Sesc SP

postado em 24/01/2013

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Piriquito-rico
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Aves do Sesc Bertioga é uma ode à natureza e ao meio-ambiente

 

Localizado no litoral sul paulista, o Sesc Bertioga compreende uma área de quatro milhões e oitocentos mil metros quadrados de mata atlântica onde se veem várias formações características como manguezais, restingas, dunas e matas de encosta. Nele, grandes áreas verdes e alamedas arborizadas com espécies nativas e exóticas abrigam pássaros, pequenos mamíferos e uma enorme diversidade de insetos, que compõem um cenário contrastante com as ruas da cidade, em geral, pobres de verde e de biodiversidade.

Criada em 1948, a unidade oferece a seus usuários não somente uma completa estrutura de hospedagem, alimentação e lazer, como também uma intensa programação voltada ao meio-ambiente e ao paisagismo. O projeto Avifauna organiza uma série de atividades de preservação e conservação da natureza, por meio das quais os visitantes e hóspedes entram em contato direto com a fauna e a flora da região e aprendem sobre educação ambiental.

A reedição do livro Aves do Sesc Bertioga (Edições Sesc São Paulo) tem uma dupla missão: de um lado, divulgar as ações socioambientais do projeto Avifauna, o mais antigo da unidade; de outro, oferecer ao público-leitor um rico levantamento das aves presentes na região, reunindo informações sobre 113 espécies de pássaros e sua interação no ambiente local.

Fartamente ilustrado por belas fotografias de apurada qualidade técnica, o texto de abertura do livro é um precioso registro de cunho histórico. Em “Pequenas guerras de ocupação”, o leitor entra em contato com a história do antigo vilarejo chamado Brikioka. Segundo documentos históricos, as primeiras paliçadas erguidas por Diego Braga e seus filhos, datam de 1547. Foram eles os pioneiros colonizadores a se estabelecerem na região, a reboque da expedição de Martim Afonso, com o objetivo de impedir as incursões violentas dos índios tamoios, que desciam de Iperoig (atual Ubatuba), incomodados com a presença dos portugueses nas redondezas. Pelo vilarejo também passou no século XVI o célebre viajante alemão Hans Staden, que se envolveu na luta contra os invasores franceses. Em seu diário de expedição, ele deixou registrado: “A cinco milhas de São Vicente há um lugar denominado Brikioka, onde os inimigos selvagens primeiro chegam, para daí seguirem por entre uma ilha chamada Santo Maro e a terra firme. Para impedir este caminho aos índios, havia uns irmãos mamelucos, oriundos de pai português e mãe brasileira, todos cristãos e tão versados na língua dos cristãos como na dos selvagens”. O capítulo avança até os dias atuais, flagrando a cidade sendo alvo de ações de sustentabilidade e turismo responsável, propostas pelo Sesc.

O segundo texto introduz, então, um vasto catálogo das aves que habitam o Sesc Bertioga. Nas 112 páginas seguintes, o leitor será agraciado com um conjunto de textos e fotos de raro valor editorial. A apresentação em forma de catálogo facilita a consulta e a leitura, reunindo informações sobre as características de cada espécie, habitat, hábitos, alimentação, reprodução e a época e os locais onde as aves podem ser encontradas no Sesc. A descrição das espécies segue a nomenclatura científica, que utiliza o latim, e sua ordenação obedece à sequência taxonômica proposta pelo especialista Helmut Sick. Do livro de Sick, Ornitologia brasileira, foram retiradas também informações sobre medidas, pesos e alguns tipos de vocalização emitida pelas aves identificadas.

Enquanto os registros fotográficos enchem os olhos do leitor e o arrebatam para um mundo idílico onde a natureza é tão pródiga, os textos primam pela clareza e sensibilidade no tocante à preservação ambiental. Pode-se ler no catálogo, por exemplo, que o bacurau-de-asa-fina (também chamado de a-kú-kú ou bacurau-de-bando) é “essencialmente insetívoro, capturando suas presas em voo, utilizando sua visão para localizá-las. A ave apanha grande quantidade e diversidade de insetos, tornando-se bastante útil no controle de tais populações. No entanto, é prejudicada pelo uso indiscriminado de pesticidas”. Já sobre o habitat e os hábitos do irrê (maria-irré ou ainda mosqueteiro-irré), lê-se: “Vive em matas secundárias, podendo ser encontrado também em parques e áreas cultivadas. Geralmente é visto sozinho. Costuma eriçar as penas da cabeça e da garganta, dando a impressão de ser maior do que de fato é”.

Quando o deleite parece ter chegado ao fim, o leitor é contemplado por um capítulo especial, “Como observar e atrair aves”, no qual uma série de conselhos práticos lhe é transmitida de maneira dinâmica e envolvente. O item “Vamos atrair as aves” adverte: “Tenha sempre em mente que, uma vez criadas tais condições, você passa a ser responsável pela população de aves atraídas, e qualquer mudança brusca nos hábitos ou no ambiente criado pode trazer sérias consequências para elas, inclusive a morte de vários indivíduos. Portanto, situações como a interrupção do fornecimento de alimentos ou a falta de higiene devem ser evitadas”. O tópico seguinte ensina a criar um jardim com árvores frutíferas, flores e vegetação para as aves. “Ao fazer seu jardim, escolha espécies vegetais que floresçam e frutifiquem em diferentes estações, para que as aves tenham alimento disponível o ano todo”.

Na sequência, o leitor aprende a criar comedouros com frutas, sementes e água (“Quando não for possível manter um espelho d’água no seu jardim, coloque uma bacia ou bandeja suspensa, com no máximo cinco centímetros de profundidade, com bordas não muito lisas para evitar afogamentos, contendo água limpa para as aves beberem e se banharem. Elas adoram um banho!). Por fim, o capítulo ensina ainda a proporcionar às aves ninhos e abrigos: “O fornecimento de locais seguros para que as aves os utilizem como ninhos é um ótimo recurso para atraí-las. (...) Para as aves que constroem seu próprio ninho (bem-te-vis, bem-te-vizinhos, pardais, pombas, rolinhas etc.) pode-se também fornecer material para sua confecção como, por exemplo, barbantes de algodão, fios de lã, papel picado etc.”

Encerra o livro uma galeria de quarenta fotos de plantas que produzem flores ou frutos para atração das aves e um glossário de termos técnicos. Ao terminar a fruição de Aves do Sesc Bertioga (não se trata somente de uma “leitura”, em sentido convencional), compreende-se por que as aves exercem grande fascínio sobre os homens, desde o surgimento das primeiras civilizações. Já se tentou explicar o encantamento do ser humano por esses seres por meio de inúmeras razões: a beleza de suas cores, a agilidade com que voam, a natureza peculiar do seu canto... Esses e tantos outros motivos, certamente, o leitor há de encontrar, ao folhear as páginas deste livro especial, tão delicado como os personagens que ele se propõe a retratar.

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