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postado em 02/03/2017

Ensino e aprendizagem

Foto: Acervo Curumim | Sesc Santo Amaro
Foto: Acervo Curumim | Sesc Santo Amaro

      


Um novo conceito para a animação sociocultural e a necessidade de mudar o papel do educador são temas examinados por Victor J. Ventosa em Didática da participação: teoria, metodologia e prática

Por Margareth Brandini Park*

 

O conceito de animação sociocultural (ASC) possui meio século de existência e é revisitado nesta obra, tendo, entre outros motivos, o apelo diante da complexidade da sociedade atual, que sem dúvida alguma exige reflexões expandidas.

A velha trindade tese-antítese-síntese parece, aos olhos do autor, ficar mais adequada se redesenhada focalizando os seguintes conceitos: divergência, convergência e emergência; percurso este que almeja um equilíbrio instável calcado no exercício dialógico.

Os avanços da neurociência corroboram uma natureza social e colaborativa do indivíduo, a integração grupal como condição de humanidade e ratificam que o sujeito humano se constrói na alteridade. Tais aspectos compõem um diálogo que contempla obras clássicas das áreas da educação, sociologia, psicologia, com destaque para Paulo Freire, Edgar Morin, Deleuze e o instigante Ilya Prigogine, e evidentemente as do autor, que possui vasta experiência na temática proposta. Essas referências ofereceram suportes para os três pilares que sustentam, nos dizeres de Ventosa, um novo conceito para a animação sociocultural: a cultura da conversação em contraposição à do conflito; a emoção ante a hegemonia da razão; a moral de confiança recíproca ante uma ética imperativa, universal e abstrata.

O lastro forte da ASC permanece centrado nos conceitos de animus – entendido principalmente como mobilização – e anima – entendido como oferecer sentido ou significado. Poderíamos concebê-la como uma estratégia ou meio de intervenção que mobiliza um coletivo visando projetos socioculturais que gerem emancipação e empoderamento. Para focalizar a ASC como uma didática da participação, o autor sugere a necessidade de mudar o papel do educador.

Muitos capítulos desta obra poderão, de forma especial, inspirar educadores pela apresentação detalhada de sugestões voltadas às necessidades desafiantes dos profissionais que transitam pelo amplo universo das práticas educativas.

Tal caminho reflexivo aponta para uma neuroanimação que se beneficia, em sua prática, dos saberes decorrentes das novas descobertas sobre o funcionamento cerebral.

A fundamentação apresentada sobre as possibilidades dos trabalhos educativos serem realizados através de projetos demonstra, de forma inequívoca, a grande potência destes para o empoderamento dos indivíduos. Para o autor, ao assumi-los enquanto eixos organizadores de todo aprendizado, possibilita-se um enfoque sistêmico de todo o processo de ensino e aprendizagem.

 


*Margareth Brandini Park é coautora dos livros Educação não-formal: cenários da criação, Educação não-formal: contextos, percursos e sujeitos, Palavras-chave em educação não-formal e Programa Curumim: memórias, cotidiano e representações. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro. 

 

Veja também:

:: Trecho do livro

 

 

 

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