (desenho, pintura, escultura, gravura, arquitetura) em um mundo plural de apresentações ampliadas da realidade e da imaginação virtual.
As teorias da arte também ampliam o conceito de artes visuais e de subjetividade, o alvo incontestável da arte mesmo quando tem por objetivo desenvolver a cognição. Fala-se de teorias do fluxo de visualização, de rizoma, de radicante apontando para a proliferação, mobilização, criação de copresença, heterogeneidade e dinâmica da arte e da ação humana.

As formas de indexação já não dão conta da tarefa classificatória em relação às produções artísticas.

A expansão dos meios audiovisuais não só amplificaram as produções chamadas visuais, mas também sua recepção. As possibilidades de mediação entre as artes visuais e o público se ampliaram de tal maneira que os termos espectador, observador e plateia já não servem às práticas de interatividade e de diálogo propostos pela mediação cultural. Tenta-se usar termos como interator, actante ou interactante para dar a ideia de aprendizagem participativa ou interação material que a mediação cultural estimula. Ainda não encontrei um termo que me satisfizesse e não fosse pedante.

Dos meios audiovisuais, o mais democrático do ponto de vista da mediação cultural é a TV. Com o barateamento dos aparelhos, a TV aberta chega à casa de todos, do pobre ao rico; do universitário ao analfabeto. A diferença está na interpretação. Aqueles educados criticamente pelas escolas ou pela vida potencializam o conhecimento e detectam as armadilhas culturais e capitalistas assim como as agendas escondidas, os discursos de convencimento. Por isso é tão importante que a educação formal ou não formal procure desenvolver a capacidade de todos para ler as imagem e decodificar as associações entre elas e os muitos meios audiovisuais.

Os meios não dependem apenas dos sentidos, mas são operações simbólicas e cognitivas que definitivamente associam arte ao conhecimento, tema da atual Bienal de Veneza. Precisamos de mais arte na TV para ampliar o conhecimento das novas gerações.