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ARTES VISUAIS postado em 05/12/2023

Crítica, arte e política

Mário Pedrosa no Centre national d'art contemporain (CNAC), Paris, 1975. Foto: Alécio de Andrade
Mário Pedrosa no Centre national d'art contemporain (CNAC), Paris, 1975. Foto: Alécio de Andrade

      


Em Mário Pedrosa: revolução sensível, ensaios, depoimentos e imagens apresentam as muitas dimensões de um personagem incontornável

 

Mário Pedrosa (1900 - 1981) foi um homem de muitas facetas: como militante político, ferrenho defensor da democracia e dos interesses da classe trabalhadora; como intelectual, considerado imprescindível na constituição e no aprofundamento da crítica de arte no Brasil; e também como vanguardista arrojado, interessado no ser humano e confiante no poder transformador da arte e da consciência política como motores da revolução social. 

Nascido no alvorecer do século, Pedrosa se filiou em 1925 ao Partido Comunista de São Paulo. Dois anos depois, partiu rumo à Rússia, que então comemorava uma década da revolução bolchevique. Cursou Sociologia e Filosofia em Berlim e se aproximou do trotskismo e da oposição ao nazismo. Em 1929, ao retornar ao Brasil, foi expulso do Partido Comunista por sua oposição a Stalin e combateu os Integralistas liderando a criação da Frente Única Antifascista. Enfrentou tanto a ditadura do Estado Novo (1937-1945) quanto a civil-militar (1964-1985). Junto à militância política, aflora sua verve de crítico de arte e, posteriormente, gestor cultural. Já no fim de sua vida, Pedrosa participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). 

A trajetória ímpar de Mário Pedrosa – marcada pelos ofícios de militante político, crítico de arte e gestor cultural, assim como pelo trânsito por temas como psicologia, arquitetura, experiências de vanguarda, arte indígena e, acima de tudo, liberdade – é analisada em Mário Pedrosa: revolução sensível, livro publicado em parceria com a Fundação Perseu Abramo e organizado pelos historiadores Everaldo de Oliveira Andrade, Francisco Alambert e Marcelo Mari.

 

Marcelo Brodsky, “1968, el fuego de las ideas”, 2016. Fotografia presente na exposição Revolução Sensível

 

Os textos se dividem em seis partes. A primeira, “Política em tempos sombrios”, analisa sua militância e a resistência a duas ditaduras. Na segunda, “Questões de forma”, a crítica de arte de Pedrosa é posta em contexto e contraponto às perspectivas de sua época. A terceira e quarta partes, “Arte e instituição” e “Arte e política como projeto”, tratam das inúmeras iniciativas do crítico nas décadas de 1950 e 1960. A quinta, “Exposições Mário Pedrosa: revolução sensível e O que não é floresta é prisão”, traz uma seleção de imagens das mostras realizadas em sua homenagem. A coletânea se encerra com “Pedrosa em retratos: depoimentos, escritos e documentos”, um olhar abrangente sobre a vida e obra deste grande pensador sob o ponto de vista de pesquisadores, artistas e familiares.

 

Bate-papo na íntegra


Bate-papo com Marcelo Mari e Francisco Alambert. Mediação de Maria Elaine Andreoti 
 

 

trecho do livro

 

Fruto das comemorações pela efeméride do nascimento de Pedrosa (celebrado em 2020 por meio da exposição Revolução Sensível e do seminário Mário Pedrosa 120 anos), os ensaios, depoimentos e imagens reunidos em Mário Pedrosa: revolução sensível apresentam as muitas dimensões de um personagem incontornável. São 468 páginas por onde trafegam figuras da arte e da política, do Brasil e do mundo: de Trotsky e Rosa Luxemburgo a Salvador Allende e Luiz Inácio Lula da Silva, de André Breton e Portinari a Oiticica e Lygia Clark. E só por isso já valeria a leitura.

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